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05 Outubro 2019
Irmã Francinete G. Noronha, participante do Sínodo

O que dizer sobre a vivência do Sínodo para a Amazônia,

               como Indígena e Irmã Catequista Franciscana?

Neste tempo favorável em que a Igreja convoca um sínodo para a Amazônia, todo o povo de Deus, em especial os nove países que formam a Pan Amazônia – Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa – temos a oportunidade de ser vistos e escutados pelo mundo inteiro. Podemos tornar mais conhecido o nosso modo de ser e viver na Amazônia, em especial dos “pequeninos” que não têm voz nem vez (indígenas, ribeirinhos, seringueiros...).

Para mim, pessoalmente, está sendo muito importante participar de uma Igreja que se preocupa com os excluídos, numa sociedade que explora e destrói a Mãe Natureza. Percebo que não só ambientalistas e ONGs defendem a Amazônia, mas também a Igreja, aquela que está presente nos lugares longínquos, através de homens e mulheres consagrados, que vivem e entregam suas vidas nessas terras.

Como indígena pertencente à etnia Tuyuka, sinto-me convidada e contemplada para reafirmar o meu jeito de ser e viver, de pensar, celebrar e lutar, mas com um olhar de esperança e de vida. Por quê? Na maioria das vezes, a população indígena é vista como se fôssemos “incapazes” em todos os sentidos. Mas o que o Papa Francisco diz em relação aos pobres, diz também a nosso respeito: “Somos chamados a descobrir Cristo neles [...], a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles” (EG 198).O que dizer sobre a questão socioambiental? Como indígena, penso que tudo aquilo que existe na criação (a água, o território, a natureza, a vida, a cultura, os encantados...), tudo entra na parte social, econômica, religiosa e cultural. É isso que a Igreja chama de “Ecologia Integral”. O Instrumentum Laboris afirma: “A ecologia integral se baseia no reconhecimento da relacionalidade como categoria humana fundamental. Isto significa que nos desenvolvemos como seres humanos com base em nossos relacionamentos conosco mesmos, com os outros, com a sociedade em geral, com a natureza/meio ambiente e com Deus” (IL, 47).

A população indígena é ampla e não podemos generalizar, pensando que todos os povos são iguais. Cada etnia, que vive em diferentes regiões e países, tem o seu modo de viver, de lutar, de celebrar... É a riqueza que cada povo tem, e que temos como indígenas! Graças a Deus, em vários lugares estão sendo resgatadas as línguas, crenças e danças que faziam parte das nossas vidas, e que foram se perdendo no decorrer do encontro com a chamada “civilização” e com a própria Igreja. Mas agora, a Igreja vê que somos importantes e que tudo isso é importante!

Dizia meu avô falecido: “Filha, nós somos verdadeiros cristãos católicos porque partilhamos o que temos, e oferecemos quando chega visita; derrubamos árvores para ter roça e plantar o que é necessário para viver, e não para acumular e perder”!

Vejo que por aí vamos caminhando, sempre lutando e não perdendo a esperança de ser uma Igreja viva, com celebrações animadas com cantos, ritos e benzimentos, porque isso nos alimenta como filhos e filhas de Deus e cuidadores da nossa Casa Comum. Se a gente não cuidar, proteger e lutar, quem é que vai lutar por nós?

Tive a oportunidade de participar do Fórum Franciscano para o Sínodo Pan-Amazônico, que refletiu sobre “Perspectivas e desafios para a Conferência da Família Franciscana do Brasil”, a partir do tema do Sínodo. Para mim, os temas tratados no Fórum foram pertinentes à nossa vivência e me ajudaram a reafirmar a própria identidade. Senti-me bem contemplada pelos expositores, mas percebo que este é um desafio para  aqueles e aquelas que ainda não conhecem a realidade indígena.

Um dos expositores, o salesiano Padre Justino Sarmento, apresentou algumas questões a serem refletidas: Como vocês, membros da Família Franciscana podem repensar e ressignificar suas histórias e práticas, em meio aos povos amazônicos e indígenas, a partir dos desafios lançados pelo Sínodo para a Amazônia?

Na perspectiva do Sínodo, como a Família Franciscana pode repensar o modelo de sua presença missionária na Amazônia e em meio às realidades atuais dos povos indígenas? Como a Família Franciscana construirá uma Igreja (Congregação) com rosto amazônico e indígena, com os povos amazônicos e os povos indígenas?

Nossa esperança é que a Família Franciscana, a partir do carisma herdado de Francisco e Clara de Assis,

Contribua na construção de uma Igreja em saída, samaritana, presente, acolhedora, amiga... Uma Igreja com rosto amazônico e indígena: novas presenças, novos modelos de formação vocacional, vocações autóctones...

Compartilhe a vida local com coração, cabeça e mãos, aprendendo as línguas, culturas, tradições de sabedorias, cosmologias e mitologias autóctones (cf. IL 129, d, 3-4).

Viva a fé e acredite nos povos amazônicos e indígenas, tornando-os protagonistas e interlocutores principais em todos os níveis.

Celebre a vida com os povos amazônicos e indígenas; viva, conviva e esteja presente onde mais precisa, com os mais necessitados.

Promova a vida dos povos amazônicos e indígenas, através da inculturação da mensagem do Evangelho, do carisma franciscano, dos ministérios...

Contribua com novos projetos e ações de Cuidado da Casa Comum, planos de formação cristã e para uma ecologia integral.

Segundo Pe. Justino Sarmento, a Família Franciscana pode contribuir com a Igreja na Amazônia, assumindo um estilo de vida inspirado na espiritualidade de São Francisco de Assis, que é “exemplo por excelência do cuidado do que é mais frágil e de uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade”; que se encarna a ponto de não haver separação entre a preocupação pela natureza, a justiça com os pobres, o compromisso com a sociedade e a paz interior.

No Sínodo, que se realizará em Roma no mês de outubro, muitos bispos estarão levando as vozes dos povos indígenas. Esperamos que realmente ressoe na sala sinodal o clamor em defesa da Amazônia, e que os demais bispos também possam repensar como lidar com a criação; que o nosso modo de viver inspire a olhar com respeito e acolhida cada povo com sua cultura, e também nossa Casa Comum, que precisa de cuidados urgentes.

Como Igreja, somos chamados a fortalecer o protagonismo dos próprios povos. Precisamos de uma espiritualidade intercultural que nos ajude a interagir com a diversidade dos povos e suas tradições. Devemos somar forças para cuidarmos juntos de nossa Casa Comum. Animar uma Igreja com rosto amazônico implica, para os missionários, a capacidade de descobrir as sementes e frutos do Verbo, já presentes na vida e na cosmovisão desses povos. Para isso, é necessária uma presença estável, o conhecimento da língua autóctone, de suas culturas e de sua experiência espiritual. Só assim a Igreja vai fazer presente a vida de Cristo nesses povos. (Cf. Documento preparatório do Sínodo para a Amazônia, 15).

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Francinete G. Noronha

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