Um olhar de fora, mas de dentro ao mesmo tempo!
Há quatro anos comecei a caminhada junto aos Guarani Kaiowá do MS. Vim apenas com a “cara e coragem” de começar uma nova experiência, visto que não conhecia a realidade e muito menos os desafios que aqui encontraria.
Aceitei prontamente o convite que me foi feito para compor a equipe em Dourados MS. Aqui já estava a Miriam Spézia dando os passos iniciais e já encaminhada pela equipe geral de articulação do Projeto Guarani, Marco do centenário da congregação.
Vim com o desejo de conhecer, aproximar, escutar e aprender com os indígenas a caminhada que os conduz nesta realidade. Não tinha lido nada sobre este povo e sua história. Vim despojada e vazia de tudo para com eles encher-me das suas experiências, vida, cultura, espiritualidade e tudo que compõe o ser Guarani Kaiowá nestas terras do MS. Posso afirmar que foi:
Tempo de muita aprendizagem e adaptação. Aprendi frear os passos ao ritmo do cotidiano... Aprendi a dar tempo ao tempo, pois as pessoas são mais importantes que o olhar no relógio, a pressa, as vaidades, os compromissos que vamos enchendo nas nossas intermináveis agendas. Assim, no compasso e ritmo do povo, na roda do tereré ou do mate, acompanhado de muita conversa, troca de histórias dos antepassados, explicação da cultura e dos costumes, ensinamento e compreensão e aprendizagem da língua, partilha das informações, formação política e conjuntural, fui entendendo aos poucos a realidade Guarani Kaiowá.
Este povo nos ensina muito com sua maneira do bem viver sem perder a alegria e a paz, mesmo em situações de conflitos, despejos, perseguições, fome e todo tipo de violências enfrentadas.
“Os indígenas são povos de esperança; uma esperança que vai minando no interior das pessoas e dos sistemas da sociedade.”
Para mim conviver assumir a missão nesta realidade foi uma graça! Tempo de rever valores e conceitos; tempo de escuta e muita aprendizagem; tempo de silêncio e contemplação; tempo de ñemonguetá porã; (muita partilha); tempo de tirar as sandálias e pisar no lugar sagrado; tempo de “pagar micos” por palavras pronunciadas erradas na língua guarani; tempo de conhecimento e conquista da confiança, do pertencer ao grupo, do ser como uma deles; tempo ainda do susto, do medo, das perseguições e emboscadas, mas também, tempo onde fui experimentando a presença amorosa do Deus que caminha conosco!
Sinto ainda que foi também um tempo forte de vivência de nossa espiritualidade francisclariana: no despojamento, na inserção, na Itinerância, na humildade, na irmandade ampliada, no ser menor; nos gestos de partilha e solidariedade.
Como irmãs catequistas franciscanas podemos afirmar que nossa contribuição é grande, demonstradas na presença real, significativa e solidária em todo momento da caminhada dos Guarani e Kaiowá do MS. Mas o clamor continua: “Os pequeninos pedem pão”. Estamos dispostas não só a repartir o pão material, mas o pão mais precioso que temos: a nossa vida em missão! Quem deseja somar conosco?
“A Sabedoria Guarani é fonte de esperança, porque estamos convencidas de que a presença indígena na sociedade é como um oásis de fé e espiritualidade que pode dar humidade ao mundo onde prevalece a secura estrutural.”
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