No mundo caótico em que vivemos, onde a violência é o cartaz de boas vindas presente em quase todos os lugares: na mídia, nos brinquedos, na família, na escola, no trânsito, no desrespeito à diversidade de culturas, na intolerância às religiões e nas relações de gênero e sexuais…, nas manifestações de racismo, de discriminação social e outras injustiças, consequências da estrutura da sociedade, firmada, ela própria na violência, necessário se faz repensar a realidade e as relações sociais a partir de outros critérios e paradigmas. Na tentativa de ajudar a mudar este cartaz da violência por uma palavra muito pequena, porém mundialmente desejada, que se chama PAZ.
O Projeto 4Ms é uma força que contribui para que a reflexão sobre a semana da paz esteja presente na sociedade e nas diferentes denominações religiosas em Kazenga, alargando para outros Bairros e municípios. É o terceiro ano que o Projeto realiza essa atividade, e a cada ano, verifica-se o florescer como a semente de mostarda que foi plantada em 2015 através dos grupos de alfabetização de adultos, e a árvore está ficando bem frondosa com a adesão de outras parcelas da sociedade. Como a paz tem vários rostos e é um desejo latente em todo ser vivente, na organização e realização desta atividade estão presentes, também outras denominações religiosas.
A abertura desta terceira semana pela paz aconteceu em cada escola e grupo, no dia 16 do mês de Outubro 2017, conforme a criatividade de cada um. No decorrer da semana todos e todas, com base no material de apoio, fizeram estudo e reflexão sobre vários conteúdos concernentes ao tema, aprofundaram, de modo particular, os princípios da paz, elegendo um deles para ser melhor trabalhado e apresentado em sua escola ou grupo. No dia 20 de Outubro, escolas, grupos de família, movimentos, saíram às ruas em caminhada, e essa demonstrou mais uma vez quanta sede de PAZ existe no meio do povo. Às 9h30min chegavam os grupos na paragem da Serração para a culminância da semana, com o ato público pela Paz. Ali, no local da concentração, os professores assumiram a animação, com músicas e mensagens acompanhados pela multidão organizada no largo, com grande vibração e alegria.
A Família Franciscana de Luanda-Angola também se fez presente, o que intensificou o respeito e credibilidade ao momento e é a demonstração de que sente-se interessada em contribuir com a iniciativa. Esta contribuição já se fez sentir através da cedência do som, que por sua vez deu um colorido especial, pois tinha abrangência de voz para dar brilho ao evento.
Desenvolver a cultura da paz começa pela vida cotidiana de cada pessoa e “essa consciência passa inevitavelmente pela escola, uma vez que é na escola, com o estudo, que aumentamos a nossa liberdade, porque esta só se constrói quando se tem uma noção de quais são as opções”. O Projeto 4Ms une a busca da paz como conteúdo e atitude no processo de aprendizagem, a fim de que os estudantes vão incutindo em suas mentes e ações, o valor do que estão aprendendo.
A Paz é “do jeito da criança”: é aberta e dinâmica, corajosa, ousada, desafiadora e atrevida, atravessa limites, “ao mesmo tempo em que ela é violada em sua casa, bairro, fronteira, país ou etnia, é também reclamada, com a mesma intensidade da sua violação, em cada discurso e manifestação em prol do bem comum, da não-violência, dos direitos humanos, dos direitos da mulher, da criança…”
Para os facilitadores/as “o tema sobre a paz para esse ano de 2017 foi mais abrangente em relação a do ano passado porque definiu-se com toda ânsia os princípios e os fatores, e que estudantes e facilitadores/as puderam compreender que a paz só é possível se cultivarmos a educação libertadora, onde consiste o amor, o perdão e o respeito mútuo”.
Entendemos que a PAZ não é apenas um ideal a ser buscado, mas uma forma permanente de vida, baseada na justiça e na inclusão social. Não são os pactos sociais não cumpridos que a trarão ao nosso meio, mas a construção pessoal desta cultura da não-violência no cotidiano da vida que resultará na vivência desta PAZ negada e reclamada com tanta intensidade.
Qual o caminho a ser buscado? A saída é iluminar nossa realidade com a luz da Palavra de Deus, correr o risco, resistir, manter acesa a chama da esperança, cantando com Dom Pedro Casaldaliga: “Saber esperar sabendo, ao mesmo tempo forçar. A hora daquela urgência, que não permite esperar”. E como dizia Dom Helder Câmara: “esperança sem risco não é esperança. Esperança é crer na aventura do amor”.
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