MÃE DOS EXCLUÍDOS
Imagem pequena, Aparecida Maria
Aparecida, ferida e alquebrada.
Aparecida, no rio foi jogada.
Aparecida, depois encontrada.
Aparecida, a rede a pescou.
Aparecida, escola de fé.
Aparecida, o povo a juntou.
Aparecida, o manto a cobriu.
Aparecida, da cor do Brasil.
Aparecida, então coroou.
Aparecida, o pobre e o rico.
Aparecida, o negro e o branco.
Aparecida, caboclos e indígenas.
Aparecida, vulnerabilidade social.
Aparecida, acolhimento e esperança.
Aparecida, saúde e educação.
Aparecida, justiça e paz.
Aparecida, Igreja profética e sinodal.
Aparecida, intercessão divina.
Aparecida, trabalho e solidariedade.
Aparecida, ecologia integral.
Aparecida, políticas públicas.
Aparecida, dignidade e respeito.
Aparecida, moradora de rua.
Exultemos de alegria ao celebrar o Dia de Nossa Senhora, Mãe negra Aparecida, que aparece nesse momento de busca pela paz, pela justiça.
Bendizemos ao Senhor Deus da Vida, a sua predileção pelos pequenos e sofredores, força e alento para suas dificuldades.
Interceda Mãe Maria, junto a Deus em favor do povo pobre e oprimido.
Lembremos de todas as crianças pela festa de seu dia, que seja contínuo de leveza e muito amor.
Cubra-nos com seu manto santo, Nossa Senhora negra Aparecida, presença e símbolo de acolhimento e esperança para as pessoas em situação de vulnerabilidade social, incluindo de modo especial, moradores e moradoras de rua, através da intercessão divina e do trabalho de instituições religiosas e sociais, que buscam fornecer assistência e dignidade a essa população.
A situação de moradores e moradoras de ruas e calçadas é desafiadora e um problema complexo, que afeta toda a sociedade, e que vem se agravando continuamente nesses últimos anos.
Em maio de 2025, segundo estudo do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da UFMG, eram 345.542 pessoas, cerca de 5% a mais do que no ano passado. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são os estados com mais pessoas em situação de rua. (Por Desirée Miranda – Belo Horizonte)
Segundo o coordenador do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, professor André Luiz Freitas Dias, a organização dessas informações contribui para o número mais alto em 2025. Entretanto, ele explica que o racismo estrutural está entre os fatores determinantes para o aumento. "Diversas pessoas e famílias tiveram as suas condições de vida muito fragilizadas com a pandemia, acabando indo parar nas ruas. E talvez o mais importante fator a ser observado é o desrespeito ao racismo estrutural, que tanto acomete a população em situação de rua, majoritariamente negra no nosso país, associado à ausência ou insuficiência de políticas públicas estruturais no Brasil", pontuou.
Neste contexto de desafios, aprendizagem, comunhão, compromisso, esperança de um mundo melhor para todos, ousamos acolher a partilha de vida de algumas pessoas em moradia nas ruas e calçadas: “Mestre, onde moras? Mestre, onde estás? No meio do povo vem e verás!...”
“Há muitos anos deixei o Estado de Minas Gerais, onde minha mãe foi enterrada sem documentos. Então, vim para São Paulo em busca de melhores condições de vida. Acabei por vivenciar um tempo de muitas necessidades, falta de documentos, trabalho, moradia... simplesmente me tornei um morador de rua. Mesmo diante de tantas dificuldades, o que me alimentou e ainda me alimenta é o maior presente que Deus, Jesus e Maria me deram; meus pais que, com muito carinho e cuidados me educaram, me ensinaram a respeitar os mais velhos, cumprimentar com um bom dia, boa tarde, boa noite, me passaram uma espiritualidade de muita fé, confiança, esperança e responsabilidade. Foi com estes ensinamentos que consegui sair desta realidade dolorosa e cruel, consegui ser acolhido, cuidado, ter documentos, um lugar para comer, dormir, comunicar, trabalhar, viajar, visitar meus sobrinhos, primos, cunhadas, cunhados. Resgatei a vida com ajuda de grupos, da Procuradoria Geral, do Serviço Franciscano de Solidariedade - SEFRAS – Casa Chá do Padre. Hoje, tenho onde morar, fiz inscrição para conseguir uma casa para mim, trabalho, fiz amizade com muita gente. Esta é a minha forma de agradecer a Deus, Jesus e Maria de poder ser presença de acolhida, amizade e ajudar as pessoas em situação de rua, em situação de dificuldades no tratamento de saúde” – Fernando (nome fictício).
“Eu morava em Minas Gerais e no desejo de melhorar minha vida, vim para São Paulo e encontrei uma cidade de violência, roubo, droga, bebida, maldade, muita gente na rua e me envolvi com tudo isso e fui me envolvendo na bebida. Já sem me preocupar com nada, só que comecei a pensar assim: se bebo vou morrer, se não bebo vou morrer, então preferi beber, passei muito tempo sem comida, sem casa, sem banho, era só ‘carote’ – cachaça, mas graças a Deus consegui uma ajuda. Sem essa ajuda não conseguiria nada, não dá para sair dessa vida sem ajuda, até que conheci uma moça que me ajudou. É preciso ter força de vontade, eu preciso estar longe de pessoas que bebem, ela pegou meus documentos e conseguiu um lugar para mim. Trabalhei como cozinheira, tinha casa e agora, olha como eu estou, de volta na rua. É muito difícil recomeçar, mas hoje tenho um lugar para dormir, comer, tomar banho. A recaída é muito difícil, perdi tudo. É muito forte, sou muito devota de Nossa Senhora Aparecida, participo na igreja católica, é preciso ter fé, ter esperança, às vezes passo o dia todo no Chá do Padre – SEFRAS. Hoje já tenho um lugar para dormir em um albergue e lá tem muita gente, crianças, tem janta e café da manhã, é só pernoite. Graças a Deus estou viva, às vezes aparece pessoas que atrapalham nossa vida, mas estou com Deus. Hoje eu não quero nada que me tira a vida. Estou a começar reviver. Depois que parei só aparece pessoas a convidar para beber e dá vontade, é preciso força e vontade. Chega de cachaça, pensar que já trabalhei de voluntária, cozinheira aqui, quem me levou a esta situação foi a cachaça, tenho que tomar cuidado, hoje sinto a presença de Deus e Nossa Senhora. Rezo para não recair, é muito pior e como diz na Bíblia, evite o primeiro gole. - Dona Geraldina (nome fictício).
“Rendemos graças ao Deus libertador, alegra-se nosso espírito em Deus salvador. Pois ele se lembrou do seu povo oprimido e fez de sua serva, a Mãe dos excluídos”!
A exemplo de Nossa Senhora Aparecida e inspiradas/os pela Divina Ruah que reaviva em nós a esperança, queremos discernir e assumir o cuidado com a mãe e irmã Terra e dos seus filhos e filhas, que suplicam por uma vida digna, com equidade e justiça.
Dá-nos a bênção, ó Mãe querida, Nossa Senhora Aparecida!
Sob esse manto, do azul dos céus,
guardai-nos sempre no amor de Deus!
Modjumbá Axé!
Imagem de Nossa Senhora Aparecida doada para as Irmãs Catequistas
Franciscanas por uma pessoa em situação de rua.
