“Toda vocação exige sempre um êxodo de si mesmo para acertar a própria existência em Cristo e no seu Evangelho” (Papa Francisco).
Minha vocação nasceu no seio da própria família, de origem simples, humilde, mas de uma profunda vivência religiosa no meio e na vida da comunidade.
Logo que nasci, minha mãe com os 4 filhos foi morar na casa dos meus avós maternos, pois meu pai falecera quando minha mãe estava no terceiro mês de minha gestação.
Minha avó, mulher de forte devoção mariana, nos educou na fé com seu testemunho e vida de oração: rezava terços, novenas e quando tinha missa na comunidade não faltava. Toda essa vivência me direcionava para Deus e para a missão evangelizadora. No entanto, ainda não sentia dentro no peito, nenhuma intenção de seguir a consagração religiosa como freira.
Como toda jovem da minha época, tinha muitos sonhos tais como: estudar, trabalhar e me tornar um dia... assim como minha tia e mais tarde a minha irmã também, independente! Nunca, nem de leve, pensei seguir a vida como “religiosa consagrada”. E assim meus projetos eram sonhados e arquitetados, mas Deus traçava para mim outro caminho!
Participei da catequese em preparação à primeira eucaristia e depois à crisma. Durante esse processo, fui me envolvendo, participando ativamente no grupo de jovens, Legião de Maria e auxiliando minha tia na catequese. Até aí tudo bem! Vivia como qualquer jovem da minha idade achando estar tudo sob controle. Participando das formações para catequistas, cheguei a conhecer muitas irmãs de diferentes congregações e sempre, a cada novo encontro, procurava me aproximar delas, sentar sempre perto, mas passava distante de meus ideais “ser freira”.
Num determinado encontro desses, certo dia, uma irmã me interrogou: “Você quer ser uma irmã?” Como eu estava com a cabeça fluindo em sonhos e arquitetando projetos na direção de tornar-me um dia independente, achei meio estranha aquela interrogação dirigida a mim... Porém, mais estranho ainda foi daí em diante eu questionar a mim mesma sobre o que de fato queria para minha vida. Qual mesmo seria a minha vocação? Sentia-me tão bem na comunidade, vivia alegre, feliz na convivência junto àquelas pessoas, tinha minha vida de oração pessoal; no entanto passava, agora, a sentir um estranho vazio e meu coração inquieto desejava algo mais concreto.
Depois, fui morar com minha irmã em outro Estado, e lá continuei procurando conhecer mais congregações existentes naquela diocese, suas histórias, seu carisma e passei a me comunicar com elas.
Dentre as opções de vida, senti que estava tocada pela vocação à vida Religiosa Consagrada. Inicialmente, fiquei com dúvidas. Porém, o desejo de viver para o Evangelho e a comunhão com Deus, dava-me certeza e me impulsionava a buscar e a conhecer essa vida mais de perto. Essa certeza me dava profunda alegria, cessando as dúvidas!
Entre as congregações que conheci, havia as Irmãs Catequistas Franciscanas. Encantei-me pela espiritualidade e missão de viver e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo como fez Francisco e Clara de Assis!
“Ao nos chamar, Deus diz: - És importante para mim; Amo-te; Conto contigo! ”.
Deste chamado nasceu a alegria. Senti o momento no qual Jesus olhou para mim! Compreender e sentir isto foi e continua sendo o segredo da minha alegria! Sentir-me amadapor Deus, sentir que para Ele não sou número, mas sou pessoa, é sentir que Ele me chama!
Celebrei, com a irmandade e comunidade paroquial, vinte anos de Vida Religiosa Consagrada, em fevereiro de 2020. Trago presente no meu coração o Evangelho de João: “Não fostes vós que me escolhestes, fui Eu que vos escolhi! ” (Jo 15,16). Estas palavras recordam que a vocação é sempre uma inciativa de Deus. Foi Cristo quem ME chamou a segui-Lo na vida consagrada. Isto significa realizar constantemente um “êxodo” de mim mesma para me centrar na vida de Cristo e do seu reino, fazendo a vontade de Deus, despojando-me dos “meus projetos” pessoais e ser instrumento realizador do projeto DELE! Sou feliz!
Hoje, como irmã Catequista Franciscana, presto trabalho como supervisora no Programa “Criança Feliz da Primeira Infância” no SUAS com as famílias vulneráveis e quando possível, auxilio na Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Vitorino Freire - Diocese de Bacabal, MA. Nessa missão, encontro o rosto do Cristo pobre, sou agraciada com partilha de vidas, com novos amigos e muito aprendizado que vão suavizando a busca constante por dias promissores de justiça e cidadania.
Como disse Santa Clara: “Que sejamos ponte que liga os que têm de sobra com aqueles que sentem falta de tantas coisas”. E assim, alegre e confiante, com a bênção da Divina Ruah, caminho fortalecida, prosseguindo sempre mais a serviço da vida e da missão confiada a mim, superando barreiras.
Vitorino Freire/MA, 30 de julho de 2020.
Irmã Jovenilde Alves Neves