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10 Maio 2025
Na Dança do Carisma

Ser Catequista - Fazer ecoar a presença de Deus libertador no mundo

Com os sentimentos misturados de alegria pela vivência pascal da ressurreição do Senhor e de pesar pela partida de nosso querido irmão papa Francisco,  somando à surpresa e expectativa confiante do pontificado de Leão XIV, voltamos a re-tecer mais um passo na dança do carisma. Hoje sobre o nosso ser catequista. Na verdade, será muito mais uma partilha de testemunhos lidos e/ou escutados.

Estamos acostumadas refletir este tema como parte de nossa diacronia específica. No entanto, o último capítulo geral da congregação, lançou um horizonte ampliado desta visão na definição da linha inspiradora nº 2: “Vivenciar nossa missão como Educadoras/Catequistas em todos os espaços onde estamos inseridas, no diálogo e mútuo aprendizado com a terra e seus povos inspiradas na pedagogia de Jesus”. Não acompanhei as discussões que foram feitas a respeito, mas meu coração ficou muito feliz pois na prática é esta a compreensão que temos. 

Nossas primeiras irmãs tinham o seu ser catequista muito presente. Sendo da terceira ordem de S. Francisco, vivenciavam o que ele recomendava: “A paz que anunciam pela boca tenham-na mais amplamente em seus corações...pois os irmãos e as irmãs foram chamados para curar os feridos, reanimar os abatidos e reconduzir os errantes.”(R. e Vida da TOR, nº 29). As profetizas   não seguem a lógica da sociedade, mas a do Deus de Jesus Cristo. “Abrir um caminho novo, diferente e nele permanecer, exige clareza no espírito, audácia e perseverança. Só a certeza da fé pode sustentar a profecia, o desconforto e a solidão de um caminho diverso”.[i] E enraizadas assim no Espírito é impossível não fazer ecoar (conceito etimológico de catequese) a presença do Deus vivo.

   Amábile de nome, amábile de vida, bem diz o canto. Ir para a comunidade, morar com os colonos, ajudá-los na lavoura, no culto, no catecismo, na escola; voltar à fonte para se reabastecer era sua vida-missão. Maria, no atendimento às irmãs, nas decisões que precisava tomar, no intuir a necessidade de alargar a tenda da congregação aceitando o convite de ir a Mato Grosso, enfim o seu ser bondoso, compreensivo e comprometido, catequizava. Igualmente Liduína, nas longas caminhadas   ao visitar casais para conversar e ajudá-los nas dificuldades relacionais; ou na sua acolhida às pessoas sempre sorridente estava sendo catequista.[ii]

   Certamente na continuidade da história não foi diferente. Ao interagir sobre o tema com várias irmãs que atuaram ou atuam diretamente na área da catequese foi muito interessante. É notável como todas acentuam que podemos viver este ser catequista em todas as dimensões de nossa missão. Uma das irmãs que tive o prazer de conversar pessoalmente foi com irmã Lucia Neotti. Sobre como surgiu sua vocação: “minha vocação nasceu exatamente numa aula de catequese(...)A irmã que estava dando a catequese disse que a gente tinha que estudar o catecismo toda a vida. Aí então eu pensei: “Como vou fazer para estudar por toda a vida o catecismo? Então vou ser uma irmã também...assim eu fiz...” Foi emocionante escutar esta mulher de quase 100 anos falar com tanta convicção e entusiasmo; saber que sua motivação primeira já sinalizava o Ser Catequista na essência. O estudar catecismo por toda a vida   para ela foi aprofundar o evangelho e vivenciá-lo no cotidiano, como ela mesmo disse: “eu fui sempre feliz, tão realizada que não sentia cansaço (...)” Sobre as irmãs que nunca trabalharam diretamente na catequese ela foi clara: “Se a gente trabalha na união não tem diferença. A irmã que fica em casa, ou vai para outra pastoral, se faz como ensina Jesus, ela está sendo catequista também.” [iii] Percebe-se na resposta uma profunda consciência de que nosso ser catequista é dinâmico, aberto e contínuo, independentemente de onde atuamos.

