Aguerrida, Dora não se calou diante das ameaças... pagou com a vida a luta pela Portelinha.
Foi exatamente no dia 12 de agosto de 2015, na memória de 32 anos do martírio de Margarida Maria Alves, uma sindicalista e defensora da vida e dos direitos do povo do campo, em uma pequena cidade do interior da Paraíba, que Maria das Dores dos Santos Salvador Priante, 52 anos, conhecida como ‘Dora’, foi sequestrada, torturada e morta com 12 tiros de PT 40.
Dora vivia na comunidade Santa Lucia, assentamento Portelinha, no quilometro 40, da AM-070, no município de Iranduba, AM.
Segundo depoimento de moradores da comunidade Dora já tinha denunciado a situação de venda ilegal de terras na Assembleia Legislativa do Amazonas e em emissoras de televisão. “Há pelo menos dois anos, quando sofreu agressão na comunidade Portelinha, procurou a Secretaria de Segurança Pública com um vídeo em que "Pinguelão" já aparecia como suspeito. Também já teria procurado a Polícia Federal para relatar os problemas que vinha enfrentando porque as terras são da União, do "Terra Legal", logo o suspeito estava cometendo crime federal”.
O sentimento de indignação era geral nas pessoas participantes da manifestação, pois Dora já havia feito 18 boletins de ocorrência na Delegacia de Iranduba por ameaça de morte, e também na Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (Sejusc), e nenhuma providência foi tomada. As ameaças eram constantes para Dora, inclusive com agressões físicas, mas ela não desistiu. Ao contrário, com coragem, garra e determinação denunciou tudo e permaneceu firme até a entrega da vida.
Dora, uma mulher de fibra, animadora da comunidade, defensora da vida, lutadora incansável pelo direito à terra e moradia. Quando assumiu a liderança da comunidade, formada por 62 famílias, há mais de três anos, tentando organizar a comunidade, teve problemas com um morador que decidiu vender alguns lotes. “Ele já tentou me matar três vezes, inclusive no último sábado (20/07), assim como outros moradores que não concordam com sua atitude”.
Ontem, 18/08, às 17h aconteceu um ato público com caminhada pelas ruas de Iranduba denunciando a omissão do Estado, pedindo justiça e punição aos culpados, e cobrando do Governo ações para regularização fundiária na região.
Participaram desta manifestação vários movimentos populares, CPT, CEBs, Cáritas, Pastorais Sociais, Movimento de Mulheres, de Professores de Manaus, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, alguns parlamentares, povo das comunidades de Iranduba e nossa irmandade com as aspirantes.
Após a caminhada celebramos, na igreja São João Batista, o sétimo dia do martírio de Dora fazendo memória da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A palavra de Deus nos dá a certeza de que a morte não é o fim. Nesse sentido alimentamos em nós a certeza de um mundo novo que nos move para a luta. O caminho de Jesus é o caminho da entrega, da cruz e feliz quem nele persevera até o fim e entrega sua vida pela causa do Reino.
A missa presidida por Dom Sérgio Castriani, arcebispo de Manaus, foi marcada pela profecia e solidariedade. Comungando o Corpo de Cristo, comungamos a causa do Reino e elevamos a Deus um clamor pela paz. Basta de violência! Renovamos a esperança que o sangue derramado neste chão fecundará a luta do povo pela terra e dará nova energia e vigor à tantas outras mulheres e homens, lideranças perseguidas, que estão marcadas para morrer.
Que o sangue de Dora fecunde a luta do povo, pela terra, em Iranduba/AM
Que a justiça floresça!
Que a Paz aconteça!
Comentários
Que Deus tenha misericórdia!.