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24 Julho 2017
Um ano nas terras da Mama África

Paz e bem, gente amada!

É com encanto e alegria que descrevo um pouquinho da minha experiência de um ano que estou a viver aqui em Angola-África

“Vim aqui como quem nada sabe, que tem poucas verdades, foi assim que eu vim”.  (Jorge Trevisol)

De repente me dou conta que logo mais, no dia dois de julho, já faz um ano que saí do Brasil e vim parar nas terras da Mama África. Era o dia três de julho, quando pisei este chão sagrado mais precisamente do Kalawenda, Cazenga- Angola. Ainda no aeroporto, quando saímos, fomos recepcionadas pelas irmãs e ao mesmo tempo o irmão sol já nos mostrava os seus primeiros raios, um vento suave pairava sobre a imensa cidade de Luanda, o tempo também parecia nos desejar boas-vindas! A emoção foi muito grande!

Neste quase um ano aqui, tenho vivido experiências profundas, tenho me reencontrado como vocacionada à vida religiosa consagrada. Os testemunhos de resistência, fé e esperança que move o povo angolano é algo indescritível, só é possível sentir. Tenho aprendido diariamente que preciso colocar meus passos para fazer caminhos, junto com as amadas Irmãs e jovens postulantes Catequistas Franciscanas e junto com as pessoas que Deus vai nos oferecendo como presentes.

Nossa sororidade é formada por Irmã Eunice Berri, eu - Sílvia Cristina, Irmã Darlene Francisca de Lima, as postulantes, Delma Domingos e Mariana Tchindumbo. Do nosso jeito de ser e viver simplesmente, partilhamos a vida, enfrentamos juntas os desafios, que não são poucos, graças a Deus!  Acredito que é também isso, que nos move e nos faz sair em busca do que queremos.  No dia a dia procuramos colocar nossa vida ao serviço, nos diversos espaços que estamos, seja na escola, no Projecto de Alfabetização de jovens e Adultos, na Formação Interna, no Mosaiko (Instituto para a Cidadania), nas pastorais, nos grupos e comunidades. Como vocês podem perceber, são várias coisas que nos envolvem. E aqui estou (estamos) a realizar o que é possível!

No quintal da nossa casa funcionam seis grupos de alfabetização de jovens e adultos. Todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, a partir das 6h da manhã, as mamás (mães) e jovens chegam para estudar, ficam até as 8h30. Depois, dali mesmo elas já saem para o trabalho. É admirável o esforço que elas fazem para aprender a ler e escrever! A tarde, são mais os jovens que vem estudar. Eles começam as 16h e ficam até as 18h. Esse Projecto de Alfabetização é coordenado pelas Irmãs Catequistas Franciscanas, que dentro de uma metodologia de educação popular tentam fazer com que a partir da realidade das pessoas, elas sejam cada vez mais protagonistas da sua própria história. Sabemos que viver é mesmo uma arte que se aprende constantemente.

Na medida do possível, tenho me esforçado para acompanhar as vidas que pulsam no compasso do calor do sol, vidas que germinam como plantas depois de algumas gotas de chuva, vidas que emanam o amor na sua mais pura essência, vidas que me desafia a viver no seu modo.

É assim quase sempre, cada dia traz a sua surpresa, cada dia é um aprendizado. Em sua dinâmica a vida, as pessoas seguem um ritmo muito próprio. O exercício da paciência, de acompanhar o tempo sem pressa é de facto, algo bastante desafiador e bonito.  Para isso, exige-se que tenhamos olhar perspicaz, sensibilidade aguçada para se dar conta dos inúmeros sinais que a todo momento aparecem no nosso caminho. Estes são alguns dos encantos desta missão.

