“Banhados em Cristo, somos novas criaturas, as coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo...”!
Celebrar, fazer memória dos fiéis defuntos a cada ano, no dia 02 de novembro é uma tradição da Igreja, que se iniciou no século XI. É momento em que a família vai ao túmulo do seu ente falecido, o lava, o enfeita com flores e relembra as coisas boas e bonitas que ficaram na lembrança. Certamente, os mais de 600 mil de irmãos e irmãs, que entregamos nos braços de Deus, por causa da Covid-19, nos deixaram profundos e significativos testemunhos de vida!
As celebrações litúrgicas, deste dia, “convidam a meditar sobre o horizonte final de nossa caminhada terrena, que não termina com o fracasso da morte, mas na comunhão com Deus”: “O Senhor do universo irá preparar e reunir num banquete especial, todos os povos da terra” (cf Is 25,6ª. 7-9); “todos os que seguem Jesus Cristo e compartilham dos seus sofrimentos, também com Ele serão glorificados” (cf. Rm 8,14-23); a salvação acontece aos que em vida “são misericordiosos, aos que tem compaixão dos irmãos e irmãs”; acontece na “maneira pela qual vivemos a fraternidade, o cuidado com o outro” e como vivemos o mandamento do Amor (cf. Mt 25, 31-45).
Nas últimas décadas grande parte da humanidade e muitos cristãos com a influência e o envolvimento de diversos fatores; as “novas tecnologias”; a noção que só o “tempo presente” deve ser considerado; o “individualismo”; as “metas do mercado”; o “excesso de conectividade” e a busca de um “desempenho competitivo”; o envolvimento com “sons e imagens” e os mais variados “recursos de entretenimento”, distraíram o “ser humano da essência da vida”, o levaram a desconsiderar a “finitude e o sentido da vida e a transcendência”; a não mais “considerar um horizonte além desta vida que adoece, envelhece e morre”; a banir qualquer “ideia que o mundo é finito e o ser humano, também”.
O mundo que não se percebia ameaçado, nem mesmo diante da crise ecológica, tornou-se surdo aos clamores por mais cuidado e atenção com a vida em todas as suas manifestações, foi surpreendido pela pandemia da Covid-19, levando o ser humano a dar-se conta e a lidar com sua condição finita e mortal. A realidade da morte ficou próxima, entrou nas casas criou impactos psicológicos, sociais e religiosos, sobretudo, para os que se despedem dos entes queridos; “provocou incertezas e preocupações que incidem também sobre o ato de crer e esperar”, como também “impactou a forma de ler a realidade, de viver o cotidiano e de esperar o amanhã”. Seria este o “sinal dos tempos”, que é preciso “interpretar à luz do Evangelho” para responder ao coração inquieto, diante da “morte, luto, esperança e vida eterna” (GS 4)?
Como cristãos e cristãs discípulos e discípulas de Jesus Cristo, somos convidados/as, interpelados/as a buscar e “dar razões de nossa esperança” (1Pd 3,15), para viver o tempo presente “como ocasião favorável de testemunhar, com empatia e solidariedade, a fé na realização das promessas de Cristo”. Somos convidados/as a “crer, esperar e confiar”. Cremos na fé, que o “destino de todo ser humano não será o fim, mas a vida eterna, que é vida nova que não conhece a dor pranto ou morte”. O que determina o presente, o futuro, a fé, e a esperança de quem crê, é a “mística pascal” – que passa necessariamente pela cruz e ressurreição. A promessa de ressurreição não se restringe apenas ao destino da pessoa, mas envolve “a humanidade, a história e toda a criação”, que anseiam pela realização da promessa.
Esperar/ esperançar a vida: O ser humano “vive na medida em que espera porque ele é esperança”. A esperança dinamiza o presente suscita novas possibilidades, oportunidades, caminhos e qualifica a existência diante do futuro. Assim, “esperar o Reino que não tem fim implica, cuidar da vida, ressignificar o sofrimento e discernir à luz do “juízo” de Deus, sobre o hoje da história”. O futuro feliz, a vida eterna se constrói hoje, na fé e na esperança: “Quem acolhe os pequeninos, os abandonados, os que sofrem por causa do Reino de Deus, este será acolhido por Deus” (cf. Mt 25).
Celebrar, o “Dia de Finados”, é sempre “memória do amor” que envolve a “gratidão e o perdão”, pois, “a serena saudade que nasce e se nutre do amor agradecido e reconciliado torna-se o lugar do reencontro, dando-nos a medida do valor da pessoa amada e cingindo de paz sua lembrança”. Portanto, “seja esta nossa esperança, seja este nosso empenho: apresentar a Deus um coração cheio de nomes, e dele receber a imerecida e sempre desejada eternidade do amor”.
Comentários