Ao voltar os Apóstolos e contar-lhe tudo o que haviam feito e ensinado e havendo muita gente indo e vindo, a ponto de eles não terem tempo para comer, Jesus lhes faz este convite atencioso: ― “Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco. Então, foram de barco, em particular, a um lugar deserto”. Todas/todos temos experiência deste cansaço e sabemos quão imperiosa é a necessidade de descanso no trabalho missionário. Jesus mesmo os experimentou, por isso, ele compreende o cansaço dos apóstolos, nossos cansaços, nossas necessidades de parada, de sossego, de solidão para encontrar-nos mais conosco mesmas, compreender-nos melhor e daí, compreender melhor as outras pessoas, compreender melhor o universo. E Ele sempre nos faz um convite a retirar-nos. Que bom que temos férias, na maioria dos trabalhos. E que bom que também a maioria de nós aceita o convite de Jesus e se retira a tantas formas de deserto, muitas vezes até em cidades muito populosas. Desertos povoados de pessoas que levamos no coração. Descanso, retiro, oração mais calma e intensa. Renovar as energias, renovar propósitos e esperanças. As férias acabaram para maioria, mas a energias ficaram.
As biografias nos mostram que Francisco amava o deserto da montanha, das grutas, das ermidas e igrejas abandonadas. Passava dias e dias nesta solidão. Não era em férias, mas em oração, em contemplação, em profunda comunhão com Deus, para discernir sua vontade. “Mudado para melhor depois da visita aos leprosos, levando a lugares remotos um seu companheiro a quem queria muito bem, dizia-lhe que tinha encontrado um tesouro grande e precioso. O homem exultou não pouco, e ia com ele sempre que o chamava. Francisco levava-o muitas vezes a uma certa cripta perto de Assis e, deixando fora o companheiro, preocupado com o tesouro que teria, entrava sozinho, e, invadido por um espírito novo, orava no escondido ao Pai, não querendo que ninguém soubesse o que fazia lá dentro, a não ser só Deus que consultava assiduamente sobre o tesouro celeste que devia ter (LTC 12,1-3). “Queria fugir ao convívio das pessoas e ir para os lugares mais afastados, para se livrar de todos os cuidados e preocupações com as outras coisas, e ficar separado de Deus apenas pela parede provisória do corpo” (1Cel 103,9).
Clara amava a solidão, pois como testemunham as fontes ainda na casa paterna “gostava de cultivar a santa oração” (LSC 4,1). Nunca uma solidão vazia, mas uma solidão-comunhão com Aquele que a atraiu ficar com Ele, por quem abandonou a casa paterna não porque não amasse a família, mas para viver, como Francisco, esta absoluta comunhão com o Amado: “Afirmou ainda que madona Clara ficava longo tempo em oração durante a noite, depois de Completas, derramando abundantes lágrimas. E, enquanto teve saúde, levantava-se à meia-noite para a oração” (PC 10,3). E se alegra profundamente com sua amiga Inês por haver preferido o silêncio do mosteiro antes que o bulício de um reino: “Esta alegria não é só minha, mas compartilhada por todos os que servem ou desejam servir a Jesus Cristo. E com toda a razão. Com efeito, mais do que qualquer outra mulher, tivestes o ensejo de desfrutar as pompas, honras e dignidades mundanas... Mas a tudo isso renunciastes. Preferistes abraçar com todo o afeto de alma e coração a santíssima pobreza...” (1In 4.6).
Que a pausa das férias, (para quem teve) nos tenha revigorado e que possamos retomar com energia renovada o próximo tempo que o Senhor nos concede para a missão. E que nossos silêncios sejam fecundos, fortaleçam nossa comunhão com Deus, com nossos irmãos e irmãs, com o universo.