Uma fonte, um pote, um jarro, qualquer vasilha que está cheia e continua recebendo conteúdo, transborda certamente. Um coração cheio de amor transborda pelos olhos brilhantes, pelo rosto radiante, pela impressão de alçar voo. Uma vida cheia de alegria, de ânimo, irradia contagiando.
Em Clara, a missão é a irradiação, o extravasamento da comunhão com Deus, da vida em Deus, como se proclama na Bula de Canonização: “Como era grande a força desta luz e como era forte a claridade do seu brilho! Apesar de encerrada no segredo do claustro, esta luz irradiava para o exterior; embora recolhida entre paredes de um mosteiro, esta luz era projetada para todo o mundo; protegida no interior, irradiava para o exterior. Escondia-se Clara, mas manifestava a vida. Calava-se Clara, mas era proclamada a sua fama. Apesar de escondida na sua cela, a sua vida era conhecida nas cidades” (BC 11-14).
O exemplo de Clara, em relação à família que queria impedir sua consagração ecoou, sobretudo, entre as jovens de família abastada: “Totalmente unida a Deus, não podia consentir que fosse arrancada ao seu serviço. ... E o Senhor lhe enviou muitas companheiras a fim de viverem o amor e celebrarem o seu nome” (BC 21-23).
Nossa missão é onde estamos: “nesta pátria, ou na pátria do irmão”, na catequese, na escola, cuidando de enfermos, idosos, prestando serviço à família (de sangue e de projeto de vida), sendo suporte para a missão de outras pessoas...
Francisco buscou no Evangelho e nos irmãos e irmãs, a clareza sobre sua missão: “Ouvindo São Francisco que os discípulos de Cristo não deviam possuir ouro, prata ou dinheiro, nem levar pelo caminho bolsa, sacola, nem pão ou bastão, não ter calçado nem duas túnicas, mas pregar o Reino de Deus e a penitência (cf. Lc 9,2; Mc 6,12),exultando imediatamente no espírito de Deus, exclamou: É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer com todo o meu coração” (1Cel 22,3).
E agiu com a urgência e radicalidade exigidas pelo Evangelho: “Então o pai santo se apressou, ... e não suportou nenhuma demora para começar a cumprir o que ouvira. ... Desamarrou imediatamente os calçados ... E tratou de fazer as outras coisas que ouvira com a maior diligência, com a maior reverência ... cuidava de levar tudo adiante diligentemente (cf. 1Cel 22, 2-10).
Francisco se preocupa de que também os irmãos exerçam sua missão sem imposições, tendo a escuta dos destinatários da missão, a comunhão com Deus, o discernimento constante de sua vontade como guias na tarefa missionária.
“E os irmãos que partirem poderão proceder de duas maneiras espiritualmente com os infiéis: 0 primeiro modo consiste em absterem-se de rixas e disputas, submetendo-se "a toda criatura humana por causa do Senhor" e confessando serem cristãos. 0 outro modo é anunciarem a palavra de Deus quando o julgarem agradável ao Senhor: que creiam no Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, Criador de todas as coisas; no Filho, Redentor e Salvador...” (RnB 16, 5-8).
Outras preocupações missionárias de Francisco que devem ser nossas: a comunhão eclesial, a idoneidade dos missionários e missionárias, o testemunho das obras. “Nenhum irmão pregue contra a forma e as diretrizes da santa Igreja...Contudo, todos os irmãos preguem com as obras ...” (RnB 17, 1a.3).
Estão aí fundamentais inspirações para nossa missão. Que a força do Espírito, o testemunho de Francisco e Clara, das irmãs que já contemplam a Deus face a face, nos animem e fortaleçam na missão que assumimos como projeto de vida