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01 Setembro 2020
Mês da Bíblia – 2020

“Abre tua mão para teu irmão” (Dt 15,11)

Quando os pés o chão tocarem, para a dança começar! Quando as MÃOS se entrelaçarem, VIDA nova há de brotar!”

O texto inspirador para o Mês da Bíblia deste ano de 2020 “Abre tua mão para teu irmão” (Dt 15,11) faz parte do chamado “Código Deuteronômico” (Dt 12-26) do Livro do Deuteronômio. O nome “deuteronômio” surge do que diz Dt 1,18, “o rei deverá providenciar uma cópia desta Lei”.

O Mês da Bíblia – 2020 quer alcançar os seguintes objetivos: favorecer o conhecimento do Livro do Deuteronômio e nele “perceber a ação amorosa de Deus” com seu Povo; ajudar a descobrir “o amor de Deus, que vai sendo revelado, não apenas ao Povo da Bíblia, mas no agora, nesse tempo difícil, a todos nós”; ajudar a compreender, como o Povo de Deus foi se apropriando dessa experiência fundamental para sua vida e história; ajudar a mergulhar no “Mistério de Deus, que vai se deixando descobrir e amar”;  ajudar a fazer memória da “Aliança de Deus” com seu povo de ontem, para que o seu povo de hoje, “não perca o rumo da caminhada, vivendo sempre em comunidade”.

O Livro do Deuteronômio é uma ampla coleção das pregações dos “Levitas itinerantes”, que se apresentavam como pregadores com a missão de ensinar a Lei (cf. Dt 31,9-13). O Deuteronômio é o resultado desse esforço dos levitas que, como os profetas, criticam, anunciam e procuram tornar concreta na vida prática, a Aliança renovada ou professada nos santuários, por ocasião das festas e das assembleias. Para realizar esta missão tinham os textos da Aliança, guardados nos santuários, entre os quais, o principal era o texto da “Aliança no Horeb”, o “Decálogo” (cf. Dt 5).

O Livro do Deuteronômio contém profundas reflexões “morais e éticas”, com leis para “regulamentar as relações com Deus e com o próximo”. Nele encontramos a preocupação em promover a justiça, a solidariedade com os pobres, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. São “Leis Humanitárias” previstas no “Código da Aliança” (cf. Ex 20-23). O que rege a “Lei da Aliança” é o amor. O amor gratuito e fiel de Deus por seu povo, que requer uma resposta de amor gratuito e fiel do povo de Deus:  o “Evangelho do amor misericordioso de Deus no Antigo Testamento”. O sinal concreto dessa Aliança entre Deus (Javé) e Israel seu povo escolhido é a doação da Lei, a “Lei da Aliança”. A síntese dessa lei está no Decálogo, que tem como orientação central a proteção da vida: “Não matarás” (Ex 20,13).

O Deuteronômio tem lugar especial e significativo na vida e na fé do Povo de Israel porque trata de temas fundamentais:

A “Libertação” - O verdadeiro Deus é aquele, que “tomou a iniciativa”, libertou o seu povo e lhe deu vida; que prefere a “misericórdia e a justiça” em vez de cultos, purificações e sacrifícios.

A “Comunidade” - para que o povo viva em liberdade. A verdadeira comunidade é aquela que expressa um modo de “sociedade igualitária, solidária e fraterna”, onde tem lugar a justiça e a  liberdade.

A “Aliança” - a fidelidade e a intimidade com Deus. Deus se compromete a abençoar o povo e o povo, por sua vez, se compromete a ser fiel a Deus. Com olhar renovado de fé, contemplando o passado e o presente e percebendo os sinais e a ação de Deus através da história, o povo se dispõe a um novo recomeço.

O “Perfume espalhado por toda a Bíblia” - à luz do Deuteronômio foi reelaborado quase todo Antigo ou Primeiro Testamento e é citado mais de 200 vezes no Segundo ou Novo Testamento.

