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14 Outubro 2016
Lições de vida de uma educadora

“Há que se cuidar do broto, para que a vida nos dê flor”

Na pequena e abafada escola, situada em algum ponto desse imenso Brasil de carências e valores, havia passado mais de 5 professores, naqueles longos seis meses... Todos eles diziam que lá era impossível ensinar para adultos à noite. As alunas, todas elas mulheres que trabalhavam nos cabarés locais, chegavam cansadas e com muito sono. Acabavam desistindo e esvaziando a sala. Muitos professores alegavam também que o município nada fazia para melhorar as condições físicas da escola, e que, sistematicamente, faltava material didático. Até chegar uma professora que encarou aquela realidade como uma missão pessoal, e não como o exercício de uma profissão bem ou mal remunerada. Ela rapidamente transformou as sonolentas e apáticas alunas em atentas e produtivas cidadãs. Não houve magia, nem segredos e nem fórmulas milagrosas. Houve, isso sim, por parte daquela professora, a incorporação de algumas atitudes que identificam um verdadeiro educador, e o diferencia de um professor-funcionário. São os ingredientes que jamais podem faltar a qualquer professor que deixa de ser funcionário e se encara como educador-missionário, principalmente em época de crise social e de retrocessos político-culturais.

A referida professora era uma verdadeira líder. Falava bem, argumentava, valorizava cada pessoa e exigia sempre algo de cada uma das suas alunas. Empolgante e envolvente, ela conhecia a situação de cada uma, as visitava com freqüência e sabia de seus enormes desafios diários. Logo, todas perceberam que ela tinha tomado a sério o seu compromisso de revitalizar aquele grupo, com ou sem o apoio da secretaria de educação! Não abria mãos de sua responsabilidade pessoal, e assumiu com firmeza, sem delegar a outros, as rédeas daquela escola. Compreendeu que não era o momento de se esconder atrás de pretextos e de queixas estéreis do tipo ‘falta isso e falta aquilo’. Ela tinha que dar conta do recado envolvendo pessoas, sem dominar ou pressionar. Acredito poder identificar nessa capacidade de ‘ser líder’ a primeira característica de um/a professora-educadora. Muitos professores renunciam a isso, e querem ser funcionários impessoais e anônimos deixando para coordenadores e gestores o exercício de uma missão que pertence também a eles.

A segunda característica é a que advém da própria origem etimológica da palavra ‘educar’, do latim ‘ex-ducere’, ou seja, conduzir para fora. Educadora/o é a pessoa que sabe puxar para fora, extrair o conhecimento formal e a riqueza de vida que reside em cada pessoa, e o valoriza. Educadora/o é quem supera o estilo professoral e adota a metodologia de reconhecer de fato que todos somos pesquisadores, produtores de conhecimento e formadores uns dos outros, em todas as circunstâncias do dia a dia, e não somente num prédio escolar! Talvez muitos ‘professores’ gostem de ouvir, hoje, no dia do professor, um discurso mais corporativo, talvez de defesa intransigente dos direitos da categoria. Afinal, com o desmonte público, muitos dizem que não podem e nem conseguem exercer a sua profissão porque são submetidos a ritmos absurdos, que falta qualificação e formação específica, que não existem condições físicas adequadas e muitas outras coisas que não deixam de ser verdadeiras e importantes, mas que não são, nesse momento histórico, as mais problemáticas e urgentes.

Hoje, desejo homenagear todas aquelas pessoas que chamadas a ser professoras/es, não se importando em qual prédio escolar e em qual lugar geográfico, exercem a pedagogia do amor, da dedicação, da responsabilidade, da gratuidade. Palavras um tanto manjadas, com certeza, mas sempre válidas para combater as atitudes sempre mais frequentes de ‘muitos profissionais da educação’ que fazem da educação escolar um negócio, do ensino um meio para ascender na vida, e dos alunos uma massa amorfa e acrítica a ser manipulada. Que possamos reproduzir as atitudes de amabilidade e compaixão do Mestre de Nazaré para com tantas ‘alunas/os, professoras/os, invisíveis-pequeninos’ acreditando que continuam sendo verdadeiros mestres e alunos de vida!

Parabéns pela missão assumida na educação!

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Carmélia S. Cruz

Comentários  

#5 Augusta Neotti 17-10-2016 18:39
Parabéns Irmã Carmélia pela bela, profunda e inspiradora reflexão sobre a verdadeira Educadora. Aqui está refletida sua própria maneira de se relacionar com as pessoas, do seu cuidado com o broto. Exemplo a ser seguido por todos/as. Obrigada!
#4 Lindalva Alves Cruz 15-10-2016 23:30
Que profunda reflexão irmã Carmélia, parabéns, essa professora usou a metodologia de Jesus e mudou as alunas em sujeitos de sua história. Quero sempre lembrar dessa atitude, dessa pedagogia da esperança e fazer da educação um instrumento na construção de novas relações, uma pilastra da cidadania.
#3 Irmã Eliza Schafaschek 15-10-2016 21:45
Levantemos sempre nossa cabeça e nosso ânimo e continuemos construindo um mundo melhor e mais humano. É possível, acreditemos sempre e vamos confiantes.
Saudações.
Eliza
#2 Amélia Tontini 14-10-2016 17:38
Ótima reflexão para este dia.E, para o dia a dia de nossa missão,aonde quer que estejamos.PARAB ÉNS!
#1 Marilete Rover 14-10-2016 16:58
Obrigada Carmélia!
Agradeço de coração esta linda mensagem de gratidão e amor para cada um dos educadores educadoras.
Que possamos a ex. de Jesus , o verdadeiro mestre semear alegria,amor e muita esperança nos corações.

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