Aproxima-se a festa de Pentecostes, mas uma informação a precede: “Há muitas coisas que vocês não podem compreender agora” (Jo 16,12), mas o Espírito virá em nosso auxílio! De onde veio esse Espírito, essa Ruah? Quando veio? Para que veio? Questões sabidas! Questões repetidas! Mas nunca entendidas o suficiente, porque o Espírito não se deixa manipular; é vento que sopra onde quer, não pode ser domesticado, nem guardado.
Quando o Espírito vem, “faz um esparramo”! Derruba os projetos humanos e coloca os seus! Também o mais humilde e menor O recebe. Assim compreendeu Clara de Assis! O Espírito não caduca nem envelhece, e “faz novas todas as coisas”. Tanto que, na tarde do “primeiro dia da semana”, reunidos os apóstolos com Maria, conforme narra João, o Espírito Santo criou algo inédito: a Igreja! Um mundo de gente sendo “um só corpo”! E prometeu dar-lhe acompanhamento “até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
Deste fato em diante, Ele não deixa de soprar, de confortar, de defender, inspirar, impelir, fortalecer, entusiasmar, de mostrar as maravilhas que Deus pode realizar, de repartir dons e capacidades na mais rica variedade, e cada um/a segundo o que recebe, serve em benefício de todos (cf. I Cor 12,3) pois as pessoas são diferentes nas suas necessidades e ninguém deve ficar sem ser atendido/a.
“O Espírito Santo nos habita e é um Espírito que nos torna capazes de inventar, criar, decifrar, abrir novos caminhos, a fim de permitir às pessoas de hoje, encontrar e reconhecer o Cristo sempre vivo através dos seus discípulos”. Desta forma, a todos/as é confiada uma missão: temos a responsabilidade de fazer nascer o mundo novo desejado pelo Cristo da Páscoa, com nossa abertura ao outro/a, com nossa acolhida da sua diferença cultural, religiosa, étnica..., no reconhecimento do Senhor nos irmãos/ãs mais necessitados.
Antes que tudo acontecesse, Jesus tinha avisado os discípulos, que partiria deste mundo, e que voltaria para se manifestar vivo. Mas eles colocaram dúvidas e perguntas a Jesus: por que não te manifestas logo, de uma vez? Por que não fazes um milagre para convencer as pessoas? A isto Jesus nem responde, e mostra que esse não é o seu projeto. Não é o modo como Ele compreende a missão. Não quer se impor a ninguém, nem quer fazer propaganda, mas sim, tem um segredo de amor. Para explicar isso, Jesus usa imagens que percorrem toda a revelação divina na Bíblia.
Deus era identificado no carvalho, embaixo dessa árvore adoravam a Deus (Gn 18,1). Na espiritualidade afro, a Gameleira (o Irôco) é um Orixá < força da natureza que atua nas pessoas >. Para alguns indígenas, toda montanha é lugar sagrado. No Êxodo, o Sinai é o monte sagrado a partir do qual Deus se revela. No caminho do deserto, Deus pede a Moisés que construa uma tenda, que seria o Santuário (Ex 35). Salomão constrói o Templo de Jerusalém, no qual as pessoas poderiam invocar Deus. Mas “os profetas deixam claro que, como Deus é Deus de todo o universo, nem o mundo inteiro poderia contê-lo” (Marcelo Barros). Deus não quer religião ritual, e sim, uma fé ética. Então, Deus “muda de casa”: “A Palavra se fez carne e veio morar no meio de nós” (Jo 1,14). Na “última ceia”, Jesus diz que, ao partir deste mundo, quer inaugurar outro tipo de presença, que não será em nenhum desses lugares, mas sim, no íntimo das pessoas, se elas se mantiverem fiéis à sua proposta: “Se alguém me ama e adere à minha Palavra, meu Pai e eu viremos a ele e, nessa pessoa faremos nossa morada” (Jo 14,23). “O Espírito Santo não fala por si mesmo, mas comunica o que recebe do Pai e do Filho. Significa que a revelação divina é um processo continuo, no qual Deus nos vai mostrando sua vontade de forma permanente e progressiva” (Margoth Alvarez). Paulo já tinha afirmado: “Vocês são templos do Espírito Santo” (I Cor 6,19). A partir de então, os discípulos e as discípulas serão morada divina (cf. Jo 14,17). Trata-se de uma presença que tomará forma na vida das pessoas e elas vão irradiar a Luz Divina pelo modo de ser e agir.
“O Espírito que conduziu Jesus para a sua missão de salvar a humanidade, é o mesmo que agora conduz a Igreja, na continuidade da mesma missão” (Pe. Cesar Augusto, SJ- Vatican News). Esse é o mesmo Espírito enviado a Maria quando ela respondeu “Faça-se em mim...” (Lc 1,38). O Pentecostes é a continuação da obra de Deus, que se revela em Jesus e se manifesta nas pessoas, capacitando-as para dizer: “Faça-se em nós”!
Na intimidade amorosa da Palavra, cumprirmos nossa missão de fazer deste mundo uma terra de amor, justiça, respeito, paz e vida plena para todos os seres vivos. O Papa Francisco oficializou a expressão “Ecologia Integral”, que une o cuidado com a Mãe-Terra ao caminho da justiça eco-social e ao esforço permanente de conversão, para que cada um e cada uma de nós possa ser sempre mais e mais morada do Espírito Divino, apesar de nossas fragilidades.
Que o Espírito nos una na riqueza das nossas diferenças para que elas não sejam motivo de discórdia e divisões. Que ele nos inspire profundos sentimentos de reconciliação, afeto e delicadeza e a face da Terra seja renovada. Que nos deixemos impulsionar por este Espírito que tem a capacidade de transformar em amor tudo o que toca: a política, a arte e a vida. Que nossas vidas sejam permanente encarnação do Espírito Divino, na abertura universal a todos os espíritos favoráveis à Vida (em todas as religiões e culturas) e realizemos no mundo um novo Pentecostes. Este é o caminho da PAZ E BEM!
