O Estado do Maranhão-Brasil, agrega em seu território aproximadamente 40 mil indígenas, totalizando dez etnias dos povos originários. Destas, cinco estão na jurisdição eclesiástica da Diocese de Grajaú (centro sul do Maranhão), somando aproximadamente 30 mil indígenas.
A população está localizada em 06 municípios: Povo Kanela que se identifica como, Rankokramekra, Apajekra e Memortumore. Os krepum Katejê, os Krenyê. Este é o menor povo. E o Povo Guajajara/Tenterah, é o mais numeroso. Sem contar que tem um povo isolado, reconhecido como Awa Guaja. Os Krenye vivem a alegria e o enamoramento pela conquista recente da terra sonhada, depois de muita dor, luta e vidas que tombaram pelo caminho. Estamos torcendo e rezando, que nada aconteça de negativo neste “novo tempo”. Tem regiões muito distantes e estradas de difícil acesso. Também há muitas aldeias com escassez de água e outras à beira de rio secando. Falta peixe, caça, frutas nativas...
Estas etnias como as demais, vêm resistindo a todo tipo de massacre, desde o início da colonização do Brasil. Nestes últimos anos os territórios indígenas estão sofrendo intensas invasões, depredações, desmatamentos e comércio ilegal de madeira nobre, sem falar nos incêndios provocados por caçadores ou madeireiros. A inoperância e a negligência dos órgãos governamentais para deter tudo isso chega a ser criminosa. E o descaso referente as políticas publicas. Essa sensação de permanente insegurança e abandono oficial associado aos crescentes preconceitos e renovadas formas de racismo da população local, não indígena, tornam os povos sempre mais vulneráveis e fragilizados. Expostos a entrarem na lógica dos interesses das grandes empresas/mineradoras, do agronegócio e não ampliação das terras.
Cresce ainda mais a preocupação com o governo anti-indígena que vai assumir. Se tirar da Constituição Federal os Direitos conquistados a dura pena, que muitas vezes já são violados, então a violência vai ser mais acirrada. Há muita preocupação neste tocante. Pode vir chumbo grosso, que sempre quebra do lado mais fraco! Listamos os principais problemas e desafios que os povos indígenas, mais especificamente os da nossa macrorregião vêm sofrendo hoje em dia, pois isso ajuda a entender o tipo de ação e missão que queremos desenvolver.
Os diferentes orçamentos federais e estaduais aprovados e que fazem referência à realidade indígena, sofrem a cada ano, novos cortes, na assistência sanitária, na educação, na agricultura, nas infraestruturas, transportes, etc. aumentando o número de aldeias que sofrem graves problemas de subnutrição, fuga para as cidades, abandono de manifestações culturais históricas, violência, bebedeiras e desagregação interna. A Infiltrações ou casamentos de não índios, que em muitos casos provocam divisões nas aldeias e em outros são causadores dos assaltos, criminalidades e a descriminação pela sociedade envolvente... Quanto sofrimento! Porém, são fortes, guerreiros e corajosos.
A nossa realidade socioeconômica indígena local tem características bem específicas: a nossa Diocese possui a maior concentração de povos originários do Estado, onde vive o povo Guajajara, o quarto mais numeroso do Brasil, crescendo bem acima da média nacional. Situados numa região de transição entre a pré-amazônia e o cerrado.
Os povos indígenas da diocese de Grajaú estão espalhados por centenas de aldeias, muitas delas acessíveis somente no verão. Embora contando com várias melhorias na assistência à saúde (água potável, postos de saúde, técnicos e profissionais, etc.) temos centenas de indígenas sendo vítimas de doenças consideradas mundialmente erradicadas. Muitos casos são provocados pela desnutrição devidos à falta de incentivo à agricultura, na não transmissão de novas técnicas agrícolas, no aumento de terras cansadas e queimadas, na desvalorização do trabalho do campo, que não facilita a permanência dos jovens indígenas no cultivo da roça.
A educação escolar indígena continua carregada de contradições: faltam prédios, transporte para os alunos, merenda, professores... São relativamente poucos os indígenas com curso superior que demonstram segurança nessa dimensão.
Um outro aspecto que aparece com força é a sede do “espiritual” que vem se manifestando nas nossas aldeias. Uma sede nem sempre corretamente canalizada, pois estão emergindo sempre mais igrejas fundamentalistas, radicalismo e fanatismo que nos preocupam. Chegam de forma vigorosa tentado acabar a cultura, dizendo que a dança a pintura e a festa são diabólicas. Com pregações que bradam aos céus, provocando distúrbios emocionais que tem levado jovens ao suicídio. Infelizmente inúmeras denominações religiosas ocupam o espaço deixado vazio pela igreja católica.
O nosso desafio como missionárias é de um lado, reconhecer e respeitar a autonomia da cultura indígena, sendo que o maior povo é o Guajajara, que nunca tem aceitado, historicamente, de viver isolada e sem contatos interculturais. Por outro lado, procuramos testemunhar de forma delicada e respeitosa os sinais-testemunho dos valores evangélicos que não podem ser reduzidos a ritos ou liturgias, mas que se servem também para incentivar e defender a “terra-casa comum” sem inibições e falsos medo.
A Diocese de Grajaú, ciente de sua responsabilidade está, há alguns anos desenvolvendo uma presença sistemática junto a estes Povos e, através do diálogo respeitoso procura contribuir com a valorização cultural, a defesa do protagonismo indígena na luta por seus direitos.
