O Tráfico de crianças e adolescentes dá-se principalmente por quatro interesses iníquos: Exploração Sexual, Trabalho Escravo, Venda de Órgãos e Adoção Irregular. Abordamos, neste breve artigo, o primeiro aspecto.
No Brasil há uma relação direta do abuso sexual com o trabalho escravo, o que se constata no tráfico sexual para fins comerciais, na Amazônia. Segundo Marcel Hazeu, pesquisador da ONG “Só Direitos”, há “um pacto silencioso de reprodução moral e aceitação prática”, nesta relação desumana secular.
Na Região Norte, que é a mais extensa e a menos populosa do País, seus Estados estabelecem fronteiras internacionais com: Guiana Francesa, Guiana Inglesa, Suriname, Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia e inter-regionais com: Maranhão e região dos Planaltos de Mato Grosso. As Rotas internas acompanham as rodovias e hidrovias da região, cujo fluxo ocorre em direção aos locais de grandes projetos, centros administrativos em expansão, eventos culturais e turísticos, ou para locais que possibilitem conexão de rotas, além das fronteiras nacionais.
Em pesquisa realizada na Amazônia, constata-se que quase a totalidade das vítimas de tráfico e exploração sexual, são meninas traficadas entre 13 a 17 anos. Esta realidade no tráfico de mulheres, crianças e adolescentes, está relacionada com a existência de práticas de aviamento vinculado à prostituição, (regime de escravidão por dívida) principalmente nos garimpos e perto dos grandes projetos de mineração, hidroelétricas, tráficos de drogas... Também as atividades econômicas como construção, transporte, turismo e festas regionais, facilitam a entrada de crianças adolescentes num ciclo de exploração sexual que se repete a cada nova geração.
Na Região Amazônica, migrar em busca de oportunidades de empregos temporários e de renda rápida, de meninas indígenas e ribeirinhas que vão para a cidade (sem a família) trabalhar para poder estudar, constitui-se para muitas pessoas, especialmente para mulheres pobres, via mercado do sexo, uma das poucas opções para fugir da pobreza.
O que motiva a exploração sexual na região amazônica?
É preciso entender a questão da exploração sexual relacionada ao tráfico de pessoas, e a exploração do trabalho. O deslocamento é um segundo elemento importante para falar do Tráfico de Pessoas, saída de uma realidade social conhecida para uma realidade estranha e sem acesso as relações sociais, torna-as mais vulneráveis e dependentes das pessoas que organizam sua viagem e seu lugar de estada. As comunicações são difíceis. Quando alguém sai da comunidade onde vive, pode perder o contato com os familiares e a vida de comunidade.
O que é possível visualizar:
- Muitas das mulheres traficadas passam por uma primeira experiência de trafico quando foram empregadas domésticas na infância. São mães na adolescência sem poder contar com o apoio dos pais das crianças e buscam oportunidade para sustentar e estruturar sua vida com os filhos. Fruto de uma realidade de violência, exploração, trabalho precoce.
- Há uma confusão de compreensão sobre o mercado do sexo, tráfico de pessoas e exploração sexual, geralmente ninguém reprime a busca pelas mulheres de oportunidades na comercialização do sexo. Percebe-se uma herança cultural de submissão da mulher ao machismo e à violência.
- Atualmente há um empenho maior do Governo Federal no apoio a criação e implantação dos Conselhos de Cidadania, especialmente o CMDCA e Conselho Tutelar. A Sociedade Civil vem se manifestando em casos concretos de denuncia e escravidão, assassinatos vinculados ao mercado do sexo, no enfrentamento a exploração sexual de crianças e adolescentes.
A grande questão: o que podemos fazer?
A Campanha da Fraternidade 2014, nos alerta e motiva para tornar visível o problema do tráfico de pessoas humanas; convida-nos a inserir a temática do tráfico nos espaços educativos, nas igrejas, na mídia, e cobrar do poder público implantação de políticas e ações concretas de enfrentamento a exploração sexual, a violência contra as crianças/adolescentes/mulheres e toda forma de tráfico e desumanização das pessoas.
Izalene Tiene - O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. - Assistente Social, Missionária na Diocese de Alto Solimões-AM
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