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25 Julho 2025
Cultivar e guardar a criação construindo caminhos do bem viver


25 de julho – Dia Internacional da Agricultura Familiar: “Cultivar e guardar a criação construindo caminhos do bem viver"

Fui solicitada para escrever algo sobre a Celebração do dia do/a lavrador/a. Observei que todos os anos se posta no site da Congregação uma memória histórica do porquê desta Celebração. Muitas de nós somos filhas de lavradores e lavradoras. Nossa raiz está na terra, nas águas, nas florestas... Vou me valer das falas de Jaime Amorim, liderança do MST, João Pedro Stedile e dos compromissos assumidos 48ª Romaria da Terra e das Águas realizada em Bom Jesus da Lapa, de 04 a 06/07/2025, para nos ajudar a refletir sobre como está a situação hoje.

Jaime Amorim relata sobre as duas datas que camponeses e camponesas no Brasil têm para comemorar e celebrar o Dia dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais. Diz ele que existe uma certa confusão no nosso meio, muita gente nos pergunta: celebramos o dia do trabalhador rural no dia 25 de maio ou dia 25 de julho? O mais importante e? que temos duas datas para lembrar que somos trabalhadores e trabalhadoras, como profissão. Esta ocasião é para lembrar também que produzimos para esse país e que, na maioria das vezes, somos discriminados e desvalorizados, mesmo sendo responsáveis por mais de 70% do alimento que a população brasileira consome e coloca na mesa. Para lembrar que dependemos da terra para cultivar este alimento e para exercer nosso trabalho – a mesma terra, que em sua grande maioria está? concentrada na mão de uma minoria de grandes proprietários de terras e de empresas.

Nesse sentido, Pedro Stédile, afirma que o embate agrário do país está entre latifúndio, agronegócio e agricultura familiarreforma agrária e? uma das principais ações que o Brasil, independente de governos, terá que realizar, por decisão política ou por obra da mobilização dos camponeses e camponesas. Trata-se de uma ação necessária para desenvolver o campo, acabar com a violência e fazer justiça, àqueles e àquelas que durante toda a história desse país foram determinantes para abrir novas fronteiras agrícolas, produzir alimentos e que resistiram lutando para sobreviver e para construir um país mais justo. Justiça essa que prevê a divisão das terras, para que o agricultor e a agricultora possam ser tratados com dignidade.

Em síntese, podemos dizer que na data de 25 de maio, comemoramos o dia do agricultor/a e o reconhecimento do/a trabalhador/a rural como uma profissão, como um sujeito de direito. No dia 25 de julho, celebramos também como o Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural. E desde 2014, o então presidente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o brasileiro Jose Graziano da Silva – a FAO se juntou para celebrar o Dia Internacional da Agricultura Familiar e do Trabalhador e Trabalhadora Rural. Estas datas são mais celebradas pelo Movimento Sem Terra (MST) e pela Igreja Católica, que reconhecem este dia como o nosso dia, embasado na questão histórica. A data 25 de julho, esta? relacionada à celebração do desembarque dos primeiros imigrantes alemães, que chegaram no dia 25 de julho de 1824, em Porto Alegre, estes eram camponeses e camponesas imigrantes, que aqui foram chamados de colonos.

Penso que agora é importante continuar compartilhando com vocês nossa presença e serviço, que como Irmãs Catequista Franciscanas, na Bahia, realizamos juntos às Comunidades Quilombolas, Indígenas, Assentamentos de Reforma Agrária, comunidades impactadas pelos projetos de energias eólica e solar, mineradoras e agronegócio. Porque isso retrata um pouco de como está hoje a vida do trabalhador e da trabalhadora rural. Aqui assumimos, em parceria com a CPT, o acompanhamento e assessoria da Romaria da Terra e das Águas, um espaço significativo de anúncio e denúncia.

Destaco alguns trechos da carta dos Romeiros e Romeiras da nossa 48ª Romaria da Terra e das Água, realizada entre os dias 04 e 06 de julho de 2025, em Bom Jesus da Lapa – Bahia.  Reuniram-se cerca de cinco mil romeiros/as, vindos das comunidades eclesiais, organizações pastorais, sociais e populares das dioceses do Centro Oeste, Centro Norte, Sul, Extremo Sul, Sudoeste da Bahia, Norte e Nordeste de Minas Gerais, Sergipe e Espírito Santo. “Inspirados pela Campanha da Fraternidade deste ano, tivemos como tema “Cultivar e guardar a criação construindo caminhos do bem viver” e lema “Que todos tenham vida em abundância” (João 10, 10). O grande encontro favoreceu a acolhida de nós, romeiros/as, nossas lutas, resistências e solidariedades na construção de alternativas reais para o cuidado da Casa Comum, nossos territórios como espaços livres de Bem Viver.

Preocupa-nos o cenário brasileiro, marcado pelo aprofundamento da desigualdade, onde apenas 1% da população controla 50% da riqueza produzida. Tem essa minoria maior influência e domínio da política brasileira, na qual 72% do Congresso Nacional representam as classes dominantes, com 160 fazendeiros e 273 empresários. Nesse arranjo institucional essa maioria parlamentar tem como projeto a manutenção e ampliação dos privilégios das classes dominantes e aprofundamento das desigualdades e violências contra os interesses do povo.”

O modelo de desenvolvimento predominante no Brasil tem a centralidade no apoio às mineradoras, ao agronegócio e aos projetos de energia em larga escala, com práticas de violência e destruição da Casa Comum. Para tanto, esses grupos econômicos apoiam-se na militarização da sociedade, com intervenção da polícia e das milícias para garantia da expansão e consolidação desse modelo predatório. Preocupa a ascendência e influência do Movimento Invasão Zero que pratica violência indiscriminada contra povos e comunidades e impede o direito de acesso à terra. Dinâmicas que agravam a crise climática e dificultam a construção dos caminhos do Bem Viver.

Destacamos que, apesar da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudança Climáticas de 2025, a COP30, a ser realizada em Belém do Pará, em novembro de 2025, ser uma oportunidade para construção de estratégias para o enfrentamento das questões climáticas, predomina a influência das grandes potências e grandes corporações, que favorecem acordos de falsa solução para a crise socioambiental. Propostas com as quais não compactuamos e em reação afirmamos nossos modos de vida em nossos territórios preservados como saída mais efetiva para a crise climática.

Nós, romeiros/as da 48ª Romaria da Terra e das Águas, reafirmamos nosso compromisso com a vida, com nossos territórios, com nossos rios e nossos povos e comunidades que ainda resistem aos projetos de morte, na construção de caminhos de uma verdadeira Ecologia Integral. A partir da interação entre as diversidades dos povos e comunidades, do campo, das águas e das florestas, e de forma participativa, construímos novos compromissos individuais e coletivos em favor da Casa Comum.”

Para mais informações, acesse os materiais da 48ª Romaria da Terra e das Águas:

1. https://cptnacional.org.br/2025/07/07/carta-da-48a-romaria-da-terra-e-das-aguas/

2. https://cptba.org.br/fe-luta-e-agua-para-a-vida-marcam-a-48a-romaria-da-terra-e-das-aguas-em-bom-jesus-da-lapa/

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Terezinha Maria Foppa