O “Código Deuteronômico” (Dt 12-26) é o núcleo central e mais antigo do Livro do Deuteronômio e é “obra dos levitas itinerantes”, que deram origem aos “círculos proféticos” ou “comunidades proféticas” de Elias, de Miquéias de Jamla e Eliseu e mais tarde de Amós e Oséias. É um conjunto de leis formando o “Projeto de Deus” para uma nova sociedade, que não tem caráter jurídico, mas são “indicações para as relações sociais justas, que visam uma sociedade igualitária, na qual, todos e todas possam ter acesso à liberdade e à vida”.  Na época do Profeta Amós, os levitas fizeram uma releitura das tradições antigas de Israel, provavelmente da época tribal, pois trazem um “projeto de sociedade justa e solidária” e, as colocaram por escrito, justamente numa época em que era necessário “manter viva a esperança do povo de Israel”, diante da opressão dos governantes. Os levitas de Israel não apenas propõem um “projeto de sociedade nova, baseada na fraternidade e na partilha”, mas “estendem a mão”, “entram na luta”, em “defesa dos mais fracos”, propondo “novas relações sociais” e se empenham em construir uma sociedade onde não haja mais pobres: “Não deve haver pobres no meio de ti” (Dt 15,4).

O lema do Mês da Bíblia: “Abre tua mão para teu irmão(Dt 15, 11), faz parte da regulamentação do “Ano da Remissão”, que se fundamenta no 3º mandamento (Dt 5, 12-15), que tem motivação social: o povo de Israel  já experimentou a escravidão e com essa experiência, estabelece o sétimo dia da semana, o “sábado”, como dia de “repouso”, celebrando, fazendo memória da libertação e impulsionando as relações sociais de igualdade: “desse modo, seu escravo e sua escrava poderão repousar como você” (Dt 5,14). Foi dessa experiência que surgiu em Israel o “Ano Sabático” ou “Ano da Remissão”, que visava possibilitar um “recomeço de vida ao povo empobrecido e endividado” e propõe “um novo começo”, com base na justiça e na solidariedade. Esse “novo começo” fazer acontecer o “direito dos pobres” e só é possível com o “perdão das dívidas e a libertação das pessoas escravizadas”.

O “direito dos pobres” ou  “Direito Civil” (Dt 15,1-18), propõe: “Não deve haver pobres no meio de ti” (Dt 15,4); “Nunca deixará de haver pobres na terra e é por isso que te ordeno, abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra” (Dt 15,11). Para se tornar concreto,  “os débitos devem ser perdoados no sétimo ano” (vv.1-11) e seguir as normas de procedimento para a libertação dos escravos (vv 12-18).

No Projeto de Deus, a “sociedade justa e solidária” é aquela onde “poder e riqueza” são repartidos, para que não haja nem oprimidos e nem pobres, mas sim, liberdade e vida para todos. Portanto, “enquanto houver um só pobre, a sociedade inteira e como um todo é responsável, e deverá prover as necessidades desse pobre”. Enquanto o Projeto de Deus não se concretiza historicamente, os pobres aí estão clamando a Deus e exigindo justiça contra uma estrutura social pecaminosa (cf. Mc 14,7). Jesus orientou seu projeto de vida no espírito de misericórdia e solidariedade do Deuteronômio (cf Mt 12,7ss; 4,1-11 e Lc 4,1-13).

 Abre tua mão para teu irmão (Dt 15,11) é o grito que convoca a “abrir a mão” aos irmãos e irmãs; “dar as mãos e construir, passo a passo caminhar...” e agir como Deus fez e faz com seu povo, que não permite o abandono de ninguém, mesmo que seja uma só pessoa: “Se houver um pobre, um só, deve ser atendido conforme sua necessidade” (Dt 15,7-8).                 

“Se meu irmão estende a mão, e pede um pouco do meu pão,

e eu não repondo e digo não, errei de rumo e direção ...”

“De mãos estendidas ofertamos, o que de graça recebemos...”!   

 

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA – Edição Pastoral- Paulus, 1990.

Coleção “COMO LER a BÌBLIA” (Como ler: O Livro do Deuteronômio), Paulus.

Coleção “TUA PALAVRA É VIDA” 2 – A Formação do Povo de Deus. (Publicações da CRB/ 1990).

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Maria Aparecida Furlani