Os primeiros três dias do mês de fevereiro de 2014 foram momentos de graça, vividos intensamente por nós que participamos da Experiência Assis, oferecida pela Província Santa Clara de Assis, nos anos 2011 a 2013, e algumas que em anos anteriores participaram pela Família Franciscana do Brasil.
Assessoraram este encontro as Irmãs Terezinha Antônia Sotopietra, Maria Luiza Piva e Frei Estevão Ottenbreit, ofm, que também acompanharam os respectivos grupos na fase preparatória e na realização da Experiência.
O encontro teve início com um momento orante, tendo como iluminação o tema bíblico de Lucas 10, 25-37 – o samaritano. Em espírito de oração, cada participante expressou como a Experiência Assis influenciou em sua vida e em seus trabalhos, e como continua ainda hoje sendo iluminação.
Estes dias – disse Frei Estevão – são mais que um encontro. São um reencontro, um convite não apenas a olharmos para trás, como um fato isolado que aconteceu, mas vendo essa Experiência no hoje, como um processo revitalizador, através da partilha de experiências significativas do nosso dia a dia, tendo o cuidado de se perguntar: O que Francisco nos diz hoje, como ele vê essa situação, esse momento de nossa história?
Num primeiro momento, refletimos com Frei Estevão sobre o olhar do Papa Francisco para a situação do mundo e da Igreja, na ótica de Francisco de Assis: “Vai e reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”.
O Papa Francisco, sendo Jesuíta, une esses dois movimentos da corrente da Vida Religiosa: itinerante e jesuítico. Ele bebe da fonte Franciscana, de um Dom que Deus deu a sua Igreja. Vemos muito bem isso em algumas de suas posturas e atitudes, que aproximam Francisco de Roma ao Francisco de Assis.
É presença terna e acolhedora, nunca ingênua. Assim como seu inspirador de Assis, o Francisco de Roma tem influenciado a Igreja a partir de dentro, apresentando ao mundo o caminho do diálogo, do respeito, do amor a Deus e às pessoas.
Francisco ficava maravilhado pelo modo como Deus, o Sumo Bem, em seu amor infinito foi capaz de se tornar tão próximo do ser humano, cheio de lutas, imperfeições e fracassos, marcado pela finitude, que o leva a rezar: “Senhor, quem sois vós? E quem sou eu?” Para Francisco, converter-se, viver a penitência, é voltar-se por inteiro para Deus todo bondade.
A mesma consciência diante da Infinita Bondade apresenta o Papa Francisco ao afirmar: “Eu sou um pecador para quem o Senhor olhou. Sou alguém que é olhado pelo Senhor”.
A conversão do olhar e do coração levaram o santo de Assis a nutrir reverência e este desejo de estar junto àqueles que eram os últimos, os afastados completamente da vida em sociedade. Também com estes o Papa Francisco deseja ardentemente estar. O Papa Francisco quer lançar luz, voltar os olhos da sociedade para aqueles a quem se evita ao máximo o olhar. Ele questiona pelo testemunho.
A exemplo de Francisco, que foi ter com o Sultão, o Papa Francisco também vive e apregoa a abertura ao diálogo e ao encontro com o diferente. A amizade de longa data com o Rabino argentino Abraham Skorka, ainda quando era arcebispo de Buenos Aires, tem gerado muitos frutos de diálogo e aproximação entre Cristianismo e Judaísmo. Papa Francisco fez questão de evidenciar esta amizade e, através dela, acenar para o mundo sua abertura ao diálogo inter-religioso e ao ecumenismo. Ele afirma que a única solução para vencer “mortes” é o diálogo e o testemunho.
Como Francisco de Assis virou as costas para o projeto “mundano” da posse de bens e riquezas e passou a perseguir a santíssima pobreza, o Papa Francisco também ama o despojamento e manifesta tal opção em diversos sinais: na escolha em morar como um hóspede da casa Santa Marta; no assumir postura rigorosa e exigente no tocante à administração do Banco do Vaticano; no pedir aos religiosos que coloquem suas casas e estruturas a serviço dos pobres; no convite à partilha e ao trabalho em prol do bem comum; e outras mais.
O Papa Francisco, ao se encontrar em Assis com os pobres assistidos pela Cáritas, no dia 04 de outubro de 2013, falou: “O despojamento de São Francisco diz-nos simplesmente o que o Evangelho ensina: seguir Jesus significa pô-lo em primeiro lugar, despojar-nos de tantas coisas que possuímos e que sufocam o nosso coração, renunciar a nós mesmos, tomar a cruz e carregá-la com Jesus. Despojar-se do eu orgulhoso e desapegar-se do desejo do ter, do dinheiro, que é um ídolo que possui. Todos estamos chamados a ser pobres, a despojar-nos de nós mesmos; e por isso devemos aprender a estar com os pobres, partilhar com quem não tem o necessário, tocar a carne de Cristo! O cristão [...] é alguém que se encontra com eles, que olha para eles de frente, que toca neles. Estou aqui não para ‘ser notícia’, mas para indicar que este é o caminho cristão, o que percorreu São Francisco.”
Francisco de Assis advertia seus irmãos quando percebia que a postura deles punha em risco a fidelidade evangélica que um dia tinham escolhido abraçar. O Papa Francisco assume a mesma linha, às vezes usando expressões duras e jocosas: pede aos consagrados e consagradas que não se comportem como “solteirões e solteironas”, mas que assumam a postura de fecundos “pais e mães espirituais”; conclama os padres a deixarem a acomodação e irem ao encontro do rebanho.
O tema principal do estudo foi a Exortação Apostólica do Papa Francisco Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho). Ela trata do anúncio do Evangelho no mundo atual. A alegria é a característica que tonifica e perpassa todo este documento. A palavra “exortação” quer dizer: trazer à memória, incentivar. É um programa que o Papa quer nos indicar para a caminhada da Igreja nos dias de hoje.
Sobre este documento, Frei Estevão fez a seguinte constatação: Quem diria que essa Exortação “Alegria do Evangelho” seria tão estudada e nos provocaria tanto? Não é uma teoria, mas sim um convite a continuarmos com alegria e perseverança a caminhada que ela nos propõe.
Irmã Terezinha convidou-nos a fazer a memória histórica, neste momento próximo ao centenário da Congregação, projetando novos caminhos na metodologia, como irmãs do povo. Que andemos juntas como aprendizes e não para ensinar.
Encerramos estes dias de reflexão e estudo com a leitura do discurso do Papa em Assis: “Um convite à Igreja a se despojar”.
Querida Irmã, estudemos a Exortação Apostólica Alegria do Evangelho. Vale a pena!
Comentários
Meu carinhoso abraço a todas/os
Um abraço a todas.
Eliza