Há em curso nesse momento no congresso nacional uma clara intenção em retirar do governo federal o poder de demarcação das terras indígenas para concedê-lo ao próprio congresso que é formado na sua maioria por deputados e senadores ligados às mineradoras e ao agronegócio. Associado a isso, há vários projetos de lei que estão tramitando no congresso nacional, para não permitir que se ampliem a superfície das terras indígenas. E com os novos eleitos neste pleito vai favorecer mais esta posição. Tudo deveria permanecer como estava na época da Constituição de 1988, mesmo que a população indígena esteja aumentando e os territórios tenham sido invadidos e roubados antes e depois da carta Magna!
Nossa Congregação através da Província Irmã Cléglia Ânesi está presente nesta missão junto aos indígenas no Maranhão desde 2004. Atualmente marcam presença nesta realidade as irmãs: Maria de Jesus Rodrigues Lima Guajajara, Custodia da Silva e Marinete Silva Sousa. Marinete, recém chegada, veio com o coração aberto, mas ainda está conhecendo este Sagrado Chão/ Tecohaw. O objetivo da Pastoral Indigenista é: “Ser presença solidária e de esperança entre os povos indígenas, pela escuta e diálogo respeitando e valorizando a cultura, fortalecendo seu protagonismo na defesa da vida, em vista construção do Reino de Deus”.
É nosso dever ser uma presença solidária, amiga, alegre, gratuita, confiante, evangelizadora e profética, que ajudem a recuperarem a esperança. Mais do fazer queremos ser. Sem medo de sentir e exalar o cheiro da mata, da terra, do suor. “O pastor sente e transmite o cheiro das ovelhas”. Papa Francisco. Que eles exerçam seu protagonismo como povos originários, no conhecimento e busca de seus direitos e deveres. Na educação e saúde diferenciadas, preservação da cultura, território livre, respeito, dignidade, vida.
Nós, irmãs, nos sentimos como uma gota d’água no meio do mar, frente aos apelos. As solicitações constantes, as quais procuramos destacar: formação, evangelização e alimento.
Nossa Província sensibilizada pela dor da fome, fez no ano passado um pequeno projeto na busca de conseguir junto a eles um pouco de sementes para continuarem os plantios. Quando a chuva chegou com mais vigor, sobretudo foi na busca de manivas (ramas de mandioca), pois só se encontravam muito distante. E além do mais pela escassez, o que era gratuito se tornou mercadoria. Como também sementes de feijão e milho. Estas menos, visto que a farinha é o alimento base. Agora é época de preparar as roças, há muita esperança e expectativa de boa chuva. Foi uma ajuda pequena, porem fez a diferença. Colheram muito milho, abóbora, feijão e como no Nordeste o calor é intenso tudo dá rápido, já estão fazendo farinha. Quando a gente volta às aldeias, vemos o sorriso estampado nos rostos das famílias que com alegria partilham de sua “pequena fartura!”. “Deus seja louvado no pão partilhado”.
Na Educação há uma busca de parceria por parte da Escola Família Agrícola existente nas proximidades de Grajaú. É apenas o inicio, onde somente 03 jovens estão fazendo experiência, porem há uma esperança. A Escola além de trabalhar a dimensão acadêmica, ensina novos métodos e princípios ecológicos de trabalhar a terra, como também fortalece a vivencia e a prática comunitária.
Quanto a Evangelização, todas nós sabemos que defender a vida é o maior e mais digno meio de evangelizar. Realizamos: celebração da Palavra, estudo bíblico, visitas, rodas de conversas, sempre que possível estamos com eles nos momentos de dor e nas festas da cultura, nos conflitos e reinvindicações. Realizamos encontros de formação com lideranças/caciques, oficinas com mulheres, Jovens e crianças. Preparação para batizados quando nos pedem.
Queremos lembrar o Sínodo para a Amazônia, onde em preparação ao mesmo nos dedicamos ao mapeamento, reflexão, a escuta e celebração, visto os Povos Indígenas serem os protagonistas na vida, da história e beleza desta vasta região amazônica. Está sendo preciosamente rica e profunda para esta missão. Magnifica!
Somam na missão, aliados leigos/as que simpatizam com à causa, na maioria são professores e agentes de saúde nas aldeias. Enfatizamos com certo orgulho que alguns são indígenas. Nosso intuito é de poder crescer em número e preparo desta equipe evangelizadora. Temos como aliados também o CIMI, que apesar de serem poucas pessoas, muito contribue especialmente na luta pela defesa da terra e a Associação Carlo Ubbiali, na presença periódica de Padre Claudio Bombieri, na missão e em pequenos projetos de ajuda humanitária, ecológica...
Nossa esperança é de que na graça de Deus, possamos continuar trilhando esta sagrada, fecunda e Mãe Terra. E com nativos fecundar o chão, ver a vida brota, florescer e dar frutos, trinta, sessenta, e cem por um (Mc 4, 8).
Queridas irmãs este escrito singelo e grandioso, revela um pedaço de nossa vida, coração e missão. Contamos com as preces de todas, para que sejamos discípulas missionárias fiéis ao Pai, que nos convoca, envia e confia.
Mãe de Guadalupe rogai por todos os seus filhos e filhas indígenas e protegei a todas as pessoas que se dedicam com carinho ao cuidado da Casa Comum.
Tupãn Katuhaw / Paz, e bem em nome do Senhor!