“Da Amazônia até os Pampas, do Cerrado aos manguezais” chegaram na casa Paz e Bem em Curitiba/PR 40 irmãs, representantes de todas as províncias, a fim de participarem da Assembleia geral da CICAF programada para os dias 23-24 de março de 2017.
A manhã do primeiro dia foi dedicada à prestação de contas relativas ao ano de 2016 e a apresentação do Plano de Ação para 2017. Contamos com a presença do sr. Ildo e Jacó do Escritório Benincá que assessora a congregação.
Na continuidade dos trabalhos tivemos uma análise de conjuntura com a assessoria do irmão Irio Luiz Conti – MSF.
O irmão introduziu a reflexão fazendo uma distinção entre conjuntura e estrutura. Em seguida apresentou elementos importantes da atual conjuntura internacional, nacional, eclesial e da Vida Consagrada.
Na conjuntura internacional constata-se o crescimento da desigualdade no mundo e o enfraquecimento da democracia.
O assessor destacou elementos da atual conjuntura brasileira a partir das manchetes dos principais jornais do Brasil nos últimos três dias. Ficou claro que é um tempo de reconcentração de grupos e empresas, de quebra das empresas nacionais dando prioridade ao capital estrangeiro. É um tempo de ajustes e reformas com prejuízo dos direitos sociais para a população mais vulnerável. Paga-se um preço pela inclusão social da população no consumo, com baixa emancipação cidadã.
Nesse contexto o Governo Temer é um governo ilegítimo, resultante de um golpe parlamentar. Já caíram7 ministros e outros 5 e o Temer estão na lista do Janot. É um governo fraco, cheio de contradições e práticas de moralidade questionada e reprovada.
“Há uma crise política, que gerou decisões econômicas que, por sua vez, trouxeram consequências desfavoráveis econômicas e sociais. Na primeira década dos anos 2000, combinamos crescimento econômico, democracia e distribuição de renda. Estamos em 2015 com ameaças à democracia, sem crescimento econômico e piora no quadro social”
“A crise exige outro perfil: de diálogo, atenção, escuta. Talvez trocando o núcleo do governo, com outros ministros, possa ter uma postura diferente” (Márcio Pochmann, ESP, 04/10/2015).
“O país está em estado de recessão. As medidas tomadas pelo governo Temer apontam para uma destruição dos direitos e a não recuperação do país, o que leva a uma depressão econômica” (M. Pochmann, BdF, 09/11/16).
Segundo o INESC, o Congresso Nacional se caracteriza por ser: o mais conservador desde a redemocratização, dominado pela bancada ruralista (240) e evangélico-pentecostal (68) e interesses pessoais e corporativos, composto por pluralidade partidária (28), mas com baixa proposição de projetos para o Brasil.
Na conjuntura eclesial o irmão Irio deu destaque ao Projeto do papa Francisco. Segundo o teólogo Adrea Grillo, “um ponto fundamental do pontificado de Franciscoé a retomada de uma continuidade estrutural com o processo de “aggiornamento” introduzido no estilo eclesial por parte dos grandes documentos do Concílio Vaticano II; nesse caminho conciliar, Francisco teve que se distanciar de tons, temas e ênfases que o magistério tinha assumido “antes e depois do Concílio”.
“O desafio que se coloca diante de Francisco no início do quinto ano de pontificado, na presença do crescimento da oposição interna, é grande: o papa argentino continuará apontando principalmente para o seu testemunho pessoal, confiando no processo de transformação da Igreja em tempos longos, ou dará início a uma “nova fase” através de um fortalecimento organizacional da sua linha?” (Marco Politi, Il Fatto Quotidiano, 12-03-2017).
O efeito “papa Francisco” mostra baixo enraizamento na Igreja: coragem, paixão, mística, esperança, utopia..., a tímida posição e manifestação pública da Igreja, crescente retirada do envolvimento nas questões sociais, Igreja ainda fala muito e escuta pouco, engessada (no ritual, no discurso, nos dogmas, nas pastorais, nos movimentos) e os cristãos em geral e os jovens querem mais flexibilidade e leveza e as tentativas de evangelização na cidade alcançam pouco as massas urbanas e menos ainda o povo das periferias.
Diante dessa conjuntura quais são os maiores desafios para a Vida Consagrada hoje?
- Testemunhar a alegria profética nas periferias do mundo dos pobres em atitude de escuta e diálogo;
- Fortalecer iniciativas de trabalho de base: “volta às fontes” para ajudar a gerar o novo desde as bases;
- Avaliar os atuais projetos sociais e abrir-se para novas demandas dos “descartados” do sistema;
- Encarar o envelhecimento humano com serenidade, sucessão geracional nas províncias e gestão;
- Redimensionar, reorganizar no horizonte da missão, com projetos, “rostos” que congreguem as pessoas em causas comuns.
“Num mundo perpassado por crises precisamos manter lucidez e esperança.” (Irio Luiz Conti)
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