O texto para este domingo do Pentecostes é a parte final do discurso de despedida de Jesus antes da sua paixão. Este discurso começa no capítulo 13, depois da prática do lava-pés e continua nos capítulos 15-17.
Jesus se despede de seus discípulos e suas discípulas, ao mesmo tempo diz para a comunidade do seguimento o que devem fazer durante a espera de seu retorno. Somos também a comunidade do seguimento de Jesus que escuta esta palavra hoje.
Na primeira parte do discurso de despedida Jesus nos indica o caminho que conduz a Deus que é Pai e Mãe. Na segunda parte do discurso Jesus fala da comunhão dele com sua comunidade. Na terceira parte deste capítulo 14 do Quarto Evangelho Jesus fala de sua partida e do dom da paz.
No discurso de adeus para os discípulos e as discípulas Jesus assegura que um dia estaria voltando. Agora percebemos que Jesus não fala mais para aquele grupo de discípulos e discípulas presentes na ceia, mas fala para a comunidade do Quarto Evangelho e para cada um e cada uma de nós hoje, partilhando de que forma podemos nos alegrar com a presença de Jesus neste tempo de separação.
Somos pessoas chamadas ao discipulado do Filho que é Jesus para entrar em comunhão com Ele. Existe uma relação de amor que une a discípula e o discípulo ao Filho Jesus, e o Pai e o Filho aos discípulos. Se estivermos na caminhada do discipulado de Jesus na construção do seu Reino, Jesus faz morada conosco e com Ele o Pai porque são uma só pessoa.
Morada é uma palavra repleta de sentido. No primeiro testamento, morada por excelência era o Templo de Jerusalém (Sl 121,1; 131,3-132,14; Is 6; 60). Jesus, o Verbo de Deus pela sua Encarnação, cumpriu a promessa da Presença de Deus no meio da humanidade. Para o Quarto Evangelho a morada definitiva do Pai é a comunidade do seguimento do Filho.
Judas Tadeu pediu para Jesus: "Senhor, porque te manifestarás a nós e não ao mundo?" Jesus responde agora a esta pergunta: o mundo são aquelas pessoas que recusam a proposta de Jesus e, com esta recusam a pessoa de Deus Pai. A presença do Filho e do Pai está estritamente ligada à escuta e à prática da Palavra de Jesus que é a palavra do Pai. Jesus diz para a comunidade do seu discipulado que virá o Espírito Santo Consolador que o Pai enviará em nome de Jesus.
O Pai, o Filho e o Espírito são a mesma Pessoa no Amor. O Espírito Santo será quem ensinará e fará recordar. Ensinar - na Bíblia este verbo significa muitas vezes interpretar autenticamente as Escrituras e atualizá-las no tempo presente. Porém, no Evangelho de João existe uma novidade: o Espírito Santo Consolador ensinará, não só as Escrituras, mas a Verdade, tudo o que Jesus comunicou ao Pai, a mesma Pessoa de Jesus e do Pai! O Espírito Santo não só ensina, a Divina Ruah, faz recordar, faz voltar ao coração o profundo sentido de cada acontecimento à luz da vitória da Ressurreição sobre todo forma de morte.
Esta experiência de conseguir interpretar não só o tempo passado, mas o presente não é dom para uma pessoa, mas para uma comunidade. O Espírito Santo, a Divina Ruah, faz da comunidade o lugar privilegiado da revelação da pessoa do Pai em Jesus.
Ao término de seu discurso, Jesus volta a falar ao tempo presente para a comunidade dos discípulos e das discípulas que irão vivenciar sua paixão e morte. Para esta comunidade é a Paz de Jesus. O texto do Evangelho não está falando aqui do dom da paz, da tranquilidade ou da ausência de conflitos. Jesus não deseja a paz, ele doa a sua Paz.
A Paz de Jesus é a presença do Pai no Filho! Sabemos que também de "pax" (de paz) falava o império romano. Esta "pax" era fruto de opressão, de violência e de impostos que tiravam toda a vida do povo, sobretudo dos mais empobrecidos. A comunidade do evangelho de João insiste em dizer que a paz na pessoa de Jesus, e no seu projeto que é o Reino, nunca vai ser a paz do mundo dos opressores! Mas a certeza de que estar no Filho e no Pai, no ensino e na recordação do Espírito Santo Consolador, faz com que a comunidade não tema nenhum tipo de violência e perseguição.
A comunidade do Quarto Evangelho nos diz que a partida e a nova vinda de Jesus na ressurreição são duas facetas do mesmo acontecimento. Para a comunidade do Quarto Evangelho foi importante fazer esta memória de Jesus para que a comunidade pudesse compreender a paixão de Jesus no seu sentido pleno e não como uma derrota, como uma traição por parte de Deus.