As disputas territoriais entre proprietários de terra e povos indígenas no Mato Grosso do Sul é um assunto complexo e espinhoso, mas que precisa ser assumido com seriedade e compromisso pela sociedade e pelos órgãos responsáveis, pois se trata de uma questão que diz respeito à vida e à dignidade humana. A grande maioria dos acampamentos indígenas existentes na porção meridional de Mato Grosso do Sul foram formados em decorrência do processo de expulsão dos Guarani e Kaiowá de seus territórios tradicionais. Muitas dessas famílias foram introduzidas compulsoriamente nas Reservas Indígenas criadas entre 1915 e 1928, porém, parte dessas famílias permaneceu em áreas de matas, nos fundos de fazendas ainda não ocupadas pelas frentes de expansão.
Essa situação se agrava a partir do final da década de 1970, quando se tem no sul do Estado, a ocupação mais intensiva da terra, baseado no cultivo intensivo do trigo e da soja e na pecuária melhorada. Nesse processo, a presença indígena nas áreas de mata foi negligenciada, já que era comum práticas de expulsões e perseguições dos Guarani e Kaiowá dos seus territórios de domínio e ocupação tradicional, obrigando-os a se deslocarem forçadamente em direção às minúsculas e artificiais Reservas Indígenas criadas pelo Estado, cujas áreas não eram e nem são suficientes para a sobrevivência das famílias.
Dessa forma, para reconquistar seus territórios, muitas famílias indígenas passaram a montar acampamentos, como é o caso dos Guarani e Kaiowá do acampamento Apyka´i, no município de Dourados-MS, que há mais de quinze anos vem reivindicando seu tekohá (território). Nesse longo período de luta pela sobrevivência, entre ocupações e despejos, por vezes, essas famílias foram removidas para a beira de estradas, o que tem levado a situações extremas de violências e mortes por assassinatos e atropelamentos.
Atualmente, vivem numa pequena área de mata, (próxima à rodovia Dourados-Ponta Porã), onde, com muita dificuldade, procuram sobreviver.
As condições de vida degradantes ferem e afrontam a dignidade da pessoa humana. São homens, mulheres, crianças e jovens que mesmo invisibilizados e desprezados pela sociedade continuam lutando pelo direito de reaver o seu tekohá. Os acampamentos como o de APYKA’I mostram a realidade desumana em que vive o povo Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul, que apesar das condições de extrema miserabilidade, abandono e descaso do governo brasileiro , com coragem e esperança resistem a todas as formas de ameaças, perseguições, violências despejos mortes.
Manifestamos nossa solidariedade e apoio às famílias que vivem no acampamento APYKA´I. Defendemos a suspensão imediata da ação de reintegração de posse em desfavor à comunidade Guarani e Kaiowá de APYKA´I. Esperamos que os órgãos competentes retomem imediatamente o processo de estudo para identificação e demarcação da área em litígio, garantindo às famílias o direito ao seu tekohá. E que essas famílias não sejam, mais uma vez, despejadas e jogadas às margens da BR 163.
Dourados, 13 de maio de 2014
AGB Seção Dourados
ADUFDOURADOS
CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS CATEQUISTAS FRANCISCANAS
Comitê de Defesa Popular
CIMI
Comentários
Ouçamos o Grito da Terra, da Vida ferida dos povos indígenas e populações tradicionais. Que a Teimosia, a Resistência, a Esperança dos povos indígenas, nos reative as forças e nos irmane a avançar em nossos projetos missionários. Estar com eles é alimentar a certeza de que a verdade e a justiça prevalecerão aos pobres, humildes e excluídos." Não tenham medo...."