O sol que aquece e brilha fortemente no céu de Luanda tem a mesma intensidade da coragem e ousadia das mamas que saem muito cedo de casa para vender mantimentos como  arroz, sabão, feijão, peixe, pão, água, roupa, calçados e outras coisas. Elas ajeitam tudo dentro de uma bacia, colocam na cabeça com uma maestria sem igual e caminham distâncias longas para vender o quanto podem  para comprar o alimento e coisas necessárias para casa. Elas vendem também na rua, em frente as suas casa, ou na praça (feira).  Os papás (pais) em sua maioria trabalham em serviços de construção, guardas, alfaiates, enfim;  fazem o que aparece e o que podem para  oferecer o melhor às suas crianças. Lembrando que aqui as famílias são bastante alargadas, quase todas tem em média, mais de cinco filhos e muitas ainda cuidam dos sobrinhos, netos. As crianças são verdadeiros presentes de Deus na vida da família.

Outro encanto são as comunidades, confesso para vocês que nunca tinha visto um povo com fé tão fervorosa. As celebrações costumam durar cerca de duas a três horas, parece uma festa, cantam muito, batem palmas todas no mesmo ritmo. É lindo demais de se ver, sentir e vivenciar! E estou vivenciando a experiência de acompanhar duas equipas na Paróquia de Santa Madalena, a Pastoral Juvenil e a Pastoral Vocacional, estamos fazendo uma caminhada bonita, os jovens são bastante envolvidos, levam muito a sério o compromisso de ser liderança. Dá gosto aprender juntos!

Outro serviço que estou realizando é o de acompanhar a equipa de Comunicação do Mosaiko, que é um dos primeiros Institutos de Direitos Humanos aqui em Angola. Minha função tem sido a de partilhar com elas e eles, o que sei como jornalista. Ali, enfrento alguns desafios, um deles é a linguagem, o jeito de produzir notícias...Mais estou  a gostar muito!

No mais, eu ainda estou descobrindo, conhecendo. Tudo aqui é um mistério que envolve. E como sabemos mistérios não se revelam. Jamais conseguirei traduzir em palavras o que é viver aqui. Só mesmo, fazendo a experiência! Neste praticamente um ano, já vi, ouvi, senti muitas coisas que fazem muito bem, muito bem mesmo para a alma. Mas também, já vi, ouvi, senti a dor, a tristeza da inutilidade diante do sofrimento de realidades que nos questionam muito. Vocês que me conhecem, imaginem o quanto tudo isso tem mexido comigo. Porém, Deus se faz caminho e presença de muitas formas e nos ajuda a ir superando um dia de cada vez.

Amadas e amados, por enquanto é tudo! Só tenho a dizer que estou muito feliz de poder estar aqui, confesso que estou apaixonada pelo Kalawenda (nosso bairro, nossa cidade), pelas pessoas, pelo jeito de viver. Por um tempo, acho que já não quero mais voltar para o Brasil! Esta missão aqui, me encanta!

Sou muito grata, por todos os gestos, palavras e presença de cada uma e cada um que comigo caminha. Sou muito grata a cada uma das Irmãs Franciscanas do Apostolado Paroquial, as Irmãs Catequistas Franciscanas que tem me acolhido e ensinado muito! Sem vocês, eu nada seria! Sou muito grata, a Pastoral da Juventude da Diocese de Lages e todas as lideranças que tive a honra de conviver, vocês são luzes nos momentos de escuridão que às vezes, aparecem no meu caminho. Saibam que é muito especial, sentir vossa sintonia e comunhão.  Rezo para que a Divina Fonte de Vida nos abençoe, inspire, cuide e nos guie sempre!

Com carinho, ternura, paz e bem daqui envio o meu, o nosso abraço. 

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Sílvia Cristina -IFAP

Comentários  

#2 Irmã Eliza Schafaschek 05-08-2017 18:58
Querida Silvia, não a conheço, mas fiquei edificada com seu testemunho e seu espírito missionário. Parabéns, siga confiante. Deus está com você.
Com ternura
Ir. Eliza
#1 Rita Oechsler 28-07-2017 22:50
Que ousadia dessa jovem Irmã.
Parabéns Sílvia Cristina.
Abraço.
Rita

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