“Há 30 anos, na madrugada do dia 03 de dezembro de 1984, a cidade de Bhopal, a região central da Índia, registrava a maior catástrofe da história da indústria química. Embora haja controvérsia quanto aos números e aos detalhes técnicos do desastre, já que a empresa de pesticidas negou-se a fornecer informações, sabe-se que já nas primeiras horas morreram entre 4 e 10 mil pessoas. Outras 200 mil foram intoxicadas pela nuvem de veneno exalada da fábrica de agrotóxicos. Registrou-se, ainda, 25 mil casos de cegueira, num universo de cerca de 50 mil incapacitados para o trabalho”. Leomar Daroncho - coordenador do Fórum Mato-grossenses de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.
Em memória ao dia dessa tragédia e para combater os malefícios dos agrotóxicos, criou-se o Dia Mundial de Combate aos Agrotóxicos.
Há mais de 50 anos o Brasil decidiu por um modelo de agricultura baseada na produção de matérias primas agrícolas para o mundo. Assim, desde 2008 nos tornamos o maior consumidor mundial de venenos agrícolas (agrotóxicos) e de fertilizantes químicos. Grandes áreas de terra se estendem sempre mais, nas mãos de poucos empresários agrícolas que usam imensos volumes de água com venenos para a pulverização das lavouras. As pulverizações aéreas não distinguem o que é lavoura, das comunidades vizinhas e contaminam a água, o ar e os alimentos.
As estatísticas dizem que cada brasileiro consome em média mais que 5,3 litros de agrotóxicos por ano e que no Mato Grosso, o Estado campeão em consumo de agrotóxicos, cada pessoa consome em média mais de 45 litros por ano.
Diante dessa situação, mais de 100 entidades nacionais constroem, desde 2011, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que tem o objetivo de sensibilizar a população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam, e anunciar um novo modelo de produção de alimentos baseado na Agroecologia.
Algumas pesquisas têm mostrado que no Mato Grosso, o ambiente e as comunidades dos municípios que mais usam agrotóxicos na lavoura enfrentam maiores problemas de saúde como: mortalidade por câncer, problemas respiratórios, malformação em crianças, abortos, câncer na população infanto-juvenil, contaminação do leite materno, contaminação da água da chuva, do rio e do ar.
Em Rondonópolis há também um Fórum Permanente de Combate aos Agrotóxicos, com mais de 15 entidades associadas até o momento, entre Universidades, Secretarias Municipais, ONGs, Sindicatos, Associações, Movimentos Sociais, Polícia Ambiental, CPT, Ministérios Públicos...
Como em todos os anos, em Rondonópolis, neste dia 3 de dezembro, este Fórum promoveu na Praça Brasil, uma Feira de Agroecologia. A abertura consistiu num momento de mística sobre o “Cuidado da nossa Casa Comum”, orientado pelas Irmãs Catequistas Franciscanas. A seguir houve um debate sobre a situação dos agrotóxicos no Brasil, no Mato Grosso e em Rondonópolis; A contaminação do ar, do solo, dos rios, dos alimentos e suas consequências para nossa saúde. Representantes das entidades sócias provenientes de Rondonópolis e Cuiabá contribuíram nos debates. Um terceiro momento consistiu num trabalho de grupos com os seguintes temas: Agrotóxicos e o Câncer; Produção Agroecológica; Sementes Crioulas e Sustentabilidade; Água (nascentes) e Saúde do Trabalhador. A seguir houve um momento de plenário e debates, buscando ações concretas para conter esse avanço de destruição da vida.
A manhã foi concluída com um almoço de confraternização oferecido pelas entidades associadas.
A tarde, houve trocas de sementes e mudas crioulas, espaço onde cada produtor traz o que tem e compartilha com outros, levando também para si o que não possui. Momento muito rico de convivência e troca de experiências.
Na avaliação reconheceu-se que poderia haver maior participação do povo em geral, mas este é o sinal da falta de conscientização do nosso povo e que é necessário intensificar muito mais esta luta para combater os agrotóxicos e os transgênicos e promover a agroecologia, cultivada pela agricultura familiar de nossa região.