A Polícia reprimiu o grupo de manifestantes em frente ao Congresso com spray de pimenta. Houve início de confusão, mas manifestação seguiu pacífica. Passeatas e fechamentos de rodovias acontecem em várias regiões.
Os quase 1,5 mil indígenas que estão acampados em frente ao Congresso, em Brasília, voltaram a se manifestar na Praça dos Três Poderes, ontem, quarta (2/10). Eles fecharam, por cerca de duas horas, no meio da tarde, o Eixo Monumental, na altura do Ministério da Justiça, e depois seguiram em marcha, passando à frente do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF).
No início da tarde, manifestantes tinham tentado entrar no Congresso e foram reprimidos com spray de pimenta pela polícia. Houve início de confusão. Um grupo tentou entrar por um dos prédios anexos e o índio Roberto Tupiniquim, de 25 anos, sofreu cortes profundos nos dois braços quando uma vidraça foi quebrada. Ele já saiu do hospital e passa bem. Um segurança da Câmara também ficou ferido. Um indígena que pulou o alambrado em frente ao Palácio do Planalto foi imobilizado pela polícia, mas solto em seguida.
Os deputados Cândido Vacarezza (PT-SP) e Nelson Pelegrino (PT-BA) ficaram parados no engarrafamento. Vacarezza permaneceu no carro e conversou durante alguns minutos com os manifestantes. Ele foi criticado por causa de medidas e propostas anti-indígenas do governo federal e do Congresso.
O deputado foi questionado sobre como será a tramitação do projeto que está em uma comissão mista do Congresso e que pode restringir drasticamente os direitos indígenas sobre suas terras, a título de regulamentar a Constituição. Vacarezza é presidente da comissão. Ele apenas respondeu que as populações indígenas serão consultadas sobre o assunto e desconversou).
Há algumas semanas, o relator da proposta, senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse que pretendia votá-la em 15 dias. Não há previsão de audiências para ouvir os interessados. O carro de Vacarezza foi enrolado com papel higiênico. Ele deixou o veículo e, cercado por manifestantes, seguiu para o ministério.
Fotos da presidenta Dilma Rousseff, da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e da senadora e presidenta da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Kátia Abreu (PSD-TO), foram flechadas e pisadas por índios.
Reunião
Enquanto a manifestação seguia, um grupo de índios foi recebido pelo presidente da Câmara em exercício, André Vargas (PT-RS), e outros deputados. Eles ouviram a reivindicação de que as propostas contra os direitos indígenas que tramitam na casa sejam arquivadas.
Nesta quinta, pela amanhã, houve nova reunião entre representantes da mobilização e deputados.
Vargas afirmou à Agência Câmara que trabalhará pelo arquivamento da PEC. Ontem, a presidente Dilma divulgou em seu twitter que desaprova a proposta e que orientou sua base parlamentar a votar contra ela. Também ontem, antes de viajar, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), determinou, nesta semana, a suspensão da tramitação da PEC e de todas as atividades relacionadas ao tema indígena.
As duas declarações e a medida de Alves acontecem em meio à Mobilização Nacional Indígena, que começou na segunda (30/9) e segue até sábado (5/10), quando a Constituição completa 25 anos.
Protestos e atividades espalharam-se por vários pontos do País e até no exterior em defesa da Constituição, dos direitos de populações indígenas e tradicionais).
Protestos pelo País
Uma marcha juntou cerca de mil indígenas e quilombolas na Avenida Paulista, em São Paulo. Eles reuniram-se no final da tarde e seguiram pela via portando cartazes e faixas.
Quase 800 índios fecharam a BR-174, que liga Boa Vista (RR) à Venezuela, perto de Pacaraima. O bloqueio começou a uma da madrugada e continuava até pelo menos o meio da tarde. O protesto foi pacífico. Os manifestantes exigiam o arquivamento da PEC 215.
Cerca de 200 indígenas Kaingang e Guarani ocuparam, entre 9h às 15h30, a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), de Porto Alegre (RS). Por volta das 16h, os manifestantes se juntaram ao Bloco de Luta, agrupamento de movimentos sociais, e seguiram em um total de 700 pessoas até o Palácio Piratini, sede da administração estadual. Eles cobraram o compromisso assumido pelo governo, há um mês, de intermediar com agricultores e governo federal a aquisição de terras do estado para o reassentamento de não indígenas que ocupam Terras Indígenas.
Em Palhoça, na Grande Florianópolis (SC), aproximadamente 100 Guarani bloquearam por quase duas horas os dois sentidos da BR-101. O bloqueio total da rodovia ocorreu por volta das 11h.
Protestos também acontecem no Maranhão. Aproximadamente de 300 indígenas Guajajara, das Terras Indígenas Pindaré e Caru, interditaram, de 8h às 15h30, trecho da BR-316, perto de Bom Jardim. Além do arquivamento das propostas anti-indígenas no Congresso, eles também exigiram saúde e educação de qualidade.
Dia (1/10), mais de 100 índios Xavante bloquearam um trecho da BR-070, próximo à cidade de Primavera do Leste, a 240 quilômetros de Cuiabá (MT). O ato aconteceu entre às 17h e 19h30. Com faixas e cartazes, os manifestantes cobraram a conclusão de processos demarcatórios na região. O trânsito na rodovia ficou engarrafado por cerca de 20 km.