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09 Dezembro 2014
Novas ameaças e perseguição ao povo Guarani Kaiowá

Menos de 24 horas depois de um grupo armado atacar a área de retomada do Tekoha – lugar onde se é - Tey’Juçu, município de Caarapó, Mato Grosso do Sul, liderança dos Guarani Kaiowá da comunidade afirma ter recebido uma ligação do proprietário da Fazenda Burana, que incide sobre a terra indígena, onde o sujeito marcou para esta terça-feira, 9, entre 14 e 15 horas, novo ataque contra os indígenas. “Ofereceu dinheiro para sairmos e quando eu disse que não aceitaria ele anunciou o ataque”, diz Edson Chamorro Guarani Kaiowá. A agressão com hora marcada poderá acontecer na sequência do desaparecimento de uma jovem indígena. 

Na tarde desta segunda-feira, 8, por volta das 16h30, o grupo armado chegou à retomada descendo de dezenas de caminhonetes, que cercaram os barracos improvisados. Conforme relatos de indígenas presentes, capangas passaram a atirar contra a comunidade. Enquanto descarregavam suas armas, explica os Guarani Kaiowá ouvidos pelo Cimi, os motoristas davam cavalos de pau para levantar poeira com o objetivo de desnortear os indígenas. Nessa hora, afirmam os indígenas entrevistados, a jovem Julia Venezuela Almeida Guarani Kaiowá, de 17 anos, caiu depois de ser baleada. O ataque lembra o episódio que culminou com o assassinato do cacique Nísio Gomes Guarani Kaiowá, em 2012. Depois de assassinado, um consórcio envolvendo fazendeiros, advogados e uma empresa de segurança deram fim ao corpo do indígena depois de levá-lo numa caçamba de caminhonete. 

Eram todos hilux, carro de luxo, de fazendeiro. Chegaram e já foram atirando”, afirma Otoniel Guarani Kaiowá. A liderança estava na estrada quando viu a aproximação dos veículos – mais ou menos 40, na contagem dos indígenas. “No meio da poeira eu vi o corpo da guria ser arrastado e jogado na caçamba de uma das caminhonetes, que partiu em alta velocidade. Desde então ela está desaparecida e acho que morta”, explica Chamorro. O indígena é enfático ao dizer que não aceita nenhuma quantia para sair de Tey’Juçu. Do local os Kaiowá e Guarani foram expulsos há algumas décadas atrás. O avô de Julia, inclusive, foi assassinado em Tey’Juçu há 55 anos, período em começaram a ser expulsos do tekoha. Se chamava Vento Almeida.     

A sepultura dele ainda tá nesta terra”, afirma Leonardo de Souza Kunumi Jeroñtva, 2º cacique do Tekoha Tey’YiKue, que ao lado de Tey’Juçu compõe o território tradicional em processo de demarcação pela Funai. Naquelas terras o latifúndio é de soja. “A menina estava no campo de soja quando eles chegaram atirando. Eles deram vários tiros de revólver e levantaram muita poeira com as caminhonetes. Os parentes correram. Depois, viram quando a menina foi arrastada e colocada na caminhonete”, enfatiza os fatos Jeroñtya. A comunidade, inclusive, sabe quem atirou em Julia. “Disseram que ele fugiu da cidade. Foi a informação que conseguimos. Quero saber das autoridades agora”, denuncia.

De acordo com ele, esta tragédia e as outras, como a morte e o desaparecimento de Nísio Gomes e do professor Rolindo Vera, acontecem porque o governo não defende os indígenas, nem os direitos que eles têm. “Estamos só por nós mesmos. Por isso que os fazendeiros fazem o que querem. Por isso que aconteceu este problema. Fico muito emocionado porque eles querem ver morrer todo indígena para poder pegar todas as terras das nossas aldeias”, desabafa Kunumi, abalado. O cacique do tekoha de Kunumi, Lourival Kaiowá, garante que agora é mais fácil todos os Kaiowá e Guarani saírem mortos da terra do que correndo dos fazendeiros e seus capangas. “Não nos vingamos, mesmo depois de nos terem matado tanto. O que a gente quer é a terra que os pais e avôs viveram e morreram. Querem nosso sangue, mas não queremos o sangue de ninguém. Apenas nossa terra, onde o pó dos antepassados esta misturado”, salienta Lourival.      

A paralisação das demarcações de terras indígenas em todo o país tem tido efeitos cada vez mais trágicos nos territórios. As mesas de diálogo impostas pelo Ministério da Justiça, em detrimento da aplicação das leis, tampouco funcionam. Desta vez, o ataque aconteceu no Tekoha Tey’Juçu, onde cerca de 300 indígenas retomaram uma parte da sua terra tradicional, no último domingo, 7, motivados pelo desmatamento realizado pela usina sucroalcooleira Nova América. O próximo tem data e hora marcada. Até quando?

 

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Patrícia Bonilha e Renato Santana, Assessoria de Comunicação - Cimi