Não vos acomodeis ao tempo presente:
"não fecheis os olhos; nem caleis a boca, nem baixeis as mãos
diante de tantas iniquidades"
Durante o mês de setembro aos ler e rezar a carta de São Paulo aos Romanos, afirmamos mais uma vez, a AMOROSIDADE de Deus-Javé em “Jesus-gente”, que caminhou nas poeirentas estradas da Palestina, fazendo apenas o bem a todas as pessoas.
Hoje, também, faz caminhada conosco, com o mesmo intento, neste mundo complexo da sociedade humana, por vezes, incompreensível. No entanto, faz-se necessário que nos esforcemos para que o nosso olhar sobre o texto bíblico nos revele, nos mostre, nos faça ver/perceber/sentir/degustar o Amor de Deus compromissado com toda a humanidade e com todos os seres vivos da biodiversidade.
Diante das situações dos povos que Paulo percebe, nas suas “caminhadas missionárias”, escreve à comunidade de Roma: “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus se infunde em nosso coração pelo dom do Espírito Santo”.
Paulo quer “compartilhar a fé comum” e fortalecer sua esperança; para isso, propõe viver “segundo o Espírito Santo e não segundo a carne”.
Paulo conhece as grandes cidades do Império e percebe que os povos todos (“judeus e gentios”) estão vivendo a “ira de Deus”, que não é um castigo de um deus ofendido e vingativo, senão a “verdade” dos fatos: “Homens ímpios e injustos” alardeiam da Pax Romana, mas matam e mostram sua crueldade, tramam e realizam injustiças e iniquidades, mentem e enganam o povo “com pão e circo”.
Os “judeus” (fariseus e os líderes políticos e religiosos), com seus ritos e costumes, se consideram seguros e superiores porque conhecem a Lei. Mas, não a cumprem; pior ainda, usam o nome de Deus para julgar e marginalizar do convívio social e da salvação, aos que consideram “impuros” e “pecadores”.
Paulo afirma a “verdade” da parte de Deus: há esperança, há Salvação; e a salvação é de Graça e para todos.É “fé comum”, que ele quer compartilhar com a comunidade de Roma, que sofre perseguições e traições, medos e apostasias e forte desânimo.
Paulo mostra a “verdade” mais completa: “o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo dom do Espírito Santo”. E prova isso lembrando a experiência de Abrão, que “confiou que Deus pode ressuscitar os mortos” e com suas obras de justiça, consegue a paz e “se torna pai na fé e fonte de benção para todas as famílias da terra”.
Também as Comunidades, com maioria de escravos e judeus, vivem essa efusão do Espírito: chamam a Deus de Abba (Pai Nosso, “fiel e misericordioso”), acolhem e cuidam dos excluídos e marginalizados, tratando-os de irmãos: leprosos e doentes, órfãos e mulheres abandonadas, anciãos, descartados...
Hoje, a situação não é muito diferente. Basta lembrar os “genocídios ao vivo e a cores”, o Grito dos Povos indígenas, o aumento de famintos, a morte de migrantes, as crises climáticas causando tantos desastres ambientais e humanos.
Não dá para ter esperança, vendo como odeiam os pobres e tratam de “povinho’ os “imperadores de turno” (que falam de Paz e só anseiam receber o Prêmio Nobel) e muitos “líderes religiosos”, se chamam “cristãos”.
Para recuperar a Esperança, o primeiro passo que Paulo deu foi conhecer a “verdade”, isto é, a situação real dos famintos e sedentos, o povo empobrecido, enganado e oprimido. E provoca: “Não vos acomodeis ao tempo presente :não fecheis os olhos; nem caleis a boca, nem baixeis as mãos diante de tantas iniquidades. Não justifiqueis a morte de ninguém, pelo motivo que for. Nem vos deixeis enganar pelos ‘mitos’ e suas promessas.”
Paulo experimentou que Cristo foi ao seu encontro e se identificou com os perseguidos e com os “pobres”. Hoje, quando muitos líderes políticos e religiosos não querem ouvir falar de pobres e os acusam de causar seus próprios sofrimentos, o Papa Francisco nos desafia a “sair e ir para as periferias sociológicas e psicológicas”, escutar, aprender e comprometer-nos com as soluções, para que todos sejam sujeitos/protagonistas da sua própria história.
Esta carta nos traz uma renovada esperança no Reinado de Deus, nos impulsiona em rebeldia e radicalidade a não calar a profecia diante das injustiças.

