Nos dias 24 a 28 de abril de 2023, mais de 5 mil pessoas, representando cerca de 200 povos indígenas, estiveram reunidas em Brasília (DF), para a 19º edição do Acampamento Terra Livre-2023, a maior mobilização dos povos indígenas do Brasil, e uma das maiores do mundo, intitulado “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação não há democracia! ”. Em suas falas lembraram que “esse processo de luta territorial teve início na década de 1970 no Nordeste, com o povo Potiguara e acabou se expandindo.
O Acampamento Terra Livre-2023 reforçou a importância da demarcação de terras indígenas no país, que ficaram paralisadas durante quatro anos no Governo Bolsonaro e “apresentou ao governo Lula uma lista de 14 Terras Indígenas (TIs) que estão com o processo demarcatório na fase final, faltando só a homologação. Existia, inclusive, uma expectativa de que o governo anunciasse a demarcação dessas 14 TIs no marco dos 100 dias de governo, porque foi uma promessa de campanha, mas isso não aconteceu”. Ao mesmo tempo, sabe-se que “existem setores do agro se movimentando, inclusive para tirar a demarcação de terras da alçada do recém-criado Ministério dos Povos Indígenas”. Mas, nós, Povos Indígenas, “estamos ansiosos para que a política volte a funcionar, para que de fato as demarcações aconteçam. A priori, nessas 14 terras e, logo em seguida, que se dê prosseguimento às mais de mil terras que estão aguardando esse desfecho”.
Durante os 5 dias em Brasília, diversas foram as atividades culturais e de formação, debates, plenárias, oficinas, reuniões e manifestações que marcaram a luta em defesa de direitos, por demarcação dos territórios, contra o marco temporal e o ecocídio. Na sexta-feira (28), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do encerramento do Acampamento Terra Livre e assinou, decretos de homologação de seis terras indígenas, processos que estavam parados desde 2018, e disse que em seu mandato pretende "não deixar nenhuma terra indígena que não seja demarcada".
Segundo o CIMI de Roraima, povos indígenas de 11 regiões de Roraima, realizaram a 4ª edição do Acampamento Terra Livre em Roraima (ATL/RR), na praça Ovelário Tames Macuxi, no centro de Boa Vista, seguindo a mobilização nacional em Brasília. Também ali o grito foi “O futuro indígena é hoje – sem demarcação não há democracia”.
A voz do CIMI-RR ecoou dizendo que “Marcado pelos cantos, danças e rituais sagrados, o ATL/RR reuniu lideranças, Tuxauas, coordenadores, professores, estudantes, acadêmicos, mulheres, jovens, conselheiros, pajés, artistas, artesãos, agricultores, operadores em direito, agentes ambientais, comunicadores, crianças e diretores dos povos Wapichana, Macuxi, Taurepang, Wai-Wai, Patamona, Sapará, Ingaricó, Yanomami e Ye`kuana, para exigir seus direitos à vida e ao respeito pelas suas culturas. “São 523 anos de resistência e as Forças e Sabedorias que não se apagaram, continuam vivas e atuantes, e irão se manter nas novas gerações, afirmou emocionada, Raquel Wapichana, Coordenadora Estadual da Juventude do Estado de Roraima, instância que integra o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e tem por objetivo envolver e dar voz e vez aos jovens indígenas dos territórios do estado”. “Nós, enquanto jovens lideranças temos esse papel fundamental de somar, juntamente com as nossas lideranças e fortalecer o movimento indígena, que é uma causa, que é uma luta de todos nós”. O maior objetivo das delegações que vieram acampar em Boa Vista e participar do ATL/RR era reivindicar as homologações dos territórios que ainda faltam, direitos às políticas públicas específicas e, também, a saída definitiva dos garimpos das terras Yanomami e demais territórios indígenas de Roraima. “Estamos aqui e ficaremos até dia 29, reivindicando as homologações das nossas terras indígenas, reforçando nossos direitos enquanto povos indígenas, melhorias pra saúde, educação, território e sustentabilidade, e também reivindicando ‘não ao garimpo’ que vem degradando os nossos povos Yanomami”.
Dentre as atividades, fizeram uma marcha chegando em frente ao Palácio do Governo, para assinatura de documentos reivindicatórios. Além do firme posicionamento contra o marco temporal e mostrando que os povos indígenas estão atentos ao jogo de forças que está posto no cenário político nacional, o documento alerta para medidas legislativas em andamento no Congresso e Senado Nacional e reafirmam sua luta contra elas.
A causa dos povos indígenas é de todos/as nós. Acompanhemos e apoiemos suas lutas para garantir seus direitos.
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