“Eu era migrante e me acolhestes...”
Continuando a partilha de nossa presença na Trifronteira Amazônica, destacamos que direcionamos maior energia para a Equipe da Mobilidade Humana atuante desde 2017. É um grupo inter-fronteiras, que varia entre 12 pessoas, composta por membros da Secretaria da Ação Social, da Caritas, assistentes sociais do hospital, Irmãs Catequistas Franciscanas e simpatizantes do Carisma, Pastoral da Juventude, Jesuitas, lideranças de Iñapari (Peru) e de São Pedro de Bolpebra (Bolivia).
Este grupo se reúne mensalmente, alternando entre Peru e Brasil, e tem por objetivo geral acompanhar e proporcionar aos que buscam novo sentido e rumo de vida, aos que migram, nova oportunidade de realização e de dignidade, com a iluminação de Jesus Cristo peregrino libertador, diante da realidade e desafios da mobilidade humana na tríplice fronteira.
Dispõe-se a acolher os que vem de longe ouvi-los, orientá-los no caminho a seguir, auxiliá-los nas questões legal e financeira mais urgentes. Também busca amenizar o sofrimento daqueles que se sentem deslocados, procurando encorajá-los e animá-los na construção de uma vida mais digna, dando especial atenção aos povos indígenas das três fronteiras.
Trabalha ainda auxiliando a Igreja, entre apoio humano, troca de visitas nas cidades de Iñapari e Assis Brasil, e tentar fazer o mesmo com São Pedro de Bolpebra. Auxilia ainda as famílias constituídas entre os três países na condução de sua história cristã e cidadã.
Nessas comunidades, motiva a superação do preconceito de gênero, raça, etnia, classe social e nacionalidade, fortalecendo a iniciativa da Rede “Um Grito pela Vida” (que combate o tráfico de pessoas) junto das redes públicas e da CRB regional para que a Igreja, Bispos e lideranças acolham e adiram à causa. Há ainda a realização de caminhadas em dias específicos ou datas comemorativas e de panfletagem nos ônibus nacionais e internacionais e outros transportes que cruzam a fronteira.
Desde o mês de março, a partir da Campanha da Fraternidade “Fraternidade e Politicas Públicas”, a equipe redobrou seus esforços e persistência, através de iniciativas junto à Câmara dos Vereadores, propusemos maior diálogo e debates com espaço para sermos melhor informados, ouvidos pelos nossos representantes e envolvidos na execução e implantação das politicas públicas. As urgências são inúmeras, principalmente ao se tratar de região fronteiriça: a saúde (da cidade e indígena), a segurança pública, a educação (pois temos intercâmbio de estudantes na fronteira), o transporte, a acolhida e apoio aos migrantes, a precariedade das ruas, o aumento das taxas de energia e água, a prestação de serviços por parte dos funcionários públicos, etc.
Procuramos participar das sessões de câmara sempre que possível, principalmente nós religiosas/os, por isso nos sentimos na responsabilidade para propor ao poder público demandas da região, mas enfrentamos a falta de transparência em suas ações e prestações de contas.
Outra ênfase que a equipe da Mobilidade humana está dando no momento é de provocar os dois municípios para reativar o Comitê de Fronteira que, por lei deve funcionar. Assim, encaminhamos solicitação aos Prefeitos de Assis Brasil, Sr. Antônio Barbosa, e de Iñapari, Sr. Jose Abrahan Cardozo Mouzully, chamando atenção para as questões sociais mais urgentes na fronteira. Informamos as razões que nos motivam, a partir da Igreja Católica, tomar esta iniciativa.
Entre tais desafios citamos: Atenção e ajuda aos migrantes que passam pelas fronteiras em situação de vulnerabilidade (transporte, hospedagem e/ou alimentação, informações adequadas para não serem presa fácil dos aproveitadores); controle ou vigilância permanente nas fronteiras, para evitar acidentes, violência e o tráfico. Solicitamos às municipalidades e aos órgãos competentes que, se não puderem tomar iniciativas, que pelo menos possam somar esforços e responder à demanda de nossos munícipes. Este processo está na dinâmica de buscas e acertos.
Já conquistamos alguns ganhos, porém, a ação para atendimento das demandas exige ainda muito esforço.A equipe efetivou o atendimento semanal ao migrante nas dependências da Alfândega. Neste serviço, é importante o diálogo com a Polícia Militar e Federal. Trazem-nos fatos importantes dos migrantes que transitam pela Alfândega e nos auxiliam no encaminhamento e na defesa dos seus direitos diante das dificuldades burocráticas.
Apesar dos esforços, a equipe ainda não conseguiu criar um espaço próprio para acolhida do Migrante na cidade. São muitos os que procuram e com diversas necessidades.
Tentamos tornar o grupo conhecido para a comunidade. Para fortalecer o grupo, há estudo e partilha de experiências. No aspecto sócio educativo, visitam-se famílias, realizam-se palestras nas escolas, ajuda-se a identificar situações, prestar assistência às vítimas, conscientizar a Igreja e pastorais, e implicar órgãos governamentais responsáveis.
A equipe da Mobilidade Humana participa também das Mobilizações. Visita ao Alto Rio Tauhamanu – “Comunidad Nativa Nueva Oceania”- “Tierra Boca Del Shupiwi”, e se comprova que “entre los pueblos indígenas realmente no hay fronteras; si tienen parientes en Perú, allí se van a vivir. Si en Bolivia tienen una casa, si en Brasil, en un barrio, o en una aldea urbana”.
Irmãs somos parceiras nesta caminhada mistagógica… em breve haverá um complemento deste relato.