A presença da congregação das irmãs Catequistas Franciscanas no continente africano é fruto da disposição missionária da congregação em responder aos apelos que vêm dos clamores do povo que sofre, e da busca crescente de abertura da congregação às diferentes culturas e realidades.
A gestação desta teve inicio com a viagem de Dom Educardo Muaca, então arcebispo da arquidiocese de Luanda - Angola ao Brasil em 1978. Nesta viagem, Dom Muaca que buscava informações sobre institutos religiosos que pudessem enviar missionárias à Angola, recebeu recomendação de que provavelmente nossa congregação poderia responder a este apelo. Assim, em Maio de 1979 este Arcebispo “missionário, pastor e profeta”¹ escreveu ao Conselho Geral solicitando a presença das Irmãs Catequistas Franciscanas para a sua arquidiocese.
A partir dessa carta desencadeou-se na congregação um processo de reflexão sobre a possível abertura de uma frente missionaria em África, o que favoreceu ainda mais a disposição missionária de “alargar a tenda”. O capítulo Geral, realizado em setembro de 1979, acolheu a proposta do Projecto Missão Africa “com alegria, entusiasmo e esperança.”²
No Inicio de 1982, as Irmãs Maria Luiza Piva, ministra geral e Amália Cristofolini, conselheira geral, visitaram Angola, a fim de conhecer um pouco a realidade. Após a decisão de que o projecto seria assumido a nível geral, o Conselho Geral solicitou às irmas que se sentissem chamadas à missão em África, que se manifestassem. Dentre elas foram escolhidas as Irmãs Amália Cristofolini, Maria Müller, Clementina Fusinato e Zélia Pelizzoni.
Assim, depois de muita preparação, no dia 15 de Junho de 1983, as quatro irmãs pisaram o solo angolano dando à luz à nossa missão em África, futura Coordenadoria Irmã Álcida.
Depois de ficarem um tempo na casa das irmãs de São José de Cluny em Luanda, no dia 04 de agosto, mesmo dia em que Amábile Avosani, em 1913, partira para Aquidabã, as quatro irmãs partiram para Ambriz, a pequena Nazaré que as acolhia. Iniciou-se assim a fraternidade São José, a primeira da missão em África.
Nesse tempo, a paróquia São José de Ambriz, sofria inúmeros problemas sociais; a população estava muito empobrecida e não contava com atendimento religioso desde 1961. A chegada das irmãs Catequistas Franciscanas nessa realidade, com certeza foi uma bênção para o povo e para a própria congregação.
Em 1984, Irmã Amália Cristofolini, veio residir em Luanda, pois fora solicitado que as irmãs, prestassem assessoria na organização dos religiosos em nível de país e ajudassem em outras necessidades pastorais. Nos primeiros meses, Irmã Amália morou com as Irmãs de Cluny e em 17 de outubro do mesmo ano, a arquidiocese cedeu às irmãs um apartamento no bairro São Paulo, em Luanda. Inicialmente as irmãs de Ambriz se revezavam fazendo companhia à Irmã Amália. A partir de fevereiro de 1985, Irmã Tereza Nambambi, Franciscana Reparadora veio morar no apartamento por motivos de estudo, fazendo companhia a Irmã Amália até que, com a chegada de mais irmãs, constituiu-se oficialmente a segunda fraternidade da missão no dia 14 de Julho de 1985.
Enquanto as irmãs em Ambriz atendiam a sede e aos poucos as demais comunidades da paróquia onde as condições sociais e bélicas o permitissem, em Luanda o envolvimento das irmãs nas pastorais da arquidiocese foi crescendo. Atuavam no Secretariado Arquidiocesano de Catequese, Cáritas Nacional, coordenação e aulas no Instituto de Ciências Religiosas de Angola - ICRA, entre outros. E como não podia deixar de ser, nos finais de semana as irmãs atendiam comunidades da periferia de Luanda. Sentindo necessidade de estar mais junto das comunidades onde as irmãs atuavam, depois de muita reflexão, busca de recursos, construiu-se uma casa no município de Cazenga, e em setembro de 1993, a fraternidade foi transferida do apartamento para essa casa, junto ao povo das comunidades que atendiam. No início de 1993 constituíam a fraternidade as seguintes Irmãs: Filomena Bona, Sebastiana José de Oliveira e Sílvia Antunes de Freitas. As Irmãs Catharina Corrêa Machado e Clementina Fusinato também permaneceram no Cazenga, até que a situação do país permitisse definir com precisão o quadro das fraternidades.
Mais irmãs foram chegando, e apesar de algumas retornarem, o grupo foi aumentando. A missão Angola já tinha dado os seus primeiros passos e era um núcleo ligado à sede geral. A guerra civil que dizimava o país desde 1977, endurecia ainda mais a vida do povo e a precariedade das condições sociais era muita, mas as irmãs com coragem, como outros missionários/as, continuavam firmes junto às comunidades e aos setores da igreja e outros organismos onde atuavam. A solidariedade entre os missionários/as era muito grande, nomeadamente neste tempo de guerra. Muitas vezes, conforme registram as crônicas das fraternidades, fomos testemunhas desta solidariedade pelas ajudas recebidas das mais diversas formas.
De Março de 1990 a dezembro de 1992 uma fraternidade marcou presença em CAOP um bairro nascido de um projecto de cooperativas agrícolas na jurisdição da paróquia Santo Antonio de Kifangondo, município vizinho de Luanda.
Em 15 de Setembro de 1991 em Cabinda, província mais ao norte do país, foi aberta uma nova fraternidade formada pelas três irmãs recém-chegadas do Brasil: Carmelita Zanella, Maria Esther Giacomet e Vitalina Trentin. Nesta fraternidade denominada “Santa Clara”, em junho de 1993 as dez irmãs presentes no então núcleo Missão África, reunidas em sua primeira assembleia, celebraram os 10 anos de presença da congregação no continente africano.
Nos anos de guerra as irmãs, assim como o povo, enfrentaram medo, situações de perigo, ataques e inclusive precisaram deixar Ambriz de início de 1993 a meados de 1995, período em que a casa onde moravam serviu de quartel da UNITA - União Nacional pela libertação total de Angola.
Aos poucos o núcleo foi se organizando e assumindo os serviços internos necessários, como o da formação inicial. Tendo em vista principalmente a formação inicial, a 20 de fevereiro de 1996 foi aberta a fraternidade Maria Avosani, localizada no bairro Terra Nova - Luanda. Nessa fraternidade, de 31 de Outubro a 03 de novembro foi realizada a segunda Assembleia, na qual, com a presença de Irmã Cristina Souza, então ministra geral, o núcleo foi constituído em Coordenadoria, passando a se chamar coordenadoria Missão África.
A educação foi uma preocupação desde o inicio da missão. Para além da educação da fé nas comunidades, as irmãs que iam chegando, na medida do possível, iam se integrando na educação formal pública e/ou criando grupos de alfabetização de adultos. Com a preocupação de que o estado assumisse a educação onde não havia escola, as irmãs iniciavam o processo, e aos poucos era assumido pelo governo. Pensando em aumentar nosso contributo na educação, bem como possibilitar a acolhida de mais jovens que pretendiam entrar conosco, no dia 04 de Junho de 1999, uma nova fraternidade foi aberta, agora no planalto central de Angola no Kuito - província do Bié. Foi batizada por Fraternidade Irmã Genoveva em homenagem à Irmã Genoveva Kestring que doara também um pouco de sua vida nesta missão.
A formação inicial dava seus primeiros frutos: postulantes, noviças, junioristas! Em 2004 eram quatro as junioristas angolanas. Entre nossas buscas, acertos e desacertos Deus vai-nos provando e nos chamando à constante conversão. Foi assim que no dia 27 de Julho de 2004 a coordenadoria ficou abalada com a morte de Irmã Álcida Paulina Lilo Ngongo, vítima de um trágico acidente acontecido na via Haumbo - Bié. A desistência das demais junioristas também nos questionou e nos fez refletir sobre o nosso testemunho e todo o processo formativo.
O ano de 2008 foi um ano especial em que, nas várias realidades, celebramos os 25 anos de presença da congregação em Angola. No dia 15 de Junho, dia da chegada das primeiras irmãs em Angola, as celebrações aconteceram nas comunidades onde estão as fraternidades e em setembro, por ocasião da assembleia, celebramos os 25 anos de missão, em nível de coordenadoria. Como há mais tempo vinha sendo questionado o nome “Missão-África”, a celebração do Jubileu foi uma oportunidade para juntas pensarmos um novo nome. A coordenadoria optou por Coordenadoria Irmã Álcida, em memória à primeira irmã angolana que nos precede junto ao Pai. O pedido de mudança do nome foi enviado ao governo geral, sendo deferido no dia 25 de Agosto de 2008.
Com o retorno de várias irmãs ao Brasil, o grupo ficou reduzido. Esta situação, somada a novos Projetos que estavam sendo gestados, na assembleia de 1998 decidiu-se fechar a fraternidade de Ambriz, o que aconteceu no dia 19 de Janeiro de 2009.
Um dos sonhos acalentados há alguns anos era o de abrir nova frente de missão em outro país de África. Na assembleia de 2005 foi decidido que não abriríamos mais casas em Angola, Quando fosse possível abrir outra fraternidade seria em outro país e um dos citados foi Moçambique. Assim, depois realizar em Maputo, capital de Moçambique, um projeto para estudo e conhecimento da realidade, nos 2010 e 2011, o sonho se realizou. Fruto de muita reflexão e discernimento, apesar de poucas irmãs na coordenadoria assumiu-se o desafio da abertura de uma fraternidade na diocese de Tete, na comunidade de Boroma, província de Tete - Moçambique. A fraternidade foi iniciada no dia 28 de março de 2012. Um grande desafio e uma luminosa esperança. Esperança esta fortificada pela presença nesta fraternidade de uma jovem missionária simpatizante do carisma, experiência pioneira na coordenadoria e na congregação. É o carisma sendo ampliado, partilhado e recriado.
Assim, a Coordenadoria Irmã Álcida continua construindo sua história, passo a passo junto ao povo destes dois países africanos, agora sem guerra (Moçambique desde 1991 e Angola desde 2002), mas que continua ferido pelas consequências dela. O povo continua buscando juntamente com as comunidades e grupos, uma vida mais digna para as pessoas e para o planeta. A coordenadoria continua apostando na formação de jovens que sonham somar conosco como irmãs catequistas franciscanas e nas novas formas de vivência do carisma. Continua acreditando que “a Divina fonte da Vida nos impulsiona a viver a itinerância no mundo em movimento, e nos convoca a ver ouvir, sentir e acolher o gemido dos pobres, o grito da terra ferida, o clamor pela justiça e a paz ”³
Referências
¹ - Piva, Maria Luiza, 2010, em Cores da Vida pg. 23ç
² - Arquivos do capítulo Geral da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas – Laurentino SC – 1979, citado por Piva, Maria Luiza em cores da Vida, pg. 26
³ - Introdução às linhas inspiradoras