"Vencer, sobretudo, a indiferença, pois somos todos irmãos".
A quarta edição do dia mundial dos pobres tem como tema “Estende a tua mão ao pobre” (Sir 7, 32). Na mensagem para esta jornada, o Papa Francisco explica o sentido bíblico deste gesto, destacando a sensibilidade e sabedoria do autor sagrado, que viveu por volta de 200 a C, época de muitas doenças e pobreza. Este sábio (Ben-Sirá) intui e propõe soluções diante das contradições do seu contexto, de modo que ninguém fique excluído ou privado de suas necessidades e direitos.
O papa Francisco pede que nos inspiremos e atualizemos a Palavra de Deus, estando atentas e atentos aos mais variados rostos da pobreza presente e superemos as barreiras da indiferença. “Vencer, sobretudo a indiferença, pois somos todos irmãos”, ressalta Francisco! Este passo, em nossa vida, segundo o papa, será possível mediante a escuta e confiança na Palavra de Deus e a solidariedade para com os pobres e enfermos. Ao longo de sua especial mensagem, Francisco cita muitos exemplos de como é possível “estender a mão”, pelo testemunho do Evangelho, diante da atual pobreza global, que se amplia, dia após dia e que é agravada ainda mais pela pandemia do Novo Corona Vírus. “Não podemos sentir-nos tranquilos, quando um membro da família humana é relegado para a retaguarda, reduzindo-se a uma sombra. O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda”.
Para nós que vivemos na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, segundo Estado mais rico do Brasil, “estender a mão” e “como estender” é um questionamento insistente! Em alguns lugares da região, a pobreza extrema virou manchete revelando cenários de cidades vizinhas (Japeri e Nova Iguaçu), antes vistos somente em países africanos como Somália e Etiópia. Percebemos, através do acompanhamento da Pastoral da Criança e outros meios de contato menos direto, que a pobreza se traduz numa desestrutura completa. Não há renda, não há habitação segura, não há serviços públicos, como água e coleta do lixo. Não há sequer cidadania, pois, é comum encontrar famílias inteiras sem documentos de identificação e consequentemente, sem acesso aos programas emergenciais do governo, como Bolsa Família, por exemplo. Além da violência que, pela interdição de ruas, entre outros, impede o direito de ir e vir e traz insegurança e medo. Em meio a tanta vulnerabilidade, descaso e promessas não cumpridas, a pergunta neste momento de crise sanitária, mas também de Igreja em saída é: “como estender a mão”? A fé nos responde: Dê um passo a mais! Sou teu irmão, sou tua irmã! Sou o próximo em dificuldades! Foi por essa experiência de mais proximidade, sem saber, na verdade o que fazer e como fazer, que percebemos a alegria e a satisfação de centenas de famílias que, pela mão estendida da compreensão ecumênica, recebiam das mobilizações da comunidade católica todo o testemunho, solidariedade e amor frente à escassez do alimento, especialmente o arroz. Testemunhamos pobres ajudando pobres, unidos por princípios tão humanos quanto cristãos, que é a capacidade de sentir (fome) com o outro. E tantos outros gestos que pudemos presenciar e também contribuir com nossas mãos abertas.
Que o conteúdo desta jornada, tão importante para a Igreja e que, coincidentemente no Brasil será celebrada no dia das eleições municipais, possa auxiliar nossas consciências a eleger quem tem as mãos estendidas para a miséria e a dor do próximo, quem tem as mãos estendidas para pensar e conduzir projetos de mais justiça e igualdade social.
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