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01 Outubro 2020
A vida é missão

“Eis-me aqui, envia-me”          (Is 6,8)

Este é o lema do mês missionário que estamos iniciando. E como título do artigo, elegi o Tema. Sim, a vida é missão! Quero, aqui, compartilhar um pouco do meu caminho missionário e também os sonhos que vamos acalentando. São sonhos esperançadores! Oxalá, eles nos coloquem a caminho!  

O chamado de Jesus continua ressoando aos meus ouvidos: “Vem, Eu te chamo! Vai, Eu te envio!” Meu coração exulta de alegria e gratidão no Deus da vida e do amor, pelo dom da vocação e pelo envio como missionária. “Vai, nada leves contigo, nada temas, ao teu lado Eu estarei!”

No meu caminhar, confio Nele, sinto que é o Senhor que me conduz e sustenta! Sinto-me enviada a viver com o povo na sua diversidade, chamada a ir onde a vida se encontra ameaçada. O Papa Francisco nos convida a sair de nós, para ir ao encontro da vida. Sair do nosso comodismo, dos nossos muros e fronteiras, sair do eu e ir ao encontro dos pobres, dos excluídos e marginalizados que são os prediletos de Deus.

Como mulher africana e religiosa, tive o privilégio de viver e conviver com diferentes culturas e realidades. Desde a Aldeia Nsenge-nsenge no Congo, berço de minha existência e vocação, convivi com a alegria e a dor dos pobres e, a partir da minha própria vivência, pude conhecer o Deus que se fez pobre e caminha conosco. Ao beber na fonte do carisma Congregacional, compreendi o movimento do Espírito que fez Amábile, Maria e Liduína dizer: Sim, “queremos ficar sempre”! O desejo de seguir a Cristo e a experiência de compartilhar a vida com os pobres as havia cativado. Se puseram a caminho… de Rodeio ao Congo!!!

O mesmo sopro divino, “deixa tua terra, teus parentes e vá para onde te mostrarei” (Gn 12,1), fez Abraão partir, movido unicamente pela fé. A Divina Sabedoria, que sopra onde quer, fez o Carisma das Irmãs Catequistas Franciscanas chegar ao Congo e despertar vocações. Mesmo que os pés das irmãs Catequistas Franciscanas ainda não pousaram no chão Sagrado da República Democrática do Congo, a semente do carisma já chegou lá e sua força desabrochou no SIM de duas irmãs Congolesas. Assim como os discípulos de Jesus e as nossas três primeiras irmãs, que deixaram seus bens e famílias por causa de Jesus e de seu Reino, nós, irmãs Dwatime Lukini Veronique e Puri Mafikene Marlene, deixamos familiares e afazeres para escutar e aceitar o chamado do seguimento de Jesus Cristo. “Se o caminho é longo e a estrada desafia, vou acertando o passo, pra ver chegar o dia”.

Fomos acolhidas pelas irmãs da Coordenadoria Irmã Álcida, em Angola, em 2013, onde iniciamos o processo formativo. A saída sempre nos movimenta, nos coloca em pé, nos provoca e impulsiona a viver e aprender o novo. Como nos disse Jesus no Evangelho de Mateus 19,29: “todos os que tiverem deixado casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terra por causa do meu nome receberão cem vezes mais e também a vida eterna”.

Após ter vivido em Angola o período de 2013 até 2015 como formanda,  em abril de 2016 deixei o nosso amado Continente Mãe África e fui  para América, no Brasil, onde vivenciei o tempo do noviciado em realidades diversas tanto na formação para a vida religiosa como na experiência junto às comunidades de base. O tempo que vivi no Brasil foi de muita aprendizagem. Ampliou o meu conhecimento na congregação e na sociedade e me preparou para a missão.  Experimentei a força da irmandade que cuida! Ajudou-me na abertura do coração para acolher o novo. A experiência vivida me preparou para a missão.

Mas... sempre é bom voltar ao berço, à casa materna, beber da fonte e saciar a sede! Regressar para Angola como irmã, foi uma forte e renovada experiência de vida. É uma nova etapa que exige maturidade e compromisso na missão, mas oferece muitas alegrias.

Em abril de 2019, regressei à Aldeia Nsenge-nsenge, berço de minha existência e vocação! Chegar na família após três anos de distância, foi um motivo de grande alegria, louvor e de choro! Choro de alegria pelo encontro, as saudades e muito mais do meu renascer por tudo aquilo que se passou! A presença da irmã Solange que me acompanhou nesse momento, estampou enorme alegria no rosto de cada membro da minha família e do povo da Aldeia.