     As irmãs que contatei virtualmente vão na mesma direção, disseram coisas profundas que fica difícil resumi-las. Vou transcrever alguns trechinhos como faíscas para aquecer o coração: Irmã Vitalina[iv] de espírito missionário admirável e de atuação incansável diz: “todas nós podemos ser catequistas. (...)Catequese é muito mais do que ensinar verdades da fé. É orientar e ajudar as pessoas a realmente ter uma vida baseada nos valores cristãos, ter uma vida digna com deveres e direitos, que saiba reivindicar seus direitos e dos outros também. (...)   É mais a vivencia da fé no cotidiano, cuidado com a vida em todas as suas dimensões. Mostramos que somos pessoas de fé, na vivencia, as 24 horas do dia.”  Para irmã Lúcia Both [v],  não é diferente. Expressa que, é na mistura de Fé e Vida que nosso ser catequista caminha: “Sabemos que a catequese é permanente, nós Irmãs podemos ser catequistas de muitas maneiras: visitas,  conversas  com as pessoas,  (...) através das escutas que fazemos. O povo precisa ser escutado. Existem muitas crianças, adolescentes, jovens, adultos ansiosos, depressivos, afastados esperando uma palavra de ânimo, força. Que o convívio humano, o trabalho e os desafios que a vida nos tráz, sejam sustentados pelo alimento da fé e a participação   na comunidade(...) É isso, podemos aproveitar todos os momentos e oportunidades para dar a mensagem de Vida e Esperança.”  Irmã Celestina[vi] deixa transparecer em sua fala, não só pelo que diz, mas na sua maneira convicta, a simplicidade e sabedoria profunda de seu ser catequista: “A catequese deve ser entendida como uma ação evangelizadora. Então todo trabalho que as irmãs catequistas fazemos é evangelizador. (...)Nós, através de tantas ações (e também da catequese específica), temos a missão de conduzir (ou fortalecer a fé já existente) a pessoa ao encontro com Deus.  (...) Foi o que Jesus fez, Jesus foi conduzindo as pessoas à misericórdia de Deus até as pessoas se encantarem por Deus e querer segui-lo”

   Acredito que esses depoimentos se complementam e confirmam o que diz nossa forma de vida, que com o nosso Ser catequista queremos contribuir na formação de comunidades eclesiais que mergulhadas na vivência de sua fé se comprometem com a transformação da realidade (CCGG nº31).

   Oxalá que pelas palavras e pelo testemunho de vida, façamos ecoar cada vez mais forte nas realidades doídas e sofridas do mundo, a presença fiel de Deus vivo, misericordioso libertador.



[i] Eunice Berri“ Encarnação nos passos da História” em “ Missão e Diaconia – Relatos de Experiencias. 2006 pg14.

[ii]  “Amábile Avosani – Mulher de grande coração”,1996   e “Liduína Venturi- Mulher do sorriso evangelizador”, 2003 de Augusta Neotti; “Madre Maria Avosani ,1984- Ede Maria Valandro e Tereza Valler. Bem como também em  tantos testemunhos de  irmãs que as conheceram.

[iii]Irmã Lúcia Neotti, 99 anos, trabalhou em vários lugares de Santa Catarina e em Duque de Caxias- RJ. Esteve sempre ligada à formação de comunidades, especialmente na área da catequese.

[iv] Irmã Vitalina Trentim, 84 anos, trabalhou muitos anos na Bahia e em Angola. Continua vivendo seu ser catequista atuando na organização e formação de lideranças das comunidades em Água Azul do Norte –PA

[v] Irmã Lucia Both, 69 anos. Por 14 anos Estee em missão na Argentina. No Brasil,  em vários  lugares de Paraná. Hoje continua contribuindo na coordenação da catequese e outras pastorais em Corbélia - PR.

[vi] Irmã Celestina Zardo, 87 anos. Trabalhou 28 anos na coordenação de catequese na diocese de Joinville  e  contribuiu na elaboração do material de catequese que vai ser editado pela Paulus. Continua sua catequese, acolhendo as irmã que chegam em Blumenau (apartamento)

 

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Carmelita Zanella