Toda palavra de vida
é Palavra de Deus
Toda ação de liberdade é a Divindade agindo entre nós
É a Divindade agindo entre nós.
(Zé Vicente)
Os biógrafos, tanto de Clara como de Francisco, nos contam que ambos sentiam especial alegria em ouvir e transmitir a Palavra de Deus. A palavra era alimento, era flor preciosa, não importando o “pacote” em que vinha embalada. O importante era saber tirar proveito do que vinha por dentro, saber ler por detrás das palavras, meditá-las, “ruminá-las” para penetrar seu sentido, suas exigências, deixar-se iluminar por elas.
“Disse a testemunha que madona Clara sentia um gozo especial em escutar a Palavra de Deus. Embora não tivesse estudado letras, comprazia-se em escutar pregadores eruditos...” (PC 10,8).
Mãe providente e cuidadosa, queria alimento de boa qualidade, sobretudo de boa proveniência, para si e para suas irmãs: “Preocupava-se em convidar pregadores devotos a ministrarem às irmãs o alimento da Palavra de Deus, reservando para si uma boa porção. ... Estava convencida que no invólucro da palavra se escondia a essência na qual ela penetrava com sutileza e gostosamente saboreava. Sabia ir buscar às palavras de qualquer pregador aquilo que servia à sua alma. Estava ciente de não ser menor habilidade colher de quando em vez flores dum espinheiro, que comer frutos duma árvore de qualidade”.
Para Clara, a mesa da Palavra é tão essencial quanto a mesa do pão material. “Quando o senhor Papa Gregório proibiu os frades de visitarem os mosteiros das irmãs sem prévia licença sua, muito se entristeceu a piedosa mãe ao prever que só muito raramente as irmãs seriam alimentadas com a doutrina sagrada, e comentou com amargura: ‘Já que nos tirou os administradores do alimento da vida, que nos tire todos os irmãos’. De imediato dispensou todos os irmãos esmoleres e enviou-os ao ministro. Uma vez que tiravam às irmãs o alimento espiritual, também não queriam ter esmolas de pão corporal”. ... (LSC 37)
Francisco, por sua vez, é pura reverência, respeito e amor no seu encontro com a Palavra. “Os santíssimos nomes e suas palavras escritas, onde quer que os encontre em lugares ilícitos, quero recolher e rogo que sejam recolhidos e colocados em lugar honroso. Também a todos os teólogos e aos que nos administram as santíssimas palavras divinas devemos honrar e venerar como a quem nos administra espírito e vida” (Test 12-13).
O que dá vida não é pura e simplesmente conhecer a Palavra da Escritura; é sim, viver o espírito que a inspira: “São mortos pela letra aqueles religiosos que não querem seguir o espírito da divina escritura, mas apenas desejam conhecer as palavras e interpretá-las para os outros. E são vivificados pelo espírito da divina escritura ... os que pela palavra e pelo exemplo, as retribuem ao altíssimo Senhor Deus, de quem é todo bem “(cf. Ad 7, 2-4).
Francisco não tem dúvida que a Palavra de Deus contém tudo o que ele necessita para viver, ela preenche todos seus anseios: É isto que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer de todo coração” (1Cel 22,3).
Vivamos o mês da Bíblia renovando e intensificando nossa aproximação reverente e amorosa, frequente e devota da Palavra de Deus, “lâmpada para nossos pés e luz para nosso caminho” (Sl 118,105).