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15 Novembro 2022
Ressonâncias do Congresso dos 50 anos do CIMI

 

“Memória, Mística, Resistência e Esperança”

 

Viemos de vários lugares movidas e movidos pelo desejo do encontro que alimentamos durante a travessia prolongada pela pandemia e por quatro anos de um governo anti indígena. Trazemos os sentimentos de tristeza e indignação por tantas injustiças cometidas contra a vida de milhares de brasileiros, especialmente aos povos originários. Porém, nossas vestes são de festa, o luto transformou-se em luta, resistência e sonho. Viemos para celebrar os 50 anos de caminhada do Cimi, Conselho Indigenista Missionário, somos mais de 300 missionários/as reunidos no Centro de Formação Vicente Cañas em Luziânia-GO, nos dias 08 a 10 de novembro.

Somos mulheres-sementes-teimosas que se somam a essa grande celebração de memória-mística-resistência-esperança pelas cinco décadas de trajetória do Cimi em defesa da vida dos povos originários, representadas pelas irmãs Andréa Moratelli, Lucia Gianesini, Márcia Borges, Zélia Maria Batista, Emilia Altini, Cristina Souza e Maria das Graças Pereira Gomes.

Destacamos a presença de nossa congregação no Congresso, através da inspiradora carta-mensagem enviada por nossa ministra geral Irmã Ana de Pereira de Macedo, acolhida e aplaudida com muita alegria pela Assembleia.

MEMÓRIA-MISTICA – No primeiro dia do Congresso o olhar de gratidão para a história, o ritual de purificação dos povos indígenas e o abraço de reencontro nos conduziram pelos caminhos trilhados ao longo de 50 anos. A década de 70 foi marcada pela fundação do Cimi (1972) num contexto de obscuridade, aridez e repressão impostos pela ditadura militar, irrompe-se o clamor por liberdade que vem dos mais vulneráveis. Num contexto eclesial favorável às questões sociais surgem as primeiras grandes Assembleias dos povos indígenas (1974) e o Cimi vai sendo configurado pela presença significativa de leigos e leigas, voluntários, carinhosamente chamados de “mochileiros, mochileiras” que em suas peregrinações descobrem inúmeras etnias, até então invisibilizadas e silenciadas pela negação ao direito de EXISTIR, enquanto povos originários. A mística militante que perpassa essa trajetória histórica é marcada pelo perdão à colonização imposta a esses povos e a gratidão que nos permite celebrar a graça pascal de muitos mártires que demarcaram seus territórios com o próprio sangue em vista de construir o sonho de uma sociedade alternativa, o Bem Viver. Ainda nesse primeiro dia foi rememorada a caminhada dos 11 regionais ao longo de cinco décadas, apresentando a realidade de luta e resistência em defesa do direito ao território promulgada e garantida pela Constituição Federal de 1988 em seus artigos 231 e 232. A narrativa feminina de Irmã Rebeca do Regional Norte II, aproxima, rompe o mundo das ideias e nos introduz nessa realidade de uma forma tão profunda que cada missionário e missionária sente-se representado em sua fala.

RESISTÊNCIA - “meu nome é resistência”, frase da liderança indígena – Rose Tremembé - marca o segundo dia do Congresso que nos introduz ao tema através da Marcha da Resistência com as seguintes frases: “Reduzidos sim, vencidos nunca”, “Resistir para Existir”, “Somos Povos da Resistência”. O Cimi para o Prof. Eliel Benites do Povo Guarani Kaiowá significa a árvore da resistência cujos frutos foram apresentados pela mesa de debates que nos trouxe a reflexão sobre os diversos serviços prestados pela organização tendo como linhas de ação a luta pela terra, a formação política-jurídica em vista da autonomia dos povos; a formação de seus membros; mobilização e as incidências políticas em instâncias nacionais e internacionais; alianças e parcerias com entidades afins e apoiadores. Dentre as muitas conquistas ao longo desses cinquenta anos destaca-se o acompanhamento ao processo de anulação do marco temporal garantindo o direito constitucional ao território pelos povos originários. Lembramos aqui a frase de Edinho Macuxi: “Tudo o que enfrentamos nos motiva a ser fortes e ser guerreiros, reconhecemos que fomos reduzidos, mas nunca vencidos”.

Ainda no segundo dia foram refletidas várias temáticas nas mini plenárias. Dentre tantos desafios levantados, as urgências socioambientais ecoaram pela voz da liderança indígena: André Karipuna quando expressava seu grito em defesa da Casa Comum: “Só há vida na terra com a floresta em pé”. Isso nos faz refletir que a demarcação do território traz em seu bojo a sustentabilidade, o cuidado, a soberania alimentar, “a cura da terra” e da tessitura das relações rompidas e violadas pelo patriarcalismo e pelo antropocentrismo. Tempo de “Reflorestar mentes para a cura da terra”. (Tema da Marcha das Mulheres Indigenas-2021)

ESPERANÇA - Chegamos ao terceiro dia conjugando o verbo “ESPERANÇAR”. Porque somos SEMENTES de esperança, ousamos seguir semeando afim de que as sementes de ontem, sejam frutos do hoje; as sementes do hoje sejam frutos do amanhã. As mulheres-sementes-teimosas, matriarcas do Cimi, ocuparam seu espaço, garantiram que a voz silenciada encontrasse brechas e conseguisse expressar o canto pela vida. Ao longo de cinco décadas continuam sendo fonte de inspiração, pois sustentam a luta, a resistência nas retomadas e conquistas pela terra; guardiães das sementes, do fogo, das espiritualidades, da cultura, da sabedoria mantém o povo em marcha.

Esperança é certeza, força concreta que transforma as sombras da noite escura da qual estamos saindo em amanheceres esperançosos povoados pelo projeto de superação do modelo capitalista-colonizador. Esperançosos e Esperançosas caminhamos para mais cinquenta anos, nutridos e nutridas pela mística cristã e pelas espiritualidades dos povos originários, avançamos com coragem, ousadia e alegria, pois:

“A esperança que se renova em cada luta, em cada movimento, em cada ato de resistência dos povos e comunidades indígenas é facho de luz, que ilumina e orienta também a nossa missão”. (Manifesto Congresso 50 anos do Cimi).

Leia mais sobre o congresso acessando o link abaixo

https://cimi.org.br/2022/11/cimi-encerra-congresso-50-anos-manifesto-esperancando-causa-indigena/

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: irmã Zélia Maria Batista

Comentários  

#1 Maria Fachini 17-11-2022 00:16
Que feliz fiquei ao ver este grupo significativo de Irmãs minhas "no campo" com os povos indígenas, cultivando a memória que faz resistir e esperançar. Esperançar construindo um presente e um futuro de vida em abundância para os povos originários e para o planeta. Estamos em outro campo, mas a batalha é a mesma: buscamos vida, dignidade, esperança para os pobres e para a mãe terra que nos sustenta.

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