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11 Julho 2025
FRANCISCLAREANDO - Entre cantos e danças

 

Alegria anda abraçada com convívio fraterno amoroso.

  

Terminou o mês das festas do povo, da dança alegre, do colorido, dos sabores simples e perfumes penetrantes. Junho, mês do Coração dAquele que nos “amou até o fim” e de sua Mãe Santíssima “de pé junto à cruz”, dando a seu Filho a força para ser fiel aos desígnios do Pai sobre a humanidade. Com toda confiança podemos dizer deste mês, o mês da alegria. A alegria de saber-nos amados/as por este Coração fonte insondável do Amor; a alegria cantada nos salmos, que resiste a “todas as ondas e vagas que passam por cima de nós”. Esta alegria está fazendo falta no mundo. A alegria é tema que percorre as páginas da Bíblia de Gênesis a Apocalipse. A todo momento os Escritos Sagrados nos convidam a alegrar-nos, a regozijar-nos.

Muito enfermo, Francisco foi até repreendido por seus irmãos, porque cantava em vez de lamentar suas dores e pensar na morte. Eles temiam que isso pudesse escandalizar o povo (Cf EP 121). Seu olhar sobre a criação era puro encanto e convite a louvar o Autor de sua beleza e grandeza. E sua vivência e ensino sobre a alegria está mui clara neste texto bem conhecido que, como diz o saudoso Pedro Casaldáliga “anda mais nos livros que na nossa vida”.

Vindo uma vez São Francisco de Perusa para Santa Maria dos Anjos com Frei Leão, era tempo do inverno e o frio grandíssimo o cruciava fortemente. Chamou Frei Leão, que ia indo na frente, e disse assim: “Frei Leão, se acontecer, por graça de Deus, que os frades menores deem em todas as terras grande exemplo de santidade e de boa edificação; apesar disso, escreve e anota diligentemente que não está aí a perfeita alegria”. [...] E durando esse modo de falar bem duas milhas, Frei Leão, com grande admiração, lhe perguntou, dizendo: “Pai, eu te peço da parte de Deus que tu me digas onde há perfeita alegria”. E São Francisco lhe respondeu: “Quando nós estivermos em Santa Maria dos Anjos, tão molhados pela chuva, enregelados pelo frio, enlameados de barro, aflitos de fome, e batermos à porta do lugar, e o porteiro vier irado e disser: Quem sois vós? E nós dissermos: Nós somos dois dos vossos frades. E ele disser: Vós não dizeis a verdade, aliás sois dois marotos que andais enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres; ide embora; e não nos abrir, e fizer-nos ficar fora na neve e na água, com o frio e com a fome até de noite; então, se nós suportarmos tanta injúria e tanta crueldade, e tantas despedidas pacientemente, sem nos perturbarmos, e sem murmurar dele, e pensarmos humildemente que aquele porteiro nos conhece de verdade, que Deus o faz falar contra nós; ó Frei Leão, escreve que aqui há perfeita alegria. E se, apesar disso, continuássemos batendo, e ele saísse para fora perturbado, e nos expulsasse como velhacos importunos, com vilanias e bofetões, dizendo: Ide embora daqui ladrõezinhos muito vis, ide ao hospital, porque aqui vós não comereis, nem vos abrigareis; se nós suportarmos isso pacientemente, com alegria e com bom humor; ó Frei Leão, escreve que aqui há alegria perfeita. E se nós, mesmo constrangidos pela fome, pelo frio e pela noite, ainda batermos mais, chamarmos e pedirmos por amor de Deus com muito pranto que nos abra e nos ponha para dentro assim mesmo, e ele escandalizado disser: Estes são patifes importunos, eu os pagarei bem, como merecem; e sair para fora com um bastão cheio de nós, e nos agarrar pelo capuz e jogar por terra, e nos revirar na neve e nos bater nó por nó com aquele bastão: se nós suportarmos todas essas coisas pacientemente e com alegria, pensando nas penas de Cristo bendito, que temos que aguentar por seu amor; ó Frei Leão, escreve que aqui e nisto há perfeita alegria. E, por isso, ouve a conclusão, Frei Leão. Acima de todas as graças e dons do Espírito Santo, que Cristo concede aos seus amigos, está a de vencer a si mesmo e de boa vontade, por amor de Cristo, suportar penas, injúrias, opróbrios e mal-estares; porque de todos os outros dons de Deus nós não podemos nos gloriar, pois não são nossos, mas de Deus, como diz o Apóstolo” (Cf Fior 8).

Alegria anda abraçada com convívio fraterno amoroso; anda abraçada com perdão, tolerância, compreensão, ajuda mútua. E, quem disse que alegria é coisa fácil. É, sim, fruto de árduo trabalho, é dom de Deus que devemos pedir cada manhã, a todo momento se necessário for.

Clara foi discípula atenta de Francisco e, como ele cultivou a alegria como atitude de vida, transmitida às Irmãs próximas e distantes, como o faz com sua amiga Inês: “Não desanimes no caminho, corre veloz, com passo leve e sem tropeçar; que nem a teus pés o pó se apegue; avança segura, alegre e jovial, no caminho da felicidade” (2In 12s).

Não tem medo de externar sua alegria que reconhece como dom de Deus, pelo simples fato de poder se comunicar: “Nesta ocasião em que me é possível escrever, alegro-me e exulto no Espírito Santo (4In 7).

E deixa claro que se alegra, sobretudo, porque Inês deixou tudo (riqueza, poder, honras de uma rainha, por abraçar a Jesus Cristo pobre. É alegria intimamente ligada à pobreza: “Clara, indigna e humilde serva de Cristo deseja alegria salvadora no autor da salvação e todo o bem digno de ser desejado.

Sinto imensa alegria pela tua saúde, pela felicidade que sentes e pelos progressos que vens conseguindo no caminho que te há de levar à conquista do prémio celeste. E esta alegria é tanto maior, quanto julgo e creio teres sabido completar admiravelmente as insuficiências que eu e minhas irmãs manifestamos na imitação da pobreza e humildade de Jesus Cristo.

Na verdade, posso alegrar-me e ninguém pode usurpar-me esse direito, porque já obtive o que mais ambicionei debaixo do céu. Não é verdade que, assistida pela Sabedoria divina, triunfaste de maneira surpreendente sobre a astúcia do inimigo, sobre o orgulho e a vaidade, causa da loucura e perdição do coração? Não é verdade que preferiste o tesouro incomparável, escondido no campo deste mundo e no coração dos homens, mediante o qual se compra, nada menos, que Aquele que tudo criou do nada? E que O abraçaste com a humildade, a força da fé e os braços da pobreza? Plagiando as palavras do Apóstolo, considero-te colaboradora do próprio Deus e um suporte dos membros mais débeis do seu Corpo Místico. Quem poderá, pois, impedir a minha alegria, perante tão grandes maravilhas? (3In 2-9).

Que falta ao nosso mundo para ter uma alegria que dure, que permaneça no coração depois de uma festa, de uma vitória, de uma conquista, de uma noitada com amigos e amigas, depois de uma celebração bonita, festiva? Que falta à Vida Consagrada, aos franciscanos e franciscanas para serem este testemunho de alegria que Francisco desejava que fossem seus irmãos? Que me falta a mim pessoalmente para seguir Jesus Cristo na alegria, mesmo entre dificuldades? Francisco, Clara, nossas alegres Irmãs que já nos precedem no Reino da Alegria sem sombras, roguem por nós. Que sejamos amostra viva da Alegre Notícia onde quer que nos encontremos.

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Maria Fachini - Catequista Franciscana