Qualquer missão precisa de coragem, ousadia, humildade e confiança em Deus. A viagem foi de muitos sacrifícios, em todo sentido. Chegando em Kikwit, não havia carro para seguir adiante. Sem outra alternativa, decidimos nos aventurar de moto. Nove horas de viagem, imagina isso. Chegando na casa dos meus pais, foi grande a alegria dos familiares, da comunidade e também nossa, porque enfim chegamos bem!

Como é costume nosso, a festa começa com a chegada da pessoa esperada. Depois de nossa chegada, a festa continuou até o dia da missa de ação de graças pela Consagração Religiosa, através de músicas e danças típicas das Aldeias da redondeza, que se manifestaram com muita alegria. Que alegria ter uma celebração desta, na sua própria terra natal! Foi boa, animada, muito intensa e bem vivenciada, pois foi bem preparada pelos familiares e comunidade.

A quem partilha o pouco que tem na sua mesa, nunca falta nada! Foi emocionante receber os presentes que as pessoas prepararam com carinho e amor para me oferecer, foi verdadeiramente uma emoção franciscana.

Amo a minha aldeia, gosto de sentir o cheiro da terra, do mato, das coisas naturais. As pessoas são simples, humildes, acolhedoras, batalhadoras e alegres. Mas, por outro lado, senti minha aldeia, como tantas outras de nosso país, em grande abandono por parte de autoridades políticas e religiosas. Falta estradas, transportes, entre outros. E, na parte religiosa, sem programa de visita pastoral, que acompanhe, alimente e anime a vida da comunidade. Isso é uma tristeza para mim, mas sigo confiante em Deus de que um dia Nsenge-nsenge mudará.

 

O florescer vocacional do nosso carisma no Congo

Além de celebrar minha consagração religiosa com a família e a comunidade, irmã Solange e eu fizemos essa viagem com o compromisso de encontrar com algumas jovens vocacionadas, que já tinham se apresentado para serem irmãs numa visita anterior, em 2016. Essas jovens, mesmo sem acompanhamento, nos esperavam. Tinham certeza de que voltaríamos! Mas, não deixaram de nos cobrar por termos demorado tanto tempo e, ao mesmo tempo, nos desafiaram, perguntando quanto tempo demoraríamos para voltar.

Com nossa presença, outras jovens manifestaram o desejo de ser irmãs e pediram para serem acompanhadas. Assim, somam-se 12 vocacionadas que se apresentaram na Aldeia. Conversamos com o catequista responsável e pedimos que as acompanhasse. Deixamos folders da Congregação e algumas orientações muito básicas para isso. Na grande capital, Kinshasa, fizemos contato com mais 4 quatro jovens vocacionadas e tivemos encontro com uma delas, Aline Kindama, que, nesta altura, já estava com visto em andamento para vir a Angola. Depois de 10 meses de espera, no mês de janeiro deste ano, conseguiu o visto e entrou em Angola. Com grande alegria, ingressou na Congregação e está sendo acompanhada no processo da formação inicial. Como Coordenadoria, o compromisso assumido foi de que nós duas Congolesas iríamos acompanhar as vocacionadas do Congo mais sistematicamente. Porém, o acompanhamento que assumimos se torna quase impossível, devido às condições de chegada lá e nosso número reduzido de irmãs em Angola, no momento.      

Há um grande florescer vocacional do nosso carisma no Congo! As sementes continuam a germinar. Isso nos alegra e ao mesmo tempo nos  interpela, provoca e convoca! Como congolesas e nos alegramos muito quando, no último Capítulo Geral da Congregação, se confirmou a possibilidade de uma futura presença no Congo!  Nos  alegramos, pois acreditamos que o  Sim das três primeiras que encontrou eco e resposta em nosso coração e sensibilizou o último capítulo geral, poderá fazer eco também em seu coração, IRMÃ, para dizer sim a este convite de, mesmo nas condições que nos encontramos como congregação, podermos regar essa sementeira que há tempo anseia por mais água do carisma para reavivar a floração.

Parafraseando Dom Muaca, na carta que escreveu a pedir irmãs Catequistas Franciscanas para Angola, dizemos: Congo Democrático nos espera irmãs! Suas filhas, cujas sementes do carisma já foram lançadas no coração, também! Neste mês missionário, como mulheres corajosas, lutadoras, comprometidas com a causa do Reino, deixemo-nos esperançar por este convite!

 Deus que nos chamou nos abençoe e guie a cada momento e instante.

 “Confiantes e alegres avancemos pelo caminho da Bem aventurança”, como Irmãs do povo!

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Dwatime Lukini Veronique

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Direção
Isabel do Rocio Kuss, Ana Cláudia de Carvalho Rocha,
Marlene dos Santos e Rosali Ines Paloschi.
Arte: Lenita Gripa

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