A primavera vem chegando;
ela cruza o rio e o sonho que tu sonhas! (M. Quintana)
A primavera vem ao nosso encontro como expressão do contínuo movimento da vida. É difícil aproximar-se dela e deixar-se abraçar por sua singular beleza sem recorrer à poesia que possibilita contemplar a interligação do universo que tece múltiplas intensidades. Um excesso de detalhes, sons e perfumes que transforma a natureza num grande vitral!
Tudo fala da consistência original dos sonhos enquanto os cataventos livres e indisciplinados convidam a dançar e a ganhar velocidade às margens de outros rios! É uma irrefreável tendência pelo novo que perpassa o cosmos e a vida!
Originalmente, primavera designa o primeiro verdor! Este tornar verde associa-se aos desenhos de novas paisagens e a intensidade de tantas conexões e processos sutis que não cessam de nos surpreender! A nova estação e espaço traz outras brisas e com ar fresco atravessa os espaços da casa comum e da vida!
Como manifestação da aliança entre muitos componentes interconectáveis, a primavera faz aflorar os sonhos permitindo também ligar-nos ao sopro daquela brisa vital que pôs em movimento a aventura de nossa vida.
Superando invernos e aconchegos a força do carisma nos alcançou e nos atraiu! Como não lembrar e revitalizar a alegria e a paixão de quando éramos frágeis e pequenas, e por isso tão belas e cheias de música junto aos pequeninos!
Na dinâmica da vida tudo remete a tudo, tudo é coextensivo e remete aos anseios que, ontem e hoje hospedamos e que trançamos entre nós e com o povo. No dia-a-dia tudo vem misturado. Com o perfume das flores e com o canto dos pássaros, vem o grito da fome, a dor do abandono sofrido por tantos povos; vem o grito da natureza ultrajada, o cheiro das queimadas e das águas poluídas; vem o escândalo da corrupção e o desencanto de tantas vidas que dificilmente chegarão a desabrochar!
A exemplo dos ramos despertadores que acordam na dormência do inverno, os profetas e profetisas são cuidadores da vigilância e da presença revitalizadora de Deus! Em meio ao cansaço e a própria desilusão, eles anunciam que ainda há esperança e que ainda sopra um vento fecundo sobre a terra!
Mesmo atravessando tempos difíceis, esta primavera nos convida a lançar ramos de esperança abrindo caminhos e desenhando outros mapas e iniciativas para a sustentabilidade da vida. As pequenas centelhas de luz e solidariedade são eficazes porque alumiam as noites e vão anunciando novas estações e percursos para a vivência do carisma.
Em companhia de outras gerações e povos alegres e coloridos como a primavera, esta possibilidade é uma bênção! Os sabiás cantam, as abelhas fabricam o mel e a brisa fecunda as manhãs e os recomeços! É o irromper de odres com sabor de compartilhamento e do transbordamento de talhas mais ecológicas!
A Divina Ruah, cuidadora de todos os impulsos de vida conhece a seiva que continua a correr nas velhas raízes capaz de suscitar vida e amor. Já nos alegramos com tantos ecos vindos de nossos diálogos! Com certeza nos reconheceremos e nos alegraremos com os diferentes brotos que virão, aumentando nossa alegria e esperança! Que em tudo possamos experimentar o perfume cativante da PAZ!
A primavera voltou!
A terra é novamente uma menina que faz poemas! (Rilke)
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