Estamos já vivendo na alegre expectativa do Natal, a festa tão cara ao coração de Francisco, tão significativa na espiritualidade francisclariana. A comunidade de Lucas acha importante dizer que Maria o “envolveu em panos e o colocou em uma manjedoura”. Foi colocado num lugar onde se coloca o alimento para os animais. A companhia dos animais não é ocasional. É intencional, é teologal, isto é, maneira de Deus falar. É pouco provável que houvesse boi nos lugares mencionados nesta narrativa, mas com certeza, havia ovelhas, burros, cabras, animais que os pobres possuíam ou cuidavam para os outros. O que há é uma clara mensagem: a libertação esperada chegou para toda a criação. Gemido e sofrimento se transformam em adorante prostração diante de tamanha grandeza.
“Admirável humildade, estupenda pobreza!” Pobreza e humildade do Verbo que se faz húmus, assume a fragilidade de nossa matéria! É uma realidade que absorve, enternece e plenifica o olhar e o coração de Clara. Contemplar o mistério de Deus que veio à nossa terra, habitou nossa casa, se abrigou em nossa tenda, comeu nosso pão, conquistando-o com o suor do seu rosto, como o fazemos nós, é seu alento e alimento, é sua própria vida que compartilha com a amiga Inês:
“Fixa o teu olhar no espelho da eternidade, deixa a tua alma banhar-se no esplendor da glória e une o teu coração Àquele que é encarnação da essência divina, para que, contemplando-O, te transformes inteiramente na imagem da sua divindade. Assim, também tu poderás experimentar o que só os amigos podem sentir quando saboreiam a doçura escondida que Deus reserva desde toda a eternidade àqueles que O amam.
Despreza tudo o que neste mundo de enganos e perturbações cega o coração dos homens e ama de todo o coração Àquele que se entregou por teu amor e cuja beleza o sol e a lua contemplam. A grandeza e a abundância das suas recompensas não têm limites. Ama, repito, Aquele Filho do Deus altíssimo nascido da Virgem que O concebeu sem deixar de ser virgem. Vive unida à Mãe dulcíssima que deu à luz o Filho que nem os céus puderam conter. E, todavia, ela o levou no pequeno claustro do seu ventre sagrado e o formou no seu seio de donzela. (3In 12-19).
A Francisco extasia o mistério de Deus Altíssimo que se entrega à nossa condição. Por esta entrega, o Natal é a festa da generosidade de Deus que envia seu Filho como dom redentor para a humanidade
“Celebrava com incrível alegria, mais que todas as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos.
Beijava em famélica meditação as imagens desses membros infantis, e a derretida compaixão que tinha no coração pelo Menino fazia até com que balbuciasse doces palavras como uma criancinha. Para ele, esse nome era como um favo de mel na boca.
Certa vez em que os frades discutiam se podiam comer carne porque era uma sexta-feira, disse a Frei Morico: “Irmão, cometes um pecado chamando de sexta-feira (dia de Vênus) o dia em que o Menino nasceu para nós. Quero que nesse dia até as paredes comam carne. Se não podem, pelo menos sejam esfregadas com carne pelo menos por fora!”
“Queria que, nesse dia, os pobres e os esfomeados fossem saciados pelos ricos, e que se concedesse uma ração maior e mais feno para os bois e os burros.
Até disse: “Se eu pudesse falar com o imperador, pediria que promulgasse esta lei geral: que todos que puderem joguem pelas ruas trigo e grãos, para que nesse dia tão solene tenham abundância até os passarinhos, e principalmente as irmãs cotovias” (2Cel 199-200,1-2).
Celebremos neste espírito-raiz a festa de Natal. Celebremos, animadas/animados pela fundamental solidariedade, a festa da solidariedade de nosso Deus.
Com Francisco, Clara, toda a irmandade que celebra no céu, cantemos com júbilo, com alegria de criança a chegada ao nosso mundo da Divina Criança nosso presente-resgate para a vida, para a comunhão.
Feliz Natal!
Comentários
Grande abrazo
Sentimos profunda alegria e gratidão em poder refletir e saborear do dom de tuas reflexões sempre muito provocativas e inspiradoras!
E agora com esse convite para celebrar "neste espírito-raiz a festa de Natal," somos convocadas a fortalecer nosso compromisso nos caminhos da ternura francisclareana e ousadia missionária! Sim, o Amor está chegando qual Sopro Divino agindo na história!
Muchas gracias, Maria!