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06 Junho 2014
Vem, Divina Ruah! E faze-nos vibrar e bailar sob tua Luz e tua Paz!

A celebração do acontecimento Pentecostes traz à nossa memória vários textos bíblicos onde se fala da efusão do Espírito sobre o Povo de Deus. A narrativa lucana serve-se de esquemas que já eram utilizados no Primeiro Testamento. Em Atos, a vinda do Espírito é apresentada cinquenta dias após a páscoa a fim de fazê-la coincidir com a festa judaica de Pentecostes, quando o povo judeu celebrava o dom da Aliança no Sinai, configurada na entrega da Lei a Moisés. Conforme Êxodo 19, cinquenta dias após o povo ter saído do Egito Deus fez com ele uma aliança, entregando-lhe, por meio de Moisés, a Lei. Tal evento foi acompanhado de trovões, relâmpagos e som de trombeta. Esse fato é utilizado em Atos como paradigma do Pentecostes cristão: cinquenta dias após a Páscoa, estando os discípulos e discípulas reunidos em Jerusalém, houve um barulho muito forte, como o rebentar de forte ventania e línguas de fogo pousaram sobre eles e elas (Cf. At 2, 1-2). A narrativa lucana quer enfatizar que, naquele momento, em Jerusalém, se realizava a Nova Aliança e se constituía o Novo Povo de Deus. Porém, daí para frente, a Nova Lei é o Pneumatikon, o Espírito, que se derrama com sua dynamis, ou seja, com força de dinamite e de ventania incontrolável.

A narrativa lucana se inspira ainda em Números 11,10-30, onde se diz que Deus repartiu o seu Espírito sobre Moisés e os setenta anciãos para ajudá-los a organizar o povo. Na ocasião, Moisés expressou o desejo de que todas as pessoas do acampamento recebessem o Espírito e também se tornassem profetas e profetizas (v.29). Para Lucas, esse mesmo Espírito, que também plenificou Jesus e o habilitou para a missão (Cf. Lc 4,18), é o mesmo que se derrama sobre toda a comunidade cristã no dia de Pentecostes. E para fundamentar sua narrativa, logo em seguida Lucas não hesita, em Atos 2, 17-18, em recorrer à profecia Joel 3, 1-2:

“...O Senhor diz ao seu povo: naqueles dias eu derramarei o meu Espírito sobre todas as pessoas. Os filhos e as filhas de vocês anunciarão a minha mensagem; os anciãos e as anciãs sonharão e os jovens terão visões. Até sobre os escravos e as escravas eu derramarei o meu Espírito”. (Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje).

Proponho olharmos mais de perto este texto e tirarmos algumas conclusões para a nossa realidade pessoal, como também para a realidade de nossa já centenária congregação.

O texto do profeta Joel é impactante, provocativo, revolucionário e inovador, justamente pelo fato de apresentar uma inversão de realidades que fugia à lógica de sua época e seu contexto: tanto os filhos quanto as filhas são apresentados com a mesma capacidade e autoridade de falar em nome de Javé; e não só: as escravas e os escravos também poderão dirigir ao povo sua palavra profética, coisa impensável no contexto do sistema escravagista patriarcal dos impérios da época do profeta e daquela de Lucas. No mundo grego mulheres, filhos, escravos, animais e terras, constituíam a propriedade privada do senhor patriarcal, que tinha o direito de dispor de todos como lhe aprouvesse. Da palavra famulus, que significa escravo, se origina a palavra família, que significava o conjunto dos escravos e escravas pertencentes ao paterfamilias, inclusive as mulheres e os filhos. Voltando para o contexto de Joel, sua palavra profética defende e anuncia igual dignidade e direito de cidadania tanto aos filhos e filhas, como aos escravos e escravas. Para ele, o Espírito explode (dinamita) as bases da sociedade escravocrata patriarcal e promove uma nova organização social, política e religiosa inclusiva e libertadora.  

Entretanto, o que mais me chama a atenção no texto de Joel inserido na narrativa lucana é que os/as jovens têm visões e os anciãos e anciãs sonham. É mais comum considerar normal que jovens sonhem e que pessoas idosas tenham visões. A cultura patriarcal não considera que experiências de jovens podem ser valiosas no contexto sociorreligioso, como também no campo da política e da economia. E raramente valoriza experiências de pessoas idosas, já que a maioria é descartada como força de trabalho que não produz mais, sobretudo para o mercado de consumo. O texto bíblico inverte essa ordem: jovens podem ter visões, utopias, e proferir sua palavra profética sobre a realidade, contribuindo, assim, para instaurar uma nova sociedade a partir de outros parâmetros. E pessoas idosas podem sonhar e acreditar que a construção de outro mundo, outra realidade, ainda é possível, mesmo quando essa realidade é carente de esperança e de dynamis transformadora. É justamente nessa realidade que o Espírito se apresenta como dinamite, fogo, ventania, sopro vital.

