A violência continua uma constante. Os motivos que alimentam conflitos e guerras são diversos: a injustiça que obriga dois bilhões a sobreviver com menos de um dólar por dia, divergências culturais e religiosas, sistema militar e necessidades da indústria de armamentos... Tudo faz parte de uma “iniquidade estrutural” que se traduz nas violências nossas de cada dia.
Vivemos uma cultura de violência, fomentada por diversos ciclos viciosos, presentes em todos os lugares: na mídia, nos brinquedos, no trânsito. Isso somado à individualidade e à busca pela satisfação imediata faz com que as pessoas sejam menos capazes de lidar com suas frustrações e estejam mais propensas a transformar pequenos atritos em grandes confrontos.
O Brasil é um dos países onde mais se mata com arma de fogo. São quase 40 mil mortes por ano, ou cerca de uma morte a cada 15 minutos. A maioria delas é causada por motivos banais, como uma briga de trânsito, ou simplesmente tomando uma cerveja em determinado bar, um som com um volume muito alto.
A paz negada e reclamada
A paz enfrenta atualmente uma realidade que se pode denominar paradoxal: ao mesmo tempo em que ela é violada em cada quarteirão, bairro, fronteira, país ou etnia, é também reclamada, com a mesma intensidade da sua violação, em cada discurso e manifestação em prol do bem comum, da não violência, dos direitos humanos, dos direitos da mulher e da criança.
Religiões, líderes religiosos e políticos enfatizam a paz em suas falas ou escritos como realidade impostergável. Basta reportar alguns discursos do papa João Paulo II com suas pregações ou encíclicas ao mundo. Ou Dalai Lama e tantos outros que promovem a paz.
A paz não pode sobreviver sem um pacto, sem uma aliança ampla, que seja fruto do conjunto de todos os esforços humanos em vista da sobrevivência planetária. O caminho para a não violência passa pelo respeito à diversidade de culturas, religiões, práticas sexuais e assim por diante. Se a relação com o outro for profunda, implica o desafio de repensar a realidade e as relações sociais a partir de outros critérios e paradigmas. Desenvolver esta cultura da paz começa pela vida cotidiana de cada um. Demanda uma autêntica conversão pessoal.
Cultura da não violência
Atualmente, muitas pessoas, desiludidas das políticas do mundo, buscam salvação nos movimentos religiosos que prometem milagres imediatos e se preocupam apenas com a alma. Outros recorrem a movimentos religiosos orientais em busca do equilíbrio interior, sem preocupação social e política.
A não violência não é apenas um ideal a ser buscado, mas uma forma permanente de vida, baseada na justiça e na inclusão social. É preciso cuidar do outro com o verdadeiro sentido da palavra. “O cuidado é uma condição essencial do ser humano e abrange também o contexto da exclusão social, bem como o conjunto da vida em nosso planeta” (Leonardo Boff). Quem aprofunda este caminho percebe que os atos violentos - assaltos, sequestros, assassinatos, manifestações de racismo, de discriminação social e outras injustiças - são apenas expressões ou consequências da estrutura da sociedade, firmada, ela própria, na violência.
A prática da não violência começa na desmontagem concreta e ideológica da violência em toda a sua amplitude. A guerra e o armamentismo parecem, então, absurdos, principalmente em um mundo que gasta por ano mais de 500 bilhões de dólares com armas e não tem dinheiro para alimentar milhões de crianças ou cuidar da saúde das vítimas da Aids na África.
Desenvolver esta cultura da paz começa pela vida cotidiana de cada um. Essa consciência passa inevitavelmente pela escola. É na escola, com o estudo, que aumentamos a nossa liberdade. Porque a liberdade só se constrói quando se tem uma noção de quais são as opções. Se eu tenho só uma opção na minha frente, que liberdade é essa? Mas se eu sei que existem muitos caminhos, a minha liberdade será vivida com mais plenitude. Somente através da educação a pessoa se torna mais consciente e consequentemente mais humana.