“Nas águas da organização pescamos vida e dignidade”
Nada nesse mundo pode nos ser indiferente”. Essa é uma das muitas frases que foram proferidas no Congresso Nacional, realizado em Belém do Pará, em maio deste ano, para celebrar os 50 anos do Conselho Pastoral dos Pescadores/as (CPP).
É num ambiente de busca por justiça e vida que a Pastoral dos Pescadores/as vem trabalhando em todo o Brasil. É um olhar que vê a ternura, mas também o sofrimento, no rosto de cada um e cada uma; que vê os problemas da marisqueira, da catadora de caranguejo, do pescador/a que sai de barco, deixando para trás esposa e filhos, e vai no balançar das ondas mar adentro, sonhando com o peixe que traz o pão para sua família. Nesse olhar se percebe o rosto marcado pelo sol, pela chuva, mas também pela esperança de dias melhores.
É um trabalho de muita escuta. Ouve-se a voz de lamento dos pescadores/as, quando a maré não é favorável. Ouvem-se gritos de socorro, quando não conseguem trazer na rede o alimento do dia a dia; quando veem a exploração do dono da embarcação; quando veem que o mar não “está pra peixe”, devido à poluição que mata os seres vivos que nele habitam; quando veem que o veneno jogado na terra escorre pelo rio; quando veem que o mar virou lama.
O trabalho social é desenvolvido em pequenas comunidades, em pequenos grupos de pescadores/as, em busca de um olhar amplo como o da águia, a fim de ver e perceber o que acontece à sua volta. Trabalha-se em busca de convívio com os biomas, respeitando cada um no ecossistema.
A Pastoral dos Pescadores/as teve seu início em 1968, com o missionário Frei Alfredo Schnuettgen. A celebração dos 50 anos de história aconteceu no Congresso do Conselho Pastoral dos Pescadores, em Belém do Pará. Foram dois anos de intensa preparação, buscando conhecer a história, contemplar os momentos fortes do caminho percorrido e colher luzes para o futuro.
Nosso espaço de presença e atuação é o Regional Leste 2, especificamente o Espírito Santo. Aqui, a Pastoral teve início com um primeiro olhar do Padre Evaldo e Irmã Maria Lunardi sobre os pescadores, por ocasião de um desastre em alto mar, que atingiu três pescadores. Em 2014, o CPP Nacional teve conhecimento de nossa presença no Espírito Santo e nos procurou para ampliar o trabalho e organizar a Pastoral no Estado. Convidamos Jane Rios e buscamos apoio nas Paróquias, com bom resultado. Nossa atuação tem como objetivos:
* Território pesqueiro para a pesca artesanal – contra a crescente privatização do território e da água;
* Meio ambiente – proteção das nascentes; contra a devastação das matas e mangues; combate à poluição; recuperação do Rio Doce; denúncia dos danos causados pela indústria de celulose...
* Direitos – atualmente, os pescadores/as estão perdendo direitos conquistados com muita luta na Constituinte da Pesca.
Quando a lama da barragem que se rompeu em Mariana chegou ao Estado do Espírito Santo, surgiu a Comissão de Luta que passou a atuar em diversas frentes, somando na mesma causa.
Em vista dos acontecimentos, nos primeiros anos de atividades, o CPP do Espírito Santo voltou sua atenção para os municípios localizados de Vitória ao Norte do Estado. Hoje, continua um agente para o Norte, incluindo alguns municípios de Minas Gerais, e outra equipe atende a área de Vitória e o Sul do Estado.
Irmã Maria do Carmo colabora, sempre que necessário, nos encontros que reúnem grande número de pescadores/as, bem como oferece a eles atendimento na área da saúde.
Da nossa parte, aumenta a paixão pela vida do povo e defesa da Casa Comum. Louvamos a Deus por tudo o que aprendemos das mulheres, jovens e homens das águas, com seu forte testemunho de solidariedade, fé, alegria, esperança e sabedoria, diante do sofrimento e de tantas situações adversas.
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