Alessandro Pronzato, em seu livro “Las mujeres que encontraron a Jesús”, quando menciona Maria Madalena indo apressadamente ao túmulo na madrugada da Páscoa, diz que o sonho e o coração de Madalena corriam mais velozes que seus pés, pois sua intuição e fantasia lhes diziam que algo novo estava acontecendo. De fato, o novo, a transformação, só pode acontecer onde o sonho e a fantasia não são sufocados. Libertar sonhos e fantasias é próprio de quem não se entrega às derrotas, mas se deixa conduzir pelo Espírito, a Ruah Divina, que faz anciãos e anciãs sonharem e jovens explicitarem suas visões e perspectivas de futuro...

A partir do texto de Joel, neste momento histórico de nossa congregação podemos então nos perguntar como estão nossos sonhos e utopias; como está a vitalidade do amor primeiro, a dynamis do Carisma que abraçamos? Deixamo-nos conduzir pelo Espírito ou nos acomodamos e já nem temos mais fantasias e utopias Carismáticas? (humanitárias, francisclarianas, é claro).A palavra “espírito”,nas religiões antigas, aparece ligada ao vento, à respiração e à energia. “Ruah” em hebraico (na língua hebraica Ruah é feminino: na gramática, na simbologia e na onomatopeia); “pneuma” em grego; “spiritus” em latim; “qi” (ou “chi”) em chinês; “prana” em sânscrito... São palavras que se referem a “alento vital”, “sopro de vida”, “vibração energética”, e estão ligadas à respiração. Nesse sentido, soltar a energia que está presa, estagnada dentro de mulheres e homens, sejam jovens ou idosos, como sugere o profeta Joel, é sinal do movimento da Ruah. No relato da Criação em Gênesis 1,1 se diz que a Ruah Divina vibrava sobre as águas (simbolizada em uma ave-pomba que choca a vida sobre o mundo caótico, fazendo nascer a harmonia de todo o universo).Na língua e simbologia hebraica é o grande útero originário que fecunda tudo quanto existe; tudo é amorosamente acolhido, pacientemente fecundado e gestado neste grande ventre cósmico da Divina Ruah. Alento, sopro, vento, respiração, força, luminosidade, vibração, são vocábulos relacionados à Ruah, ligando feminilidade, maternidade, vitalidade, aconchego, ternura, carícia. Seu calor gera harmonia no caos, aquece tudo o que é frio, faz vibrar energias estagnadas, traz à luz a beleza e originalidade de cada criatura, proporcionando a cada uma o espaço necessário para desabrochar e potencializar seu ser. É nessa relação amorosa que cada criatura vai encontrando seu sentido e identidade.

A partir destas considerações, sugiro que cada uma de nós faça sua reflexão e tire conclusões para a própria vida e para a congregação:

  1. Abrimos, de fato, espaço em nosso ser e em nossa congregação para que a Divina Ruah faça seu paciente e amoroso trabalho de gestar e fazer nascer uma nova dinâmica, uma nova realidade? Que sinais que podemos constatar no decorrer deste centenário? Como podemos concretizar e expressar isso simbolicamente?

Que a festa de Pentecostes seja um momento propício para intensificarmos a dinâmica da Divina Ruah em nossa vida e na congregação.       

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Irmã Alzira Munhoz

Comentários  

#2 Maria Fachini 16-06-2014 01:22
Lindo e alentador seu texto Alzira! Você nos lembra temas que, por não os termos vivos em nosso cotidiano, às vezes desanimamos, discriminamos, excluímos, estratificamos, muitas vezes, para nos escondermos e nos eximir do compromisso - tudo o que o Espírito profético não deixaria acontecer. O sonho não tem prazo de validade; a coragem de recomeçar não tem idade; bem como a sabedoria e a experiência não estão atreladas a uma fase da vida! Os valores não têm gênero, nem classe!
Obrigada por sua fecundidade, Alzira! Obrigada pela lembrança provocativa!
#1 Marilete 09-06-2014 01:23
Parabéns Alzira. Gostei de aprofundar a Festa de hoje, através do texto Divina Ruah! Claro, profundo e didático.
Que possamos fazer pacientemente esta experiência, no nosso contexto diário.
Abraços:
Marilete

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