“Não perca de vista seu ponto de partida” (2CtIn 3,4)
Sou Irmã Irmã Terezinha Boni, e vou partilhar um pouco de minha vida. Deus me colocou em uma família simples e muito religiosa. Tínhamos apenas o necessário. Minha mãe sempre dizia “O pouco com Deus é muito. O muito sem Deus é nada”. Sou a terceira no meio de 8 filhos. O primeiro e o último são homens e, no meio, 6 meninas. À noite, depois da janta, todos ao redor da mesa, o pai rezava o terço e nós respondíamos. Aos domingos e dias santos, todos participávamos da missa e à tarde da catequese com bênção do Santíssimo. Desde cedo, todos trabalhávamos na lavoura. Próximo à casa, tinha espaço para jardim e horta. Quando entrei na escola, gostava de cultivar flores e aos sábados as levava para as irmãs enfeitarem o altar.
As irmãs catequistas foram minhas professoras desde o início. No final do terceiro ano primário, disse para meu pai: “Quero estudar o 4º ano”. Ele perguntou: “Para quê?” – “Quero ser irmã!” Ele me olhou sério, mas não respondeu. No ano seguinte, continuei estudando e esperando para que esse sonho se realizasse. Em 8 de fevereiro de 1952, saí de casa com meu pai. Minha mãe e meus irmãos choravam e eu também. Minha mãe dizia: “Será que filho de brasileiro pode ficar padre ou irmã?” Pernoitamos em Agronômica e, na manhã seguinte, fomos de trem até Ascurra.
No dia 9 de fevereiro de 1952, chegamos em Rodeio. Quem nos acolheu na portaria foi minha professora da 4ª série. Enquanto meu pai conversava, fui ao encontro da multidão de adolescentes que lá estavam. Umas 120. Meu pai se despediu e eu fiquei. Não foi fácil. Mas eu pensava: Se tantas conseguiram, eu também vou conseguir. Quando se tornava difícil ia na Capela e me colocava diante do Sacrário, pois lembrava que a irmã que nos preparou para a Primeira Eucaristia dizia “Quando vocês entrarem na Igreja, vão diante do Sacrário, conversem com Jesus. Ele está lá esperando para escutar e ajudar”. Assim eu fazia. Chorava, rezava, pedia ajuda e ia adiante!
Sempre gostei muito do silêncio e de ler. No quarto ano do Normal Regional, iniciamos o postulantado, que durou seis meses. Em 1957, fizemos o Noviciado. Tempo forte de silêncio, oração e formação. No segundo ano de noviciado, fui para Machadinho/RS e lá trabalhei como professora. Em dezembro de 1958, voltamos para Rodeio para os últimos preparativos para a Profissão, que aconteceu no dia 14 de janeiro de 1959. Trabalhei como professora por 25 anos. Fazia os trabalhos de casa e o serviço pastoral, visitas às famílias. Sempre gostei de servir, onde fosse preciso.
Nas férias, participei de projetos missionários no Maranhão, Alagoas, Bahia, Mato Grosso e Duque de Caxias. Quando me aposentei na escola, escolhi vir para cá, Imbariê, no Rio de Janeiro. No dia 4 de abril de 1986 foi aberta a fraternidade. Aqui nos dedicamos à formação e acompanhamento de pequenas comunidades, que em 1993 formaram a Paróquia Santa Clara de Assis.
Neste espaço de tempo, esse meu povo me enviou para Alagoas, Araguaína/TO, Paraguai e República Dominicana e, depois de um tempo, me acolheu de volta. Sou muito agradecida a Deus pelas pessoas amigas que encontrei. Hoje às vezes fico triste quando percebo que já não consigo fazer muitas coisas, mas ainda consigo contribuir com a vista aos doentes, a preparação dos pais e padrinhos para o batismo e o cuidado com o jardim da Comunidade Jesus Crucificado e do Centro Pastoral, a fabricação do sabão caseiro Amigo da Natureza. Gosto de cuidar das flores. Elas embelezam, perfumam, alegram a vida da gente e nelas podemos contemplar em suas variadas cores e formatos a grandiosidade e presença de Deus.
Nessa caminhada de 62 anos de Vida Religiosa Consagrada, senti muito a presença de Deus nas pessoas e admirei simplicidade e a vida de oração da Santa do meu nome e Santa Clara que em sua decisão e firmeza ilumina nossos caminhos. Hoje, muito me alegro em servir em uma Paróquia Clareana, juntamente com nossos irmãos franciscanos. Toda rosa tem seus espinhos, mas vale a pena. Vamos em frente até que Deus quiser!
Irmã Terezinha Boni
Maio de 2022
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