“O sínodo é espaço para escutar os povos, vem fortalecer a nossa luta, que vai continuar de geração em geração. Que lá possamos encontrar uma luz que ilumine nosso caminho, que juntos, nós possamos trilhar nele. Nossa esperança é de encontrar a paz e viver na harmonia”.Cacique Kátia
Estivemos reunidas para o retiro ecológico, na aldeia Akratikatêjê, da tribo Gavião, Ir. Zélia Maria Batista, as formandas Jadiane Silva de Araújo e Patrícia Costa Cardoso, a vocacionada Thainá Nogueira Lobo, as leigas: Vanalda Gomes Araújo, colaboradora do CIMI, Fernanda Lowe, missionária recém-vinda do Rio Grande do Sul e eu, Ir. Iria Minosso.
Iniciamos o retiro com um momento de convivência na escola da aldeia, onde a Cacique Kátia nos falou da luta do seu povo para a sua sobrevivência e da espiritualidade que o move.
Lanchamos e em seguida fizemos algumas orientações para a caminhada na mata em direção ao monte sagrado para o povo Gavião. Fomos convidadas a fazer a experiência dos discípulos de Emaús, caminhar em silêncio, escutar a fala da floresta, escutar o vento do espírito que nos dizia da beleza da vida ofertada pelo criador.
Da escuta, buscar compreender o mistério de Deus, o Senhor que se aproxima, caminha conosco, nos escuta, interpela e nos abre os olhos para podermos reconhecê-lo na partilha solidária.
A Cacique, a mãe da Cacique, os filhos/as e um grupo grande de crianças nos acompanharam em todo o trajeto. O filho maior ia à frente abrindo caminho e um deles ao final, na retaguarda.
A subida ao monte é uma experiência incrível, como Deus nos eleva, faz o caminho íngreme se tornar um tapete de folhas macias que tornava suave a nossa passagem. As crianças e jovens nos ajudando na subida. Ao chegar ao cume, uma respiração de vida tomou conta de nós. A visão ao longe fez pensar o quanto a grandeza de Deus nos envolve.
Mas então, ouvimos com atenção a Cacique Kátia, escolhida para participar do Sínodo para a Amazônia em Roma representando os povos originários desta região, nos dizer da expectativa e futuro que o seu povo tem com a sua participação no sínodo.
Ela pergunta: "Porque respeitar a natureza? A natureza nos entende e nós entendemos a natureza. Nossa participação é para fazer clamar a nossa voz, a voz dos nossos povos". Para as Irmãs Catequistas Franciscanas, nos diz: "continuem a incentivar e apoiar o nosso povo, estar ligadas com a natureza. Interligadas, aqui neste lugar sagrado, o nosso Deus está nos dando sabedoria, como está na vida de vocês! Deus escolheu e preparou vocês! Continuem com um coração humilde... É por isso que vocês entendem a gente".
Em seguida passou a falar do Sínodo: "O sínodo representa a escuta dos povos e vem fortalecer a nossa luta, que vai continuar de geração em geração. Que lá possamos encontrar uma luz que ilumine nosso caminho, que juntos nós possamos trilhar nele. Nossa esperança é de encontrar a paz e viver na harmonia”.
A Cacique Kátia Valdenilson espera encontrar em Roma com o papa Francisco uma paz, uma solução, voltar com o coração cheio de paz. “Que nossa voz chegue a Deus e esse grito possa tocar na vida desse povo. Porque desde que o meu povo foi expulso de nossa terra pelo Estado que favoreceu o interesse das grandes empreiteiras que se apossaram de nossa terra, nós não temos paz, vida. Nossa terra vem diminuindo cada dia".
Cada participante do retiro pode dizer a sua palavra. A Ir. Zélia disse à Katia e seu povo: "É com grande alegria que estamos aqui. Esse chão é muito sagrado porque Akratikatêjê, Gavião da montanha, é o lugar do encontro com Deus, com tudo o que é espiritual, lugar de presença de seres divinos porque a obra da criação é divina. Agradecemos muito ao teu povo porque vocês são a história de luta e resistência dos povos dessa região".
Fernanda, jovem advogada, missionária, a pouco chegada em Marabá, disse: "Sou muito agradecida por essa experiência. Desde que cheguei estou aprendendo a perspectiva do tempo, o tempo é outro aqui. Aprendendo a respeitar as diferentes culturas. Todos nós somos parte da natureza. Aqui vim aprender a reconhecer como são as coisas, pois tudo está interligado, meu desejo é colaborar e desenvolver o coletivo, estou disposta a olhar a natureza e as pessoas como irmãos e irmãs. Deus é o nosso Deus, cada povo tem a sua cultura. No retorno do sínodo estamos aqui para dialogar e colaborar".
As aspirantes Jadiane e Patrícia e a vocacionada Thainá também reconheceram o grande valor dessa experiência "que fortalece a nossa espiritualidade francisclariana, nos ajuda a voltar às nossas origens pois somos filhas desta terra. Hoje foi um dia de aprendizagem que muito vai contribuir para o nosso crescimento".
Vanalda, colaboradora do CIMI, disse: "para mim é muito especial estar aqui, sinto-me renovada cada vez que venho nesta aldeia, especialmente por ser colaboradora do CIMI. Nesta perspectiva de uma sociedade mais justa, é muito importante estar aqui e consagrar a Kátia na sua ida para o Sínodo. Cada vez aprendo mais com cada povo com quem estou sempre em contato.
Quero agradecer as irmãs por esta oportunidade, também às irmãs que não estão aqui, Iracema e Lucélia. Por essa convivência com as irmãs e as jovens e com esse povo que luta pela agroecologia e sustentabilidade, que está evoluindo. Que Deus te leve Kátia e Nossa Senhora Rainha da Amazônia, padroeira dos povos, te abençoe nessa viagem"!
Em seguida, relembrando o encontro de Jesus com os dois discípulos de Emaús, a matriarca da tribo partilhou para todos/as o pão, sinal de nossa ligação com a mãe terra, com o chão sagrado que estávamos pisando. E para concluir, num gesto de benção, todos imploramos do céu as bênçãos para Kátia, consagrando-a porta voz dos povos originários da Amazônia.