“Terra, Teto e Trabalho são direitos sagrados. Nenhum trabalhador sem direitos! Nenhuma família sem moradia! Nenhum camponês sem terra! Nenhum povo sem território! Vivam os pobres que se organizam e lutam por uma alternativa humana à globalização excludente!”

A Equipe de Dourados, enriquecida com a presença e experiência da irmã Mayara Arguello, vimos através desta comunicação, informar a atual situação e realidade vivenciadas por nós, junto aos indígenas Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul.

Muitos tem sido os desafios enfrentados e, ainda mais agora, na nova conjuntura pós-eleição: nova configuração do congresso nacional com a predominância dos ruralistas e detentores do agronegócio que ditam as prerrogativas que desestabilizam até direitos já conquistados e constitucionalmente garantidos aos povos originários.

Preocupa-nos a retomada da PEC 2015 que aos poucos vai se infiltrando nos discursos e na pauta de discussão. A ampliação das rodovias que desrespeita terras indígenas e aos poucos vai acurralando-os e forçando-os a uma demanda e mobilidade para se proteger e salvaguardar a vida, sem contar com as forças dos novos “quatiás” que são promulgados contra os povos originários. Há pessoas ainda que se colocam como amigas e benfeitoras e tentam enganar e convencer os indígenas da importância dos benefícios na duplicação das estradas e do progresso que resulta desta duplicação, mesmo em prejuízo das suas terras, pois eles não plantam e produzem para exportação.

Neste contexto ainda, como ignorar a problemática da saúde nas aldeias e no desatendimento da saúde pública? Como não trazer presente a luta desse povo para ter garantida sua terra e viver na tranquilidade e sem ameaça com sua família? Como ignorar o problema do genocídio e ameaças constantes que assolam a vida desse povo?

Muitos gritos e lamentos chegam até nós a cada dia. Perguntamo-nos: Como contribuir para que esse povo tenha paz e segurança? O que podemos fazer para sermos solidárias e estarmos com eles, os mais excluídos pela sociedade?

“De muitos modos temos mostrado ao mundo que os índios não são problemas, e sim a base para a solução dos problemas atuais.”

Somos uma equipe reduzida, porém com o grande compromisso na missão e na responsabilidade junto aos indígenas desta Região sul do estado de MS.

Ecoa muito forte em nós o apelo do papa Francisco para sermos missionárias que não tem medo de andar na lama e poeira por que está junto aos excluídos, à margem da vida, fugindo das próprias comodidades e seguranças! Isso é um desafio que constantemente nos inquieta enquanto Equipe de Dourados Peguá. Sabemos que nossa pequena contribuição, é uma gota neste grande mar de turbulências, mas sentimos o quanto é importante e necessário. Como é gratificante ouvir estes depoimentos: “Estamos com o coração desbotado de saudades”; “vocês são as únicas pessoas que se preocupam conosco e que nos visitam”. Apenas estas duas frases nos convencem o quanto somos presença de esperança e alegria na vida e na luta deste povo. Esquecemos o cansaço, o medo dos “pitoleiros”, as surpresas das estradas e os demais perigos que rondam e que nos cercam constantemente. Para isso a Divina Ruah nos anima e sustenta, temos certeza disto.

No encontro com estes povos originários, no seu jeito simples de acolher a vida, aprendemos a arte do “Bem Viver”.

“Os indígenas encontram hoje, como sempre, em sua experiência histórica e espiritual, respostas humanas que valem a pena colher e colocar ao alcance de outros.”

 É impossível retornar sem um sentimento forte de solidariedade e amor! Sim, amor que é muito mais que poesia, mas que é gesto concreto de proximidade e bem querer. Amor que vence a fome, a falta de comodidade, o cheiro forte e o cansaço de horas e horas de viagem em busca das pessoas. Impossível traduzir esta experiência em palavras. O sentimento e o silêncio falam mais forte. Aprendemos a vencer tudo, e a nós mesmas!

O que fazemos? Nada e tudo ao mesmo tempo.

Nossa rotina:  Visitas formativas nas áreas, acompanhamento dos indígenas no MPF, FUNAI, ATL, ATY GUASU, Conselho Guarani entre outros, presença solidária nos momentos de retomada e ameaças, programações próprias, acompanhamento nas visitas de entidades e instituições apoiadoras da causa indígena. Muitas outras coisas nos ocupam e fazem parte do cotidiano.

Pouco escrevemos sobre esta caminhada.  A maior preocupação tem sido a nossa convivência junto a este povo. O que somos e o que fazemos com e para eles, um dia eles mesmo escreverão, mesmo que seja em guarani. Creio que todas entenderão, pois vamos aprendendo a nos comunicar na linguagem do AMOR! Esta é universal.

“Os indígenas são povos de esperança; uma esperança que vai minando no interior das pessoas e dos sistemas da sociedade.”

Como irmãs catequistas franciscanas podemos afirmar que nossa contribuição é grande, demonstradas na presença real, significativa e solidária em todo momento da caminhada dos Guarani e Kaiowá do MS. “Os pequeninos pedem pão”.  Estamos dispostas não só a repartir o pão material, mas o pão mais precioso que temos: a nossa vida em missão!

“A Sabedoria Guarani é fonte de esperança, porque estamos convencidas de que a presença indígena na sociedade é como um oásis de fé e espiritualidade que pode dar humidade ao mundo onde prevalece a secura estrutural.”

Dourados, festa da Ascensão de Jesus.