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12 Outubro 2022
As crianças no tempo de Jesus

 

 

Deixem vir a mim as crianças (os pequeninos)

porque delas é o Reino de Deus”

 (Mt 19,14; Mc 10,14; Lc 18,16

 

No tempo de Jesus, sobretudo, no contexto social e tradição religiosa havia uma divisão social real e inaceitável: de um lado publicanos, considerados pecadores, da parte do mal, ímpios e impuros, de outro, os que se consideravam justos, abençoados, piedosos e puros, “gente de bem” que se outo-dispensavam de qualquer esforço de conversão. Dentre os considerados da parte do mal, amaldiçoados estão as mulheres e as crianças, consideradas “pessoas impuras”, num estado permanente de impureza; tocar nelas significava contrair impureza.

Contrariamente a essa tradição, a essa “ideologia religiosa do judaísmo”, Jesus, fiel a sua experiência do Deus da Vida, acolhe, toca, abraça, os inclui e os faz participantes, em vez de empurrar, agredir, excluir. Os Evangelhos nos contam que Jesus assumiu publicamente a causa das crianças e teve vários encontros com elas: a filha de Jairo, de 12 anos (Mc 5,41-42), a filha da mulher cananeia (Mc 7,29-30), o filho da viúva de Naim (Lc 7,14-15); o menino epilético (Mc 9,25-26); o filho de centurião ( Lc 7,9-10); o filho do funcionário público (Jo 4,50); o menino dos cinco pães e dois peixes (Jo,6,9) e afirmou que o Reino de Deus pertence a elas.

O Evangelho de Mateus nos diz que quando Jesus entrou no templo e derrubou as mesas dos comerciantes e os expulsou, foram as crianças que mais gritaram: “Hosana ao Filho de Davi” (Mt 21,15). E quando os chefes dos sacerdotes criticaram as crianças, por causa de sua ousadia de reconhecer em Jesus o Messias enviado de Deus, Jesus as defendeu, invocando as Escrituras: “Vocês nunca leram na Escritura: ‘Da boca das crianças e dos que mamam tiraste um louvor’? (Mt 21,16). E ao assumir esta causa das crianças, Jesus, também, denunciou rigorosamente quem as escandaliza: “Quem escandalizar um desses pequeninos que acreditam em mim, melhor seria para ele pendurar uma pedra de moinho no pescoço, e ser jogado no fundo do mar” (Mt18,5-6).

O Evangelho de Marcos registra, que certa vez “levaram crianças a Jesus para que ele tocasse nelas. Os discípulos, porém, repudiaram essas pessoas. Vendo isso, Jesus ficou indignado e lhes disse: deixem as crianças vir a mim. Não as impeçam, porque o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Eu lhes garanto: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele. (Mc 10,13-16) E abraçando-as, ele as abençoava, impondo as mãos sobre elas. Em outro momento quando pelo caminho os discípulos discutiam sobre quem dentre eles seria o primeiro ou o “maior”, Jesus, abraçou uma criança e a colocou no meio e disse: Quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe E quem me receber, não estará recebendo a mim mas aquele que me enviou” (Mc 9,30-37).

Os discípulos de Jesus, que tinham assumido de seguir Jesus, ainda concebem uma sociedade onde existem diferenças de grandeza. Estão mais preocupados em manter a “ordem”, em seguir as “normas e leis” de suas tradições religiosas, tentam afastar as crianças que desejam conhecer, tocar e estar com Jesus. Certamente essas crianças brincavam, corriam, gritavam, iam ao encontro de Jesus com algazarra. Por essas atitudes, as crianças eram consideradas desordeiras, atrapalhavam, e não poderiam estar junto com aqueles que sabem tudo, que já não brincam, “não podem perder tempo” com criança.

O que Jesus está a nos dizer com suas atitudes em relação às crianças? Não estaria indicando que “Dia das Crianças” são todos os dias de sua fase de vida? Quando afirmou que o Reino de Deus pertence às crianças, Jesus está a nos falar do “Reino de Vida”; que as crianças também são capazes de viver a proposta dele, que veio ao mundo como criança, para que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10).

Portanto, Jesus está a nos dizer, que é quase impossível fazermos parte do Reino da Vida, se não formos solidários com as crianças, vítimas das mais variadas formas de violência, do desrespeito, da exploração e de maus tratos; se não vamos à luta, com elas, para garantirmos e assegurarmos o seu lugar nos vários espaços sociais, nos programas de governo e nas práticas políticas e pedagógicas. Ainda, Jesus está assinalando, que o Reino de Deus acontece quando juntos, crianças com adultos, descobrem os caminhos da justiça, da partilha, da união, da solidariedade, do perdão, do diálogo, da tolerância, da paz e de um planeta saudável que nos leva a ser uma sociedade fraterna, igualitária, justa, sustentável e solidária.

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Maria Aparecida Furlani