Hoje, 29 de outubro, está sendo lançado o Manifesto Sobre A Educação Escolar Indígena No Brasil – Por Uma Educação Descolonial e Libertadora, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, uma publicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). A pesquisa e o relevamento de dados deste manifesto de 120 páginas, que pode ser considerado um dossiê, foram feitos pelos Regionais do Cimi e a sua organização por Emília Altini, Eunice Dias de Paula, Gilberto Vieira dos Santos, Luiz Gouvêa de Paula e Rosimeire de Jesus Diniz Santos. O Manifesto é dedicado aos povos indígenas do Brasil que, apesar da negação de suas formas próprias de educar, teimam em construir uma “outra escola”.
Também é dedicado a todos os educadores e educadoras indígenas. Fiéis aos seus povos e comunidades, fazem da escola e da educação escolar um instrumento de resistência contra toda forma de colonidade. O Manifesto divide-se em 12 capítulos, abordando questões desde o histórico da educação escolar indígena, seus princípios já consagrados na legislação, a situação dos docentes indígenas e sua formação, a infraestrutura das escolas indígenas, sua organização e gestão, até chegar aos territórios etnoeducacionais, à criação dos Núcleos de Educação Escolar Indígena (NEI), e chegando à posição do Estado Brasileiro, que desconsidera as formas próprias de organização dos povos originários.
O Manifesto conclui apresentando os desafios e perspectivas para os povos indígenas, e afirma que há um enorme desconhecimento dos procedimentos didáticos, dos conteúdos curriculares e do que é considerado relevante para os povos indígenas. Isso termina por gerar uma valorização desigual dos saberes, sendo consideradas periféricas algumas das dimensões que na vida indígena são centrais. Habermas (2004, p.172) é citado: “a discriminação não pode ser abolida pela independência nacional, mas apenas por meio de uma inclusão que tenha suficiente sensibilidade para a origem cultural das diferenças individuais e culturais específicas”. Isso significa que, para os povos indígenas, a independência do Brasil não representou mudança na posição dos povos indígenas em relação ao Estado, que precisam ser conscientes dessa realidade imposta pelo projeto colonial.
Portanto, a educação escolar indígena deve ser convertida em mais um instrumento de resistência e de libertação. Para o Manifesto, há experiências em andamento que mostram a viabilidade de se organizar a educação escolar em “sistemas abertos”, sem separações rígidas entre classes ou séries, que se ajustam melhor aos princípios educativos indígenas: aprender fazendo, aprender com os mais velhos. Em suas conclusões, alerta que transformar a escola em ferramenta de luta não é tarefa fácil e que, para isso, não basta mudar sua aparência, seus currículos, seus calendários.
É preciso modificar toda a sua lógica, sua fundamentação, seus objetivos e essência. É importante manter vivas certas perguntas: Que escolas estamos produzindo? Quais saberes a escola mobiliza? Quais verdades ela institui? Quais outras verdades ela desautoriza? para citar apenas algumas das grandes perguntas levantadas. E para finalizar, o Manifesto conclui que o Estado Brasileiro perpetua práticas colonialistas revestidas de novas roupagens. Em Brasília, Luciana Gaffrée 29 de outubro de 2014
Comentários
Obrigada, Irmã Emilia por ter contribuído na elaboração deste documento histórico. Você é um exemplo de mulher consagrada a serviço da vida.