Esta carta foi elaborada carinhosamente, a pedido das Irmãs, por um Simpatizante do Carisma Francisclariano, amante da natureza e apaixonado pela Mãe Terra. Manoel é filho de um ilustre Seringueiro, místico e profeta, verdadeiro missionário junto às irmãs e falecido em junho do ano passado: Sr. Elói Batista de Araújo.

Manoel é professor, foi prefeito de Assis Brasil em dois mandatos, grande colaborador no desenvolvimento do Município, dando especial e maior atenção aos Seringueiros, Agricultores e Indigenas. Cultiva profunda mística em relação a Deus, ao ser humano e a Ecologia. Está sempre atento às pessoas que o procuram e à frente das organizações, associações dos pequenos agricultores, Seringueiros, do partido político (PT) e atualmente está atuando na secretaria da Educação Indígena através da qual 23 aldeias.

Desta forma, o que Manoel escreve é verdadeiro, reflexivo, profundo e vivenciado.

Nosso abraço, Irmãs de Assis Brasil/AC

CARTA MISSIONÁRIA ÀS ORGANIZAÇÕES RURAIS E INDÍGENAS

Organizar as famílias e procurar justiça social é cuidar da nossa terra comum

Este é o mês missionário e precisamos refletir sobre nosso papel na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Vimos que é necessário repensarmos nossas ações diante daquilo que Deus planejou que fosse o uso da terra. O sustento que dela tiramos faz crescer famílias e abastece cidades de alimentos importantíssimos para a vida de centenas de pessoas.

Historicamente travamos lutas e batalhas pelo direito à terra, mas em pleno século 21 ainda convivemos com a má distribuição dela no Brasil, no mundo e por consequência temos falta de alimentos, fome, miséria e opressão. A terra não é somente para alguns, a terra é para todos, principalmente para aqueles que vivem dela. Quando rezamos: creio em Deus Pai, Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra, precisamos ir mais adiante e crescer neste debate sobre como estamos cuidando dessa Criação Divina. A terra está alimentando e salvando a humanidade ou escravizando e levando à sua morte? A justiça social é uma missão daqueles que tem o dom de liderar, de amar a si e ao próximo de dedicar uma vida para que todos cumpram a essência do ser humano escrita em Gênesis.

Qual é nossa responsabilidade pela nossa terra comum?

Onde as pessoas e famílias já conseguiram conquistar o direito à terra, precisamos ajuda-las a se organizar em associações para a garantia das políticas públicas sociais na área da assistência técnica para a organização da produção, financiamentos com juros baixos, construção de vias para escoamento da produção, transporte, capacitação para alcançarem os mercados consumidores além da realização com qualidade dos serviços de saúde, educação e assistência social.

Muitos não entendem a palavra de Deus quando pede para que nunca descansemos enquanto não encontrarmos para TODOS OS POBRES a famosa terra prometida. A terra prometida não é somente um pedaço de terra improdutiva, sem água, sem estrutura e sem apoio. Deus quer que seus filhos e filhas tenham vida e vida em abundância.

Não podemos esquecer que o respeito à natureza é uma de nossas mais sublimes missões. Somos filhos da natureza, fazemos parte dela e somos nós mesmos que a destruímos. Nenhum outro animal da terra tem causado tanto impacto à natureza como nós, OS HUMANOS. Da mesma forma que podemos acabar com ela, somos os únicos que podemos salvá-la, convivendo com mais cuidado, amor, carinho e respeito. Assim estaremos preparando terreno para as futuras gerações.

Ao longo da história vimos muitos falarem uma coisa e praticarem outra. Temos que aproximar cada vez mais o nosso discurso da prática. A ideia de Chico Mendes, nosso seringueiro Acreano que deu sua vida pela proteção da natureza, jamais poderia imaginar que chegaria este tempo em que, quem mais precisa da terra está destruindo-a. Os trabalhadores lutaram por esse direito e hoje reproduzem a mesma ideia do grande fazendeiro: de pequenos em pequenos lotes, construímos grandes desmates muitas vezes sem nos dar conta que poderíamos torna-la produtiva e sustentável.

É preciso estudarmos mais sobre o potencial da área de cada um para que possamos utilizá-la combinando sempre desenvolvimento com preservação e preservação com desenvolvimento. Às vezes, não fazemos os cálculos sobre o quanto ganhamos utilizando a mesma quantidade de terra para um e para outro tipo de cultura. É possível planejarmos nossas áreas de tal forma que tenham uma produção variada dentro dos limites estabelecidos pela legislação ambiental, (código florestal) afim de oferecer condições de termos um produtor rural mais feliz.

Moramos numa pequena casa, podemos ser cheios de felicidade quando produzimos e vivemos às nossas custas trazendo para dentro de casa o nosso próprio alimento. O alimento produzido por muitas mãos e brotados pela graça de Deus. Assim, somos fiéis ao projeto de Deus quando ajudamos a esclarecer sobre diversos assuntos que tornam a vida dos pequenos mais organizada e mais apoiada. Somos cristãos quando não deixamos que injustiças sejam feitas com nossos irmãos.

Então, quem pode mais, ajude mais. Quem tem fé nunca deixe de lutar por melhores dias. Sem precisar sair da comunidade, você pode fazer a diferença. Que se abracem a justiça e a paz. Quem tem Deus no coração não abandona a missão de ser mais um a lutar pela melhoria de vida dos colonos, seringueiros e indígenas da nossa região.