A Esperança não Decepciona
O Mês da Bíblia de 2025 tem como lema: A esperança não decepciona, nos propõe fazer uma leitura libertadora da Carta aos Romanos. Fazer um caminho da resistência contra o Império de ontem e de hoje, contra as estruturas que ferem a dignidade, e a favor do Reinado Divino que se constrói com luta por Justiça e solidariedade
A Palavra de Deus, na carta aos Romanos, afirma que: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
Quão rica é esta palavra para nós neste tempo de travessia em que vivemos, onde as decepções tentam nos abalar de todas as formas! A Esperança é âncora segura em todas as circunstâncias da vida. Devemos esperar contra toda esperança porque “Jesus Cristo é nossa Esperança” (cf. Hb 6,18).
Paulo escreve à comunidade de Roma, constituída por cristãos judeus e gentios. Uma Comunidade que não conhece, nem foi ´evangelizada´ por ele. Sabe algo da sua vivência de fé. Se apresenta como apóstolo enviado para “anunciar o Evangelho, Boa-Nova de Deus” e quer “compartilhar o mútuo consolo da nossa fé comum”.
Os gentios, sem a Lei de Moisés (Torá), não reconheceram a Deus, que fez grandes obras, e o substituíram por deuses impotentes, que oferecem saúde, fertilidade, vitórias, prosperidade, mas exigem orações, sacrifícios, dinheiro, adoração, obediência, seguindo seus desejos e interesses. Paulo relata a desumanidade a que se chegou: guerras, mortes, crueldade, exclusão, devastação, injustiças.
O povo judeu conhece a Lei, mas também pecou, errou muito. Paulo conhece muito bem como a Lei é ensinada, usada e vivida pelo seu povo. O grupo dos pobres e pecadores, doentes, leprosos, estrangeiros, viúvas, órfãos, são “malditos”, sem salvação, não são perdoados. E, os homens da “religião”: os “puros”, os “separados” - fariseus e outros, são mentirosos, dizem e não cumprem, estão cheios de soberba, de arrogância e prepotência, se consideram “guias”, “mestres”; e pior ainda, excluem da salvação todos os que consideram “impuros”, sejam judeus, sejam gentios. Talvez hoje chamemos isso de “santidade”, “prosperidade”, “meritocracia”, “defesa dos nossos valores”, “obediência”. O que podemos dizer dos contextos que vivemos hoje?
Vale ressaltar que o Deus de Paulo é o Deus da justiça, da esperança, da alegria e da paz (cf. Rm 15,13). Isso tem, consequências para cristãos e cristãs de hoje, compromisso de viver na esperança e no amor como centro da vida. Considerando que essas dimensões existenciais se revelam, concretamente, na solidariedade que constrói uma sociedade com equidade, sem opressão e injustiças.
A atualidade da Carta aos Romanos é inegável num mundo religiosamente plural, que nos move, nos incita, nos provoca e nos convoca a ampliar os horizontes macro ecumênicos. Paulo, sendo judeu, não se omite e tem coragem de se identificar como “apóstolo dos gentios”.
O lema deste mês da Bíblia é uma temática pertinente e necessária na atualidade. Ousaríamos, de forma provocativa, apenas para aguçar ainda mais o interesse pela busca do sentido do tema, apresentar outras formulações possíveis dele: “Esperando contra toda esperança”; “Esperançar contra todas as desesperanças”.
O mundo atual instiga à DES-ESPERANÇA, à passividade, à acomodação, ao desânimo, à naturalização da ordem social estabelecida, que privilegia e beneficia a parte enriquecida da sociedade para a qual é conveniente que a maioria das pessoas não pense, não sonhe, não lute, por qualquer forma de mudança, de transformação, de RE-EVOLUÇÃO!
Paulo lembra em suas cartas a certeza do amor gratuito de Deus, “a salvação é um direito de todos e todas”, que João 3,16 confirma: “Tanto amou Deus o mundo, que enviou seu Filho Unigênito para salvar e não para condenar. A certeza desse amor torna as pessoas filhos e filhas de Deus.
A Divina Ruah nos revigore e anime para continuarmos caminhando na direção do Reinado de Deus como peregrinos e peregrinas da esperança, neste ano jubilar ESPERANÇANDO novos tempos.
