Cristo Vive. Somos suas Testemunhas. "Eu vi o Senhor".Jo 20,18
No primeiro domingo do mês vocacional, em que celebramos a vocação aos ministérios ordenados, trazemos aqui o testemunho de Pe. Bernard Colgan, um irlandês, Oblato de Maria, que vive há muitos anos em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ao celebrar, por muita insistência, a festa dos seus 80 anos em 13 de junho de 2022, fez essa homilia, que reflete a experiência de alguém que pode dizer. “Eu Vi o Senhor”.
O salmo 90 nos informa: “Setenta anos é o tempo de nossa vida, oitenta anos, se for vigorosa”. Tendo alcançado esse patamar, penso que daqui para diante todo cuidado será pouco! Tempos atrás um conhecido comentou comigo que, se no Brasil ocorrem a cada ano 50 mil mortes por homicídio e mais 50 mil por acidentes no transito, que não entendia como como cheguei à idade que tenho.
São Paulo afirma que embora o homem exterior seja cada vez mais desgastado, o seu homem interior vai se renovando com cada dia que passa (2Cor. 4,16). Mas essa renovação não é tranqüila; o cansaço, as decepções, o desgaste, físico e mental, a perda de ilusões, os conflitos, tudo milita contra a manutenção do seu entusiasmo inicial, dos seus sonhos e esperanças. A grande tentação é o comodismo, a lei de menor esforço.
Na semana do meu aniversário fui procurar um caderno velho de 50 anos atrás, onde costumava anotar pensamentos, citações, (um projeto que abandonei depois de alguns anos, com tantos outros projetos!). Mas o caderno ainda guardo e numa das notações de 1968, encontrei o seguinte: “Feliz o homem que ao completar os seus 60 anos ainda guarda os seus sonhos que tinha aos 20 ” (R. Gaurudy). A pergunta: isso é possível?
Anos atrás, numa das suas músicas, Milton Nascimento citou um escritor alemão, Bertolt Brecht: “Há os que lutam por um dia e são bons, e os que lutam por um ano são melhores, e os que lutam por muitos anos, são muito bons. Mas os que lutam por toda a vida, esses são os imprescindíveis”. Fico pensando nos últimos dias dos dois indigenistas, Bruno e Dom, mortos há pouco tempo na Amazônia. O que os levou a arriscar as suas vidas naquela maneira, eles que conheciam outras pessoas que tinham sido mortas, sabiam dos riscos que estavam correndo, tinham sido avisados, mas mesmo assim não desistiram e foram ao encontro de suas mortes? Quais foram os motivos que os levaram a assumirem aquela última viagem deles? Uma atitude semelhante nós encontramos no Evangelho de João. Quando Jesus avisa que ele está voltando para Jerusalém, onde os seus inimigos principais estão o esperando e será morto, Tomé declara: “Vamos também nós, para morrermos com ele” (Jo 11,16). Paulo preso, correndo risco de vida, escreve ao seu amigo Timóteo: “participa do meu sofrimento pelo Evangelho” (II Tim. 1, 8), Paulo não aconselha o seu amigo a tomar precauções, de tomar cuidado, de se esconder, mas ao contrário, correr os mesmos riscos, a ser disposto a sofrer com ele.
Então o que leva essas pessoas, Jeremias, Paulo, Tomé, Bruno, Dom, e incontáveis outros a não desistir, a agüentar apesar da aparente inutilidade de suas lutas? Jeremias fala que foi seduzido, que há nele uma força que não o deixa descansar: “Pensei nunca mais hei de lembrá-lo, não falo mais em seu nome. Mas parecia haver no meu coração um fogo devorador, cerrado nos meus ossos. Tentei agüentar, mas não fui capaz” (Jr20,09). Paulo pode declarar: ”Sei viver na penúria e sei viver na abundância. Aprendi a viver em toda e qualquer situação: estando farto ou passando fome, tendo de sobra ou passando falta. Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,12-13). E termino com esta declaração de fé e confiança de Habacuc: “Ainda que a figueira não floresça nem a vinha dê os seus frutos a oliveira não dê mais o seu azeite, nem os campos, a comida; mesmo que faltem as ovelhas nos apriscos e o gado nos currais: mesmo assim eu me alegro no Senhor, exulto em Deus, meu salvador! O meu Deus e o meu Senhor é minha força e me faz ágil como corça; para as alturas me conduz com segurança ao cântico dos salmos” (Hb, 15-19).
“Orai por mim, para que a palavra seja colocada em minha boca, de maneira que eu possa anunciar corajosamente o mistério de evangelho, da qual, na prisão, sou embaixador. Que eu o proclame corajosamente, como é meu dever” (Ef 6,19-20).
Rezemos por todos os ministros ordenados para que sejam sempre mais fiéis ao Evangelho. Rezemos para que o Senhor da Messe envie jovens que abracem essa vocação.