Neste tempo de reorganização institucional,
numa dinâmica sinodal, a congregação olha para o legado de Cléglia Ânesi
e chama as irmãs a refazer seu próprio itinerário espiritual e missionário para melhor servir ao Reino
No dia 18 de setembro do corrente ano celebramos 57 anos da páscoa de Irmã Cléglia Ânesi. O contexto da sua entrega total ao abraço eterno do Altíssimo está intimamente relacionado com a trajetória missionária da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas. Ao revisitarmos alguns aspectos da vida e missão desta irmã, nos reportamos primeiramente ao ano de 1964. Ele é um marco em nossa história missionária. Foi o ano da chegada das primeiras irmãs da congregação em terras nordestinas: em Mundo Novo, na Bahia e em Bacabal, no Maranhão. Mais especificamente em Bacabal, as irmãs Emma Oenning, Orfélia Lodi e Maria Esther Giacomet abraçam com alegria os novos ventos que o período conciliar já apontava. Em fins de setembro de 1965 chega irmã Cléglia Ânesi para somar na missão. Assumiram o Seminário Catequético para formação bíblica e catequética de dirigentes de comunidades, catequistas e de professores da cidade e do interior. Acontecia ali uma ação inovadora da Igreja para a evangelização naquela região.
Hoje, a Igreja toda vive o desafio de retomar o caminho de uma Igreja em saída, no espírito da sinodalidade (Sínodo dos Bispos 2021-2023). E como congregação, estamos imersas no processo de reorganização institucional para melhor responder aos apelos internos e externos. A pergunta é: Que luzes as vivências daquele período inicial de missão no Nordeste com a presença de irmã Cléglia podem trazer para nossa travessia?
Um elemento significativo é o de que as irmãs não ficaram isoladas, mas participaram ativamente numa comunhão de vida e missão com o movimento franciscano local: Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora dos Anjos, Irmãs Franciscanas da Adoração Perpétua, Irmãs Catequistas Franciscanas, Frades Menores e os leigos cultivavam o bem querer e a entreajuda missionária.
A chama da fé as sustentava na nova missão. Como discípulas, mulheres de ouvidos atentos e sensíveis aos gritos da época, iluminadas pelo Evangelho, foram abrindo novos caminhos ao encontro do povo explorado mas resistente, como disse Euclides da Cunha, “o nordestino é antes de tudo, um forte”.
Neste tempo de reorganização institucional, numa dinâmica sinodal a congregação olha para o legado de Cléglia Ânesi e chama as irmãs a refazer seu próprio itinerário espiritual e missionário para melhor servir ao Reino. Seguem alguns depoimentos:
“Conheci irmã Cléglia Ânesi de ouvir falar do amor incondicional que dedicou ao povo do Maranhão. A primeira coisa que aprendi sobre ela: ‘Dou minha vida pelo povo do Maranhão’ (expressão dita por irmã Cléglia, logo após o acidente que a deixou muito fragilizada e na eminência da morte). Mais tarde, no ano 2000, quando da criação da província que recebeu o seu nome, tive a oportunidade de alargar esses conhecimentos desvelando o espírito missionário de uma mulher forte, doada, desprendida, destemida e livre. No contexto de uma Igreja da Cristandade, ela experimentou a abertura para uma Igreja Povo de Deus, com a participação e protagonismo de leigos e leigas. A ênfase na evangelização era mesmo a formação bíblico-catequética como pilares fundamentais para o processo de humanização das relações, do despertar da consciência crítica e fortalecimento das lutas populares em vista à libertação de um povo fadado a simplesmente procriar e tornar-se mão de obra barata, através do processo migratório para a produção de riquezas em empresas do sudeste e sul do Brasil.
Neste sentido, Cléglia nos inspira a dar-nos conta da necessidade de cultivar constantemente nosso aperfeiçoamento em todas as dimensões da vida para sermos mulheres livres e confiantes, em condições de contribuir para mudanças profundas por meio da educação da fé e para a cidadania. O carisma da congregação contém elementos que se contrapõe ao fascismo, autoritarismo e destruição da nossa Casa Comum. Mas é necessário usarmos os métodos adequados, de acordo com o tempo histórico e nos diferentes espaços de missão aonde estamos inseridas. Devemos estar juntas aonde seja possível fortalecer as organizações populares e eclesiais que favoreçam a vida, a construção do Reino” (Irmã Lindalva A. Cruz – Paraíba).“Na dinâmica da vida, nos anos 60, quando a Congregação abre horizontes, Cléglia Ânesi não hesita. Com muita ousadia, põe-se a caminho para uma nova missão, desta vez longe de sua terra natal.Mulher de grande espírito missionário, vai ao encontro das grandes periferias. Naquela época o Nordeste era a grande periferia do Brasil. Bacabal era uma cidade paupérrima.Percebendo a falta de professores e catequistas numa região do interior, assume a missão de formar lideranças nas comunidades. Entra numa dinâmica diferenciada, entra no campo da assessoria e articulação. Multiplica seu saber. Sua atuação no âmbito da diocese de expande.
O mesmo aconteceu no campo da educação. Logo se deu conta dos clamores dos pequeninos da região de Alto Alegre, que não tinham pão. Conta o povo que irmã Cléglia, inquieta, provocou a comunidade para que se organizasse e conquistasse um pedaço de chão a fim de construir a escola para seus filhos. A tal escola chama-se “Escola Santa Clelia”, que foi batizada assim, porque no dia em que estava a comunidade a colocar a pedra fundamental da referida escola, receberam a notícia da morte da irmã.
Hoje, em tempos de reorganização, Cléglia estaria na linha de frente, não hesitaria em defender a causa dos mais fracos, das questões ambientais e abraçar as vulnerabilidades que clamam por vida digna” (Irmã Maria das Graças Gomes – Piauí).
“Mulher sábia, que por amor, disponibilidade e ousadia respondeu ao chamado, aonde dela precisassem até dar a própria vida. Quando ouvia Irmã Verônica Feger falar sobre Irmã Cléglia, a admiração só aumentava, pois nos deixa um legado de entrega incondicional, por amor e sem medo. Estaria ela, hoje acompanhando as lives, participando dos roteiros formativos e orantes. Teria uma atitude permanente de gratidão a cada conquista e pela fidelidade ao chamado que se faz caminho, conforme diz o Apóstolo em ITs 5,18: ‘Em todas as circunstâncias dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Jesus Cristo’ (Irmã Luana O. de Souza – Piauí).
Inspiradas pelo testemunho de Cléglia, alimentemos o verbo esperançar, pois o Senhor caminha conosco. Irmã Cléglia está intercedendo junto a Ele por nós. “Avancemos com confiança e alegria”.
Carinhoso abraço às irmãs, formandas e simpatizantes pelo compartilhamento deste mesmo projeto comum. Comunhão especial às irmãs da Província Irmã Cléglia Ânesi pela festa de sua madroeira!
Comentários
Cleglia Anesi, intercede pela missão, pelas Irmãs e pelo povo que, hoje mais do que nunca necesita ser respeitado em sua dignidade.
Cleglia Anesi, interce por nós.