Nas pegadas profético-missionárias
de Jesus
Nesta dança chego um pouco descompassada pelo tempo que corre veloz e, às vezes, acabamos colocando-o acima da vida. No entanto, ele não pode roubar a Esperança de quem baila no carisma da Irmã Catequista Franciscana. Nele está contido o ser seguidoras/seguidores de Jesus Cristo, sua vida e missão profética que não nos deixa parar. E o mês de agosto, mês vocacional e de Santa Clara é bem propício para o tema.
A esperança é um farol na vida do profeta, da profetisa. É porque acreditam que a situação pode mudar, que denunciam o que não está conforme a vontade de Deus e anunciam as possibilidades do Reino. Mesmo num campo de ossos secos (Ez 37, 1-14), esperançando, é possível ver saídas. E é no caminho, a caminho, no todo da vida que a profecia vai acontecendo.
A vida toda de Jesus foi profética e missionária. A denúncia e o anúncio se entrelaçavam (Lc 6,30-49) no cotidiano de sua missão. Não foi por acaso que sentiu a mulher lhe tocar e ser curada ( Lc 8,43-48). Além da cura ela precisa “desencurvar” e ser reconhecida para ser liberta. Nem foi uma provocação sem propósito, aquela que Jesus fez aos discípulos que queriam se ver livres da multidão faminta: “Dai vós mesmos de comer...O que tendes aí?...organizem-se em grupos de 50” (Mt 5,16; Lc 9.10-17). É no diálogo franco e aberto, respeitoso mas firme e decidido que o profeta Jesus vai vivenciando sua missão. Às vezes se indignava a tal ponto que agia energicamente (Jo 2,13-22) pois o que é de Deus é de Deus, e o que é de Cesar que seja dado a ele. (Mt 122,21). Porém, jamais perdeu a sensibilidade profética.
Foi este Jesus que encantou Francisco e Clara de Assis. Um Jesus que desde a sua encarnação até a paixão, morte esteve do lado dos pobres, injustiçados, feridos, discriminados, excluídos. E na ressurreição, aparece primeiramente a quem soube esperançar mesmo na noite escura a procura do crucificado (Jo 20,1-18). Um Jesus manso e humilde de coração, (Mt 11,29) mas que não tolera desigualdades e acomodações (Lc 16,9-31; Mt 25, 31-46); orgulho e legalismo (Lc 18,9-14; Lc10,25-37).
Para Francisco estava ali, no evangelho, a regra a ser cumprida pois ele continha a essência da proposta do profeta Jesus. Com Ele é possível o amargo virar doce. Clara, da mesma forma, não podia aceitar, nem deixar que sua amiga Inês aceitasse propostas que desviassem do seu seguimento de Jesus pobre e crucificado. (cf. 2In17-18)
Liduína, Maria e Amábile atentas a realidade que clamava, com ousadia e fé assumiram seguir Jesus Cristo, sua vida-missão profética. Mesmo que isso significasse não ser consideradas “religiosas”, serem discriminadas por optarem acima das “exigências eclesiásticas”, estar lá onde o povo clamava. Não se intimidaram em ir para as comunidades, morando nas casas dos agricultores, participando de seu cotidiano embora essa entrega, as impedisse de cumprir o que era exigido às religiosas da época.
É importante perceber que, o ser irmãs do povo realmente é uma chama que ilumina¹ este compromisso profético em toda nossa caminhada histórica. Seja alimentando para que este compromisso se intensifique, seja interpelando para que não percamos de vista o ponto de partida. E quem é irmã, irmão do povo, sente e vive suas angústias e alegrias, está junto nas lutas em defesa da vida, na conquista de direitos e na vivência de seus deveres.
Recordo aqui, o que irmã Augusta Neotti cita em seu livro: Amábile Avosani - Mulher de grande coração. Diz que Amábile queria que as aspirantes estivessem também no meio do povo, aprendendo com ele na simplicidade. Ela queria as jovens misturadas ao povo, acompanhando a caminhada da comunidade (cf pg 59). Neste sentido, fiquei feliz, quando cheguei em Rodeio 50 na metade de julho, duas irmãs com duas postulantes tinham ido com pessoas da comunidade, em visita às famílias nos morros. Morros que tantas vezes certamente nossas primeiras irmãs andaram. Aquilo que é essencial para a vivência do carisma, é preciso ser garantido desde o processo de formação inicial. Hoje, mais do que nunca a realidade nos convoca a sermos fiéis à missão profética. É animador ler na página da congregação testemunhos bonitos de engajamento profético: “Escutar o clamor, libertar vidas” sobre o tráfico humano; “X encontro da juventude Guarani Kaiowá e Nhandeva”; “Cultivar e guardar a criação construindo caminhos de bem viver” para citar apenas alguns. É animador também perceber que, muitas de nós, vivem sua missão profética no cuidado das irmãs idosas e doentes denunciando a sociedade neoliberal que descarta os que não produzem, os que não podem trabalhar, os que não rendem, não dão lucro. Anunciam assim, que o cuidado despretensioso, amoroso e terno pode mudar o mundo.
No entanto isto, longe de nos confortar apenas, deve nos impulsionar ainda mais nas pegadas profético-missionáarias de Jesus. Nos perguntemos a cada dia, pessoal e coletivamente, a partir de nossas áreas de atuação, nossas linhas inspiradoras e com nossos interlocutores, como não deixar esmorecer nosso profetismo frente as propostas sedutoras do capital consumista e os clamores da realidade cada vez mais crescente.
Oxalá que este mês vocacional, na luminosidade de Clara, fortaleça nossa convicção de que somos chamada/os seguir Jesus Cristo sua vida e missão profética no aqui e no agora de nossas vidas.
Nota: ¹ - 5º estrofe do canto:“As três primeiras” de irmã Beatriz Catarina Maestri e Elsa Rossi
