Desde o primeiro Dia Mundial dos Pobres em 2017, o Papa Francisco vem solicitando a sua Igreja que se abra a um contínuo movimento de evangelização, indo ao encontro dos pobres. É um convite a desinstalar-se, sair da zona de conforto, viver o amor aos pobres, assim como Jesus viveu.
Tem convocado a uma necessária mudança de percepção e de atitudes em relação aos pobres, principalmente pelo testemunho de vida. Partilha um amor concreto, caridoso e nos diz: “não amemos só com palavras, mas com obras”; saiba que “este pobre clama e o Senhor escuta”; incentiva recordando que “a esperança dos pobres jamais se frustrará”; e segue na insistente convocação- “estende tua mão ao pobre”; e, neste quinto ano vem recordar a partir do texto do evangelista Marcos, que “sempre tereis pobres entre vós”.
O que chama a atenção na reflexão e ação proposta e, assumida pelo Papa Francisco, é a personalização do pobre. Essa abordagem gera em muitos católicos um incômodo, pois o Papa não está pedindo que se faça caridade, ou que se ajude alguém distante, de outro país, mas que se conviva e se estabeleça relação. É só a partir da relação, do conhecimento dos contextos que marcam sua existência, do não julgamento moral, que a pessoa do pobre sai da invisibilidade, passa a ter um nome, um endereço, uma história.
Tem-se atualmente um processo de desumanização sistemática, começando pelo não acesso aos direitos mínimos de sobrevivência: água potável, alimentação, moradia, trabalho e renda. Percebe-se que o descaso com a vida humana do pobre tem aumentado. São famílias, homens, mulheres, jovens, idosos e crianças dormindo nas ruas, expostas aos esgotos a céu aberto, às variadas formas de violência, ao trabalho forçado, sendo aliciadas para trabalhos desonestos, vulneráveis às doenças e epidemias ou mesmo sucumbindo às drogas e álcool. Muitos desenvolvem doenças mentais, por não conseguirem simbolizar o que se perdeu, e passam para a posição de quem não pode fazer mais nada.
E esse é o convite do Papa Francisco, que os discípulos e discípulas missionários/as de hoje saiam para as margens, para as periferias geográficas e existenciais para ver, escutar, conviver, e tirar a máscara da invisibilidade dos pobres. Assim como Jesus que não só esteve ao lado dos pobres, mas viveu como pobre, partilhou com eles e elas a mesma história, as mesmas dificuldades, a mesma fé, o mesmo amor.