Que as águas dos rios sejam fonte da vida, que a nossa floresta não vire carvão. (Grupo Imbaúba)
No dia 5 de setembro, celebramos do dia da Amazônia! Historicamente, esta data remonta à criação da Província do Amazonas por Dom Pedro II, em 1850. Atualmente, além de ser um convite a apreciar as riquezas deste bioma que inclui a maior floresta tropical do planeta, de divulgar sua importância, este certamente tem sido um dia de alerta, de chamada de atenção para o desmatamento, o garimpo ilegal, as ameaças que ocorrem na região, a situação das populações e a necessidade de respeito e preservação.
Esse bioma, que abrange nove países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela), apresenta 26% da sua área protegida em território brasileiro, conhecida como Amazônia Legal, que corresponde à totalidade dos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhão
Nascer, crescer, multiplicar-se, viver e morrer na Amazônia é um privilégio! Inclusive é um lugar acolhedor e aconchegante para muitos que vem de fora para “curtir” a beleza e acabam se encantando e fazendo dela sua morada. Este privilégio é vivido por uma variedade de povos: vários povos indígenas com suas diferentes línguas, povos negros, quilombolas; povos brancos; seringueiros, agricultores, ribeirinhos, pescadores, quebradores de castanha..., povos das cidades, com seus costumes, seus sotaques, suas crenças, suas lutas, seus sofrimentos, suas conquistas, suas religiosidades, suas culturas, suas resistências!
Convido você a viajar no imaginário, para mergulhar, nadar, andar e contemplar a sua viagem pela Amazônia. Aqui, se anda nos varadouros – descendo e subindo, nos ramais. Na época de chuva, tem atoleiros para chegar às colônias e nas cidades e, no tempo de verão, enfrenta-se a poeira; às vezes a pé, outras, a cavalo. Há motos, quadriciclos, camionetes, carros, caminhões, ônibus, mas depende de cada realidade. Em algumas realidades, para chegar ao local ou para chegar à cidade, precisa-se de canoa, remo, peque-peque (rabeta), voadeira com motor de polpa, barco, lancha para navegar pelos rios, nos igapós. Às vezes, o rio é calmo, algumas correntezas fortes, pedras, praias, pedaço de paus boiando... E junto como nosso irmão cantor e compositor amazonense Manoel Nerys, podemos cantar: "Nestes Campos, nestas matas, nestes lagos e igarapés; nestes rios, planaltos e serras, planícies e vales, vou anunciar. No lombo de um belo cavalo, de barco ou canoa de remo na proa, atender teu chamar". Como Irmãs do Povo, muitas de nós já vivenciamos esta vida com nosso povo e ainda continuamos vivendo isso nas nossas visitas pastorais.
Por outro lado, há grande empresários, há garimpeiros, grileiros..., e a Amazônia sente-se ameaçada e devastada pelo ser humano. E muitos já perderam as vidas por lutarem pelos territórios e outros lutando pelo próximo, e outros se sentem ameaçador por serem guardiões das florestas. Mas podemos depositar a confiança junto a nossa Mãe Maria, como diz o Papa Francisco: Maria, a Mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido. Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também agora se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano (Laudato Si 241).
A Amazônia é o lar de inúmeras espécies de animais e vegetais, de uma extraordinária biodiversidade, de povos das florestas, homens e mulheres trabalhadores, sonhadores, e que tem consciência pelo cuidado da casa comum. Um lar que recebe e acolhe grandes missionários e missionárias vindo de vários lugares do Brasil e do exterior. Que vieram armar sua tenda no meio do povo simples, trabalhador, acolhedor, sofredor, esperançoso, para estar presente e lutar juntos pelos seus direitos, sendo, desta forma, uma igreja comprometida.
Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia, o Papa Francisco escreve “ao povo de Deus e a todas às pessoas de boa vontade”. Como somos pessoas de boa vontade, sonhemos junto a ele, pois os sonhos do Papa Francisco para a Amazônia são também os nossos:
“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida.
Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana.
Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas.
Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos” (Querida Amazônia 7).
Continuemos sonhando, esperançando! Vamos deixar que esses sonhos ecoem em nosso cotidiano, na busca de sua concretização. E, ao mesmo tempo, bendigamos a Deus pela presença, serviço e ousadia das nossas Irmãs que estiveram e que estamos até hoje, nessas terras longínquas da Amazônia! Bendigamos a Deus Pai-Mãe pelo surgimento das vocações autóctones e simpatizantes. Por tudo isso, Deus seja louvado, juntamente com a toda a Natureza e seus encantados.
Que a celebração do Dia da Amazônia nos abra aos desafios presentes e futuros, missão de todos nós que somos guardiões da Criação, unindo esforços para proteger a casa comum planetária, na busca de um desenvolvimento socioambiental verdadeiramente sustentável para